Enquanto naufragam gêneros comerciais, levando a pique os faturamentos e deixando gravadoras em pânico, o centenário choro vai vivendo um período de evidência, perto do passado – mas com um pé no futuro –, sem se tornar uma ‘onda’ mercadológica. Uma prova é o repertório de ‘Eternamente Choro’, do grupo Choro de Varanda, recém-lançado pelo CPC-Umes.
O conjunto surgiu em 1997 e traz uma estrutura com bandolim, violão de sete cordas, violão de seis, cavaquinho e percussão. Grande parte dos músicos se destacaram na década de 80, e a proposta é clara: seguir a tradição do choro, subdividida em ritmos como polcas, valsas, lundus, maxixes e schottisch.
A confluência é bem definida entre chorões do início do século com nomes contemporâneos, embora o repertório privilegie o passado: Há, por exemplo, ‘Batuque’ (Henrique Alves de Mesquita), de 1854, ‘Conceição’ (Joaquim Antonio da Silva Calado), do século 19, e outras. Mas também há espaço para ‘Simples’ (Hervê Cordovil), da década de 50, ou ‘Mimosa Flor’, uma polca inédita de Candinho do Trombone. O repertório ainda traz Anacleto de Medeiros, Pixinguinha, Mário Cavaquinho, Pedro Galdino e Altamiro Carrilho, entre outros.
Com arranjos tradicionais, o Choro de Varanda evita se aproximar do pop ou de outros gêneros, fato que vem se tornando comum principalmente no choro carioca. Se o grupo economiza na ousadia, mostra um arrojo instrumental bem fundamentado na presença de três ex-integrantes do Conjunto Atlântico: Fernando do Bandolim, Marco Bailão (violão de 6) e Clodoaldo (percussão). Já Clóvis (violão de 7) e Miltinho (cavaquinho) tocaram no Regional do Evandro e acompanham, há décadas, o flautista Carlos Poyares. ‘Eternamente Choro’ é um prato cheio para quem gosta do mainstream do gênero.
Outro disco dedicado ao estilo é ‘Na Chama do Choro’, com Arnaldinho & Família Contemporânea, também lançado pelo CPC-Umes. O estilo se distancia um pouco do Choro de Varanda pela jovialidade do cavaco de Arnaldinho e pela presença de um repertório mais contemporâneo. O Choro de Varanda é mais manemolente, enquanto Arnaldinho tem uma pegada rítmica mais acentuada, mais ligeira. Enfim, são mais dois bons discos para enriquecer a prateleira do choro.