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É pop-reggae, tá ligado?

13 jun 2006 às 14:07

Os tempos de fenômeno regional ou localizado, como queiram do gaúcho Armandinho estão ficando para trás. O contrato com uma gravadora multinacional, no caso a Universal Music, está colocando o cantor e compositor para tocar nas rádios de todo o país a música ''Desenho de Deus'' já desponta entre as mais pedidas de uma poderosa rádio de Frequência Modulada.

É a nona faixa do disco ao vivo em que Armandinho desfila seus sucessos plantados no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, com boa entrada também em Curitiba ele se apresentou em Londrina no final do ano passado, no Bar Amnésia.


A base do disco é o reggae que flerta com outros gêneros como o rock e baião. Tem ''oioiois'', ''nananas'' e outros maneirismos do ritmo projetado por Bob Marley, mas está longe e bota longe nisso de ser politicamente engajado. É, digamos, um pop-reggae.


''Meu reggae é praiano e veranista, feito pra namorar e divertir'', assinala. ''As pessoas que conhecem a cultura diz que meu som não é reggae, mas para o grande público é reggae sim. Eu quero apenas levar diversão'', completa o raciocínio entre frases corridas, às vezes intercaladas pela gagueira não muito acentuada quem o ouve cantar nem percebe a leve disfunção.


Bem, o disco. Dezenove faixas, a maioria colhida dos dois álbuns anteriores lançados entre 2002 e 2004 pela Orbeat, gravadora pertencente ao grupo RBS. Autoral, ''Ao Vivo'' é um produto despretensioso, mas não descartável. É admirável a vocação para hitmaker de Armandinho apesar de bobagens como ''Ursinho de Dormir''.


Para acompanhá-lo, convocou os seguintes músicos: Régis Leal (teclados e órgãos Hammond), Esdras Bedai (percussão e backing vocal), Maurício Coringa (guitarras, violão de nylon e backing vocal), Meco Dutra (baixo e backing vocal) e Rodrigo Sorriso (bateria).


Entre baladas e muito balanço, ''Ao Vivo'' faz sutis referências à maconha, ou ''erva doce da paz'', em ''Toca uma reggueira aí'' e principalmente ''Flor de Bananeira''.


As puritanos de plantão: Armandinho não faz alusão às drogas. Ao contrário, dispara conotações com algo que deveria ser descriminalizado de vez. ''Eu não fumo maconha e nem preciso dela para fazer sucesso. Há outras músicas no repertório do disco que podem fazer mais sucesso que 'Folha de Bananeira', por exemplo. Essa é uma história de pescador que diz que quando fumada a folha da bananeira é afrodisíaca'', explica. Então tá!


Ok, pulemos essa página. De fato há outras canções mais interessantes como a balada ''Sentimento'' (''Sentimento pra mim/ É documento de alguém que tem muito amor pra dar'') ou mesmo ''Analua'' que se aproxima, ao menos ritmicamente, do reggae, digamos, ortodoxo. As letras, no geral, falam mais diretamente aos jovens (''caguetou'', ''minas'', ''fissura'' e, claro, ''galera'' são termos aspergidos aqui, ali, acolá). Praia, mar, lua são temas recorrentes no trabalho desse gaúcho de 36 anos, há quatro morando na Praia Brava, localizada entre Itajaí e Balneário Camboriú (SC).


Para quem gosta de historinhas, lá vai um breve resumo da trajetória de Armandinho. Nascido em Santa Rosa (RS) e filho de pais apaixonados por música (das nativistas até Tom Jobim e Rita Rita Lee), Armandinho formou sua primeira banda aos 15 anos, três anos depois de compor sua primeira música e posterior sucesso ''Sexo na Caranga''. Foi parar nos bares da vida e pavimentou seu caminho, a princípio em Porto Alegre e depois em Florianópolis, cantando repertório de Djavan, Caetano Veloso, Gilberto Gil o lado pop desse tótens, diga-se.


Em 2000, projetou-se com ''Folha de Bananeira'', uma das músicas entregues por ele a um diretor da gaúcha Rádio Atlântida que botou pra tocar e daí já viu, né!? Gravou dois discos quase cem mil cópias comercializadas , ganhou popularidade na parte mais extrema do Sul do País até que a gravadora Universal Music resolveu apostar no rapaz. Juntos, disco e DVD recém-lançados firmam a imagem do dito cujo Brasil afora diz ele que no Orkut há uma comunidade com mais de 150 mil pessoas que o idolatram.


Já há quem rotule Armandinho de ''Jack Johnson brasileiro'' pela proximidade entre a música e o surf. ''Pratico esse esporte quase que diariamente. Eu me alimento bem, tenho um corpo bom e leve, enfim eu me cuido'', diz ele.


Armandinho parece ser um bom moço. Tão bom que assume ser seu ''Ao Vivo'' um projeto para dançar e não para pensar. A gravadora, as rádios e por extensão o público afeito apenas ao entretenimento sem firulas agradecem a atenção.

Serviço:
Disco e DVD ''Armandinho ao Vivo'', gravadora Universal Music. Preço: álbum (R$ 25,00 em média) e DVD (R$ 40,00, em média)


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