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Miriam retirou os papéis da gaveta, folheou o projeto musical arquivado há cerca de dois anos e recordou-se do aniversário de 100 anos de Vinicius de Moraes. Para homenagear o artista, a cantora reuniu os colegas do grupo Chorus e propôs a criação de um espetáculo abrangente. Nasceu, então, "Sem Anos com S".
Vinicius de Moraes era mais do que um simples "Poetinha". Foi músico, compositor, dramaturgo, roteirista, ator, produtor, crítico, e acima de tudo, apaixonado. Casou-se nove vezes. Como bem definido por Carlos Drummond de Andrade, "Vinicius é o único poeta brasileiro que ousou viver sob o signo da paixão, quer dizer, da poesia em estado natural. Foi o único de nós que teve vida de poeta".
É numa casa localizada na zona leste de Londrina que sete cantores e uma pianista reúnem-se todos os dias para ensaiar uma verdadeira fusão entre teatro, música, dança e cinema e, enfim, dar forma ao espetáculo "Sem Anos com S". As diversas manifestações são apropriadas na celebração da obra de um homem que era boêmio por excelência. "Esse projeto se estruturou de uma tal maneira, que não vai ser o que o público está esperando da gente, que é aquela coisa mais dançada. Vai ser algo mais cênico, mais teatral", revela Miriam Hosokawa, uma das cantoras do Chorus. "Vamos surpreender as pessoas com um espetáculo bem diferente do que eles estão acostumados a ouvir", promete.
Durante os ensaios, o diretor teatral Nilson Violatto dá aulas de interpretação e orienta os atores estreantes. "A gente nunca teve algum texto para ser falado em um show. O diretor está trabalhando essa parte 'ator' para fazer o texto fluir sem ser algo mecânico", explica ela, completando que a dança, coreografada por Débora Crusiol, acontece de acordo com as sonoridades e, por isso, será um dos quesitos menos desafiadores do projeto.
Em uma hora e meia de espetáculo, os cantores-atores apresentarão três fases de Vinicius: boemia, amor à mulher e amizade. "Numa noite aqui na garagem, nos reunimos e fizemos um painel com recortes de tudo que nos remetia a Vinicius e fizemos uma colagem imensa para saber qual será a cor do espetáculo, a nuance, tudo o que vai permeá-lo. Trabalhamos os sentimentos e tudo que queremos passar com a nossa música", detalha a cantora.
Durante a turnê, as performances serão registradas em um DVD. Posteriormente, as cópias devem ser doadas a secretarias de cultura e escolas dos municípios visitados. Para o público, Miriam garante que o DVD será comercializado a preços populares. "A gente preza muito pela democratização e queremos fazer as apresentações em locais de fácil acesso para o povo". De acordo com ela, as entradas para os shows serão inteiramente gratuitas.
Com direção musical de Tania Silveira, o grupo formado por Ana Paula Schnorr, Mariana Fontoura, Thais Batista, Fábio Turi, Tiago Fuganti, Marco de Castro e Miriam Hosokawa faz pré-estreia no dia 19 de outubro, em Arapongas. Depois, os artistas saem numa turnê de 12 apresentações pelos estados do Paraná, Santa Catarina e São Paulo. Joinville, Marília, Presidente Prudente, Paranavaí, Maringá e Londrina estão entre as cidades confirmadas. As datas e locais serão anunciados em breve.
Recursos
O projeto "Sem anos com S" está sendo realizado com apoio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, mais conhecida como Lei Rouanet. O grupo está autorizado a captar R$ 462.912,00 de empresas ou pessoa física, mediante doações ou patrocínios. "Ainda não conseguimos apoio de nenhuma empresa. Estamos esperando o projeto gráfico ficar pronto para apresentá-lo aos patrocinadores, para que eles tenham a ideia do que vai ser o espetáculo", conta Miriam.
Samara Rosenberger
"Pretendemos buscar apoio das empresas de Londrina e região. Fizemos alguns contatos, mas ainda não temos nada fechado. Estamos na hora da morte, porque está tudo pronto, mas precisamos do essencial", finaliza.
O Grupo
Fundado pela musicista Tania Silveira em 1992, na cidade de Presidente Prudente (SP), o Chorus tinha a finalidade de cantar nas igrejas locais, com repertório erudito e sacro. Com quatro anos de idade, o grupo sentiu a necessidade de trabalhar com música brasileira. "Quando viemos para Londrina, tivemos a ideia de fazer cenas e dança para não ficar um grupo estático", afirma a pianista.
Radicado em Londrina desde agosto de 2001, o Chorus já foi premiado na China em 2010 e realizou turnê na América Latina, passando pelo Chile, Venezuela, Argentina e Uruguai.