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Alexandre Nero fala de seus trabalhos no Grupo Fato e em carreira solo (pt 2)

06 mai 2002 às 17:33

Bonde: Quando você compõe, qual critério você usa para decidir se uma música é mais adequada ao Fato ou ao Maquinaíma?
Alexandre Nero: As músicas de meu disco solo jamais entrariam no Fato, porque ele é muito popular. O Fato tenta fugir disso o máximo possível, mesmo tendo influências de música popular, além de erudita, experimental, contemporânea, entre milhares de outras influências. Ouvindo o CD "Maquinaíma", você percebe que eu queria fazer um disco popular, com refrões, letras bem humoradas, trocadilhos bem sacados, com sonoridade mais eletrônica.

Bonde: Como você classificaria seu estilo nas duas bandas?
Alexandre Nero: Eu diria que o Fato faz canções populares com experimentalismos diversos do mundo todo, especialmente nos arranjos. Procuramos misturas inusitadas e não um ritmo puro. Mas fungindo de clichês. Já Alexandre Nero é um artista popular que grava um disco de compositor. Não me preocupei muito com o meu lado cantor em meu álbum solo.

Bonde: Quais as influências de Alexandre Nero & Maquinaíma?
Alexandre Nero: o que mais se destaca no disco são as poesias. As letras são trabalhadas de modo que se dê mais valor à forma do que ao sentido. Em seguida vem o fator eletrônico. Tudo o que tocamos foi reprocessado no computador. Inclusive vem daí o trocadilho da cultura brasileira (representada pelo personagem Macunaíma), passando pela máquina, resultando em "Maquinaíma". Por último, eu citaria o humor presente nas músicas. Num mesmo balaio eu colocaria o Tom Zé, o Paulo Leminski, o Lenine, André Abujamra, entre outros. Nos agradecimentos do encarte do disco, eu cito até Woody Allen, Carlos Careqa, Os Trapalhões e Ronie Von, que estão presentes em minha música, mas de uma forma diferente. Isso faz parte de mim e eu não renego. Eu apenas filtro.

Bonde: Alexandre Nero & Maquinaíma sempre foram uma coisa só? Ou o Maquinaíma já existia e depois se juntou a você para tocar?
Alexandre Nero: A banda foi formada com o objetivo de gravar este CD. Eu convidei músicos de diversas bandas para formar o Maquinaíma. A princípio, eu queria que este fosse o nome da banda, sem o nome "Alexandre Nero" aparecendo. Mas parei pra pensar e vi que seria hipocrisia fazer isso. Afinal eu concebi o projeto, escrevi as letras, compus os arranjos, escolhi os músicos, cantei, fiz tudo. Além disso, havia problemas burocráticos que me impediam tirar o meu nome do CD. Porque quando eu mandei meu projeto de disco para a famigerada fila de espera da Lei de Incentivo à Cultura, o nome que pus no CD era "Alexandre Nero". Pelo regulamento, eu não poderia excluí-lo. No fim das contas, achei que "Alexandre Nero e Maquinaíma" um bom nome.

Bonde: Vamos finalizar nossa entrevista tratando do Prêmio Saul Trumpet de música paranaense. Alexandre Nero esteve em evidência nos dois últimos anos, ganhando o prêmio de melhor cantor em 2001 com o Fato e em 2002 com o Maquinaíma. Qual a importância deste prêmio?
Alexandre Nero: É uma discussão que eu tenho inclusive no Fato e lá ninguém pensa igual sobre o Saul Trumpet. Particularmente, acho um prêmio como este importantíssimo, porque é uma das maneiras que temos de divulgar o trabalho, além de ser uma oprtunidade para as pessoas olharem pra nós. No entanto, eu vejo este prêmio como uma grande festa, semelhante a um churrascão entre amigos.

Bonde: Você diz isso por o público que o conhece ainda é pequeno?
Alexandre Nero: Sim. Ele é muito restrito. O ideal seria que fosse um grande evento. Mas a gente sabe que não é. Ele tem problemas. Não chega aonde devia chegar (ao público em geral) e tem deficiências na infra-estrutura. Mas eu o acompanho desde a primeira edição e notei que a cada ano ele tem melhorado, com exceção da última, que foi catastrófica. Foi o dia em que deu tudo errado. As pessoas estavam perdidas no palco e tudo estava desorganizado. Mas quando eu falo catastrófica, me refiro à cerimônia, e não à premiação.

Bonde: Claro, pois não se deve tirar o mérito de um prêmio apenas por que sua apresentação foi fraca.
Alexandre Nero: Concordo. Independente disso, o prêmio ainda tem muitas carências. Falta apoio, incentivo, dinheiro, equipe, idéias, responsabilidades. Os próprios artistas precisam comparecem ao evento, a imprensa precisa divulgá-lo e alguma empresa ou o governo precisa incentivar o prêmio para que faça com que os ganhadores recebam o prêmio em dinheiro. Apesar disso, eu luto pra afirmar que é um prêmio muito importante para que classe artística se reúna, pois ele tem pouca repercussão até mesmo em Curitiba.

Bonde: Você disse que também trabalha com teatro. A classe teatral de Curitiba tem uma premiação, que é o Prêmio Gralha Azul. O que você poderia citar de diferenças entre ele e o Saul Trumpet?
Alexandre Nero: As diferenças são enormes. O Gralha Azul tem incentivo financeiro do estado. Quem ganha o prêmio recebe em dinheiro. No Saul Trumpet não há como fazer isso sem que haja incentivo de uma empresa ou do governo. O Gralha Azul é sempre reprisado na TV e os vencedores aparecem em grandes matérias nos jornais. No último Saul Trumpet eu recebi quatro prêmios. Como resultado, saíram apenas pequenas notas na imprensa.

Bonde: Quando você ganhou os prêmios Saul Trumpet, o público passou batido por essa informação?
Alexandre Nero: Não. Apesar de ser pequeno o público que conhece o Saul Trumpet, eles levam o prêmio muito a sério. Uma coisa legal que eu vejo é que existe um culto em torno do prêmio por parte das pessoas que não são da classe artística. Muita gente me conheceu através do Saul Trumpet. Já é um grande avanço. Afinal, eu vivo desse público. É pra ele que eu toco e quero vender meus CDs.

>> O álbum "Maquinaíma" pode ser adquirido através do e-mail: maquinaima@bol.com.br


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