"Minha filha, o que fizeram com você?" Quarenta e cinco dias depois do atentado que tirou a vida da vereadora do PSOL Marielle Franco (1979-2018), essa foi a pergunta que Marinete Silva, mãe da parlamentar, mandou por WhatsApp para a filha.
A mensagem é mostrada no primeiro episódio do documentário "Marielle - O Documentário", produção da Globoplay que vai ao ar na Globo na próxima quinta-feira (12), depois do Big Brother Brasil 20. Os demais cinco episódios do projeto estarão disponíveis para assinantes na plataforma de streaming.
A obra, que pretende contar a vida e a morte de Marielle, é lançada às vésperas dos dois anos do assassinato da vereadora e que até hoje não está esclarecido. Vereadora do PSOL no Rio de Janeiro e ativista de direitos humanos, Marielle Franco foi morta a tiros em 14 de março de 2018, com seu motorista Anderson Gomes, no centro da capital fluminense, após sair de um debate sobre oportunidades para jovens negras.
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O policial militar reformado Ronnie Lessa e o ex-PM Élcio de Queiroz foram presos, acusados de participação no crime. O Ministério Público do Rio de Janeiro quer que eles sejam levados a júri popular. A Polícia Civil ainda apura, sob sigilo, a existência de mandantes do crime.
SÉRIE DE FICÇÃO
Além do documentário, a Globoplay anunciou nesta sexta-feira (6) uma série de ficção sobre Marielle, idealizada por Antonia Pellegrino, roteirista, diretora e amiga pessoal da vereadora. A produção, baseada em sua vida e no seu assassinato, será desenvolvida pelo diretor José Padilha, em seu primeiro trabalho com a Globo, e pelo roteirista George Moura. A previsão é que a série tenha oito episódios e seja exibida em 2021.
No documentário, o objetivo é mostrar as várias facetas de Marielle, e não apenas o seu lado mais conhecido, como política e ativista dos direitos humanos. Em entrevistas com familiares e amigos da vereadora e de Anderson Gomes, a produção procura mostrar o lado humano da tragédia. "Por mais repercussão que o caso tenha tido, é a história de uma mãe que perdeu a filha", diz o diretor Caio Cavechini.
Para contar essa história, além das entrevistas e imagens de arquivo, como a festa de 15 anos de Marielle, o documentário mostra mensagens de texto e áudio de WhatsApp que foram trocados por ela e por Gomes com amigos e parentes.
No primeiro episódio, o público conhece uma Marielle que pede bênção para a mãe e que, pouco antes de ser assassinada, diz que quer voltar rápido para casa para cuidar da mulher, Monica Benicio, que não estava se sentindo bem.
Além de seus passos no dia do atentado, o capítulo perpassa um pouco da trajetória de Marielle, nascida e criada no Complexo da Maré, uma das regiões mais violentas do Rio, e quinta vereadora mais votada nas eleições municipais de 2016.
Os outros episódios vão abordar a repercussão do atentado e todas as linhas de investigação do caso. Delegados, promotores, policiais, jornalistas e outras pessoas que de alguma forma estão ligadas ao caso são entrevistadas.
Erick Brêtas, diretor de Produtos e Serviços Digitais da Globo, afirma que o documentário não é uma investigação sobre o atentado, porque entende que esse não é o papel da obra. Mas ela faz um mergulho no inquérito e nas apurações e não se furta em apontar falhas e erros que podem responder a pergunta do porquê até hoje as causas do assassinato não foram esclarecidas.
"Marielle" é o primeiro documentário desenvolvido pelo jornalismo da Globo para a Globoplay. "Não existe nenhuma história mais importante hoje no Brasil do que a vida e a morte de Marielle", afirma Brêtas.
Para ele, o assassinato da vereadora nada tem a ver com ser de direita ou esquerda. "Essa questão opõe civilização e barbárie. Nós temos um lado, escolhemos a civilização e, por isso, resolvemos jogar luz sobre o caso."
Polêmicas como o depoimento do porteiro do condomínio Vivendas da Barra, que citou o nome do presidente Jair Bolsonaro no inquérito do assassinato, estão presentes no documentário, além de entrevistas com nomes, como o deputado Rodrigo Amorim (PSL), que rasgou uma placa em homenagem à Marielle.