A Biblioteca Pública do Paraná (BPP), a maior do Estado e considerada uma das mais eficientes e importantes do País, tem em seu acervo cerca de 350 mil livros. Apesar desse número vistoso, ela não prima pela atualização dos títulos oferecidos ao público, especialmente no que diz respeito à ficção. Debatendo-se com a falta de dinheiro -o que não é novidade para os órgãos do governo-, recebe permanentes doações da comunidade, mas o material que chega passa longe do que se poderia chamar de obras atualizadas.
A diretora da biblioteca, Marilena Millarch, concorda que é difícil nutrir as prateleiras com títulos recém-lançados, como seria o caso, por exemplo, do polêmico "Memórias das Trevas", do jornalista João Carlos Teixeira Gomes, que mostra os caminhos trilhados pelo senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA). À dura realidade do caixa em baixa, junta-se ainda outro fator: o preço do livro no Brasil é muito alto. Para a diretora, este é um produto apenas para "uma minoria, que pode se dar ao luxo de entrar numa livraria e comprar os últimos lançamentos e aquilo que lhe interessa."
Com a contenção de despesas que o estado vem fazendo, o que já era uma pedra no sapato tornou-se algo ainda mais incômodo. "É sabido que o orçamento do estado está sendo encolhido, então não podemos atualizar o acervo. Ficamos na expectativa das doações", afirma Marilena. O problema para aquisição de obras tem outras variantes, próprias do cipoal burocrático. Para o estado, o livro é considerado material permanente, portanto não há verba específica para ele.
A BPP tenta driblar a situação adquirindo livros de acordo com o dinheiro que entra das fotocópias, multas pelo atraso na entrega dos empréstimos e taxas diversas. Nos últimos quatro anos, foram destinados apenas R$ 30 mil para as aquisições literárias. No ano passado foram exatos R$ 8.586,00, que resultaram na compra de 400 livros. As editoras não colaboram remetendo livros como gentileza? "Não, mas a gente tem que entender isso. Se você vende uma coisa, não vai distribuí-la. É uma questão de lógica comercial", responde.
Praticamente todos os dias novas obras são depositadas nos balcões da biblioteca, ofertadas pela comunidade. Algumas vezes são lotes com centenas de volumes vindos de bibliotecas particulares que foram desmontadas. O procedimento básico tomado pela casa é selecionar o que pode ser útil para a sede da BPP e o restante é repassado para as bibliotecas municipais do interior do estado, de acordo com as necessidades de cada local. "Temos cadastradas quase 340 bibliotecas", explica a diretora.
Não é possível estabelecer os gêneros literários que a população entrega à BPP. Tem de tudo, desde livros técnicos dos mais primários a coleções completas da Enciclopédia Barsa editadas em inglês. "Os pais compram coleções de pesquisa para os filhos e, quando eles crescem, esses volumes ficam sem utilidade, além de perder um pouco a atualidade. Temos muitas doações nesse sentido", conta Marilena. Há também profissionais que se aposentam e fecham seus escritórios, como acontece com os advogados. É comum essas bibliotecas terem o mesmo destino.
Marilena observa que o universo de interesses do público leitor é o mais amplo possível. Sempre haverá alguém buscando este ou aquele título. É claro que aí se incluem lançamentos recentes, e a falta deles de algum modo afasta parte da clientela. A diretora concorda: "Não posso jurar, mas acredito que isso acontece. Aquele que vem com frequência, que lê bastante e vem à procura de novidades, muitas vezes não irá encontrá-las. Naturalmente essa pessoa vai sair um pouco decepcionada e talvez não volte tão cedo."
Porém, nem tudo está perdido. "Conseguimos comprar algumas coisas. Não é o desejável, mas o mínimo necessário a gente tenta adquirir", contemporiza Marilena. Entretanto há uma avaliação prévia sobre aquilo que será comprado, porque o leque de opções vai além dos meros romances. A escolha recai sobre os mais diversos gêneros: tanto pode ser uma biografia, ficção "e até mesmo livro de referência, desde que seja importante".
Num contraste à economia de guerra, a casa abre-se às assinaturas dos principais jornais e revistas do País. "É uma forma de compensar pelo menos no sentido da informação, não do lazer", avalia a diretora. A opção, contudo, não é aleatória. Ela se baseia na frequência do público do setor de Documentação Paranaense, onde se encontram os periódicos.
É difícil precisar o movimento em números exatos, mas é comprovada a presença diária dos leitores que procuram a BPP unicamente para se inteirar das notícias do dia. A sala é uma das que registram maior fluxo de visitas. "Temos um número muito grande de pessoas que vêm todo dia para ler jornais e revistas. É uma forma de se atualizar, realmente. Há também muitos pesquisadores que desenvolvem trabalhos ao longo de dias, meses, alguns passam até de um ano para outro", conta Marilena.