A comemoração dos 70 anos de Londrina, festejada em dezembro de 2004, continua repercutindo através de manifestações variadas. Um dos desdobramentos da efeméride chega agora na forma de uma exposição que tenta resgatar a trajetória das artes plásticas na cidade. Intitulada ''Londrina Artes Visuais'', a mostra é inaugurada em 03 de agosto, às 20h30, na Casa de Cultura, reunindo obras de dezenas de artistas locais.
Há desde trabalhos de fotógrafos como José Juliani e Mário Cunha a pinturas de Good Camargo e José Gonçalves, esculturas de Yoshiya Nakagawara e Laerte Matias, gravuras de Paulo Menten e Iara Strobel e obras de poética híbrida de nomes como Fernando Augusto e Danilo Villa. A curadoria e coordenação geral da Mostra é de Carla Araújo Moreira, chefe da Divisão de Artes Plásticas da Universidade Estadual de Londrina.
''Não temos a pretensão de dar conta de toda a trajetória das artes em Londrina, mas apenas lançar um viés através de alguns fios condutores. Por isso, muitos artistas ficaram de fora, assim como outros tiveram trabalhos encaixados em até dois recortes temáticos. Esperamos que, a partir de nosso mapeamento, possamos potencializar outros olhares'' explica ela.
Os ''fios condutores'' agrupam-se em oito blocos expositivos: Corpo e Identidade, Imagem e Palavra, Olhar Lírico, Tramas Pictóricas, Poéticas do Tridimensional, Gravura em Londrina, Imagem e Memória: Fotografia; e Imaginário e Terra. Os dois últimos núcleos estarão instalados no Museu de Arte, parceiro da Divisão de Artes Plásticas da UEL na realização da Mostra. Os demais estarão no galpão e nas salas da Casa de Cultura.
O embrião da exposição remonta a 1993, quando foi iniciado um levantamento do percurso da produção artística local através de pesquisas em jornais da década de 50 e arquivos de instituições. Essa primeira etapa de trabalho durou dois anos, sob coordenação de Carla Moreira. Uma década depois, a pesquisa foi retomada e sistematizada em parceria com o Museu de Arte, estimulada pela diretora Sandra Jóia.
Numa etapa posterior, foram feitas visitas a ateliês, seguidas de entrevistas com artistas, críticos, professores e pessoas envolvidas na área. De acordo com a curadoria, a fotografia foi a primeira manifestação das artes visuais em Londrina. ''As artes eram incipientes nas décadas de 30 e 40'' salienta Carla. ''Os fotógrafos foram pioneiros em registrar os sonhos das pessoas que vinham para cá trabalhar na lavoura. Com um olhar sensível, documentavam o cotidiano e as cenas rurais. Na época, eles já se organizavam em grupo mandando trabalhos para fora''.
Ela lembra que a pintura foi o meio de expressão dominante entre as décadas de 60 e 80. ''É curioso porque, nessa época, a tendência internacional apregoava a superação da pintura de cavalete buscando a desmaterialização da arte, a ação e a pintura-idéia. Aqui ela seguiu incólume não perdendo o status''. Carla recusa a palavra descompasso para caracterizar o fenômeno. Para ela, o Brasil sempre manteve uma forte tradição com a pintura. ''Na verdade, a sintonia com os grandes centros internacionais ocorre apenas no eixo Rio-SP e em Belo Horizonte (MG)'' argumenta.
A curadora lembra ainda que os artistas sempre enfrentaram dificuldades para se estabelecer na cidade. ''Nunca houve espaço físico para exposições'' lamenta. ''Durante muitos anos, os trabalhos foram expostos em bancos ou lojas. Esse problema permanece até hoje. Não há lugares para exposições. O próprio Museu de Arte e a Casa de Cultura não são ambientes originalmente construídos para abrigar a produção artística. Aqui, tudo é adaptado e readequado. A pintura não tem a ressonância pública de outras artes, como a música ou o teatro. Passaram-se 70 anos e continuamos cavando espaço a unha''.
Na Mostra, a pintura integra o núcleo Tramas Pictóricas. Já o núcleo Corpo e Identidade, abriga obras que vinculam arte e identidade. No bloco Imagem e Palavra, os artistas elencados são aqueles que trabalharam a palavra também como um elemento da pintura. Em Poéticas do Tridimensional, privilegiaram-se obras feitas com ferro e solda para criação de objetos contemplativos. No núcleo Gravura em Londrina, destacam-se obras de artistas formados nos ateliês de Paulo Menten, Maria Ímola Lós e Cláudio Garcia.
A delicadeza e as reflexões sensíveis dos artistas têm espaço no núcleo Olhar Lírico. A produção fotográfica das décadas de 40, 50 e 60 poderá ser vista no núcleo Imagem e Memória: Fotografia. Fechando a Mostra, o núcleo Imaginário e Terra traz artistas que tematizaram ou trabalharam com a terra vermelha, um dos signos mais fortes da região. Para explicar cada um dos núcleos temáticos, foram capacitados 16 estagiários para atender às visitas monitoradas.
A Exposição, que permanece aberta até o dia 27 desse mês, foi viabilizada com verbas do Programa Municipal de Incentivo à Cultura (Promic) e Ministério da Cultura (Minc). Para o final do ano, está prevista a publicação de um livro-catálogo contendo reproduções das obras expostas, além de artigos e ensaios críticos.
Serviço:
Exposição ''Londrina Artes Visuais''
Inauguração no dia 03 de agosto, quinta-feira, às 20h30
Local: Casa de Cultura da UEL
Endereço: Rua Mato Grosso, 537, esquina com a Av. Celso Garcia Cid
Escolas interessadas em visitas monitoradas devem entrar em contato através do telefones (43) 3322-6844 e 3337-6238.