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'Led Zeppelin IV', disco de 'Stairway to Heaven', completa cinco décadas ainda relevante

08 nov 2021 às 10:36

Um dos álbuns mais amados da história, definidor do hard rock dos anos 1970, "Led Zeppelin IV" faz 50 anos nesta segunda-feira. É o disco que traz a canção "Stairway to Heaven", um ícone do gênero, e que transformou os quatro integrantes do Led Zeppelin em estrelas mundiais, cultuados até hoje.


Como acontece com praticamente toda grande obra, a produção de "IV" teve percalços, dúvidas e surpresas. Respeitadíssima, a banda havia estreado com dois bons discos de rock em 1969, mas o terceiro, de 1970, havia sido mal recebido pela crítica -embora não pelo público.


De "Led Zepellin III" foi escrito, por exemplo, que as canções pesadas eram muito cruas e parecidas entre si. E que o material folk não passava de imitação de Crosby, Stills, Nash & Young.


Assim que "III" saiu, Jimmy Page e Robert Plant começaram a compor novas músicas. Incomodada com as críticas, a banda desistiu de sair em turnê para promover o novo disco e se isolou numa casa de campo no sul da Inglaterra. Ali, entre jams e reuniões em frente à lareira, os quatro passaram o inverno, compuseram e gravaram as oito canções de "IV" entre dezembro de 1970 e fevereiro de 1971, com produção de Page.


O equipamento usado foi o famoso estúdio móvel dos Rolling Stones, montado na caçamba de um caminhão e que era alugado para outros artistas quando Jagger e Richards não estavam gravando.


Uma primeira mixagem foi descartada, e a segunda, feita em julho de 1971, deu certo. Talvez para responder às críticas sobre o anterior, Page enfiou na cabeça que o novo álbum não teria título e que o nome Led Zeppelin nem sequer estaria escrito na capa.


Em vez disso, cada membro do grupo criaria ou escolheria um símbolo. O de Page, que parece ter a palavra ZoSo estilizada sobrevive até hoje nas camisetas pretas envergadas pelos fãs. Para a imagem da capa, escolheram um quadro antigo que Plant havia comprado numa loja.


O título pelo qual o disco é conhecido, afinal, não é de verdade. É um apelido que segue lógica dos álbuns anteriores, que simplesmente traziam o nome da banda e números romanos. A gravadora tentou de todo jeito demover a ideia de lançar a obra sem o nome da banda estampado, mas Page segurou as fitas e só as entregou quando a Atlantic Records aceitou fazer como ele queria.


"Black Dog" abre o disco com potência, no estilo cantor gritando uma frase e guitarra respondendo com outra. O riff, complexo e com mudanças de tempo, foi escrito pelo baixista John Paul Jones. O cachorro preto do título se refere a um cão que rondava a propriedade onde a banda estava. Mas a letra de Plant pouco se refere a ele, preferindo desfilar lamentos sobre sexo e mulheres.


O mesmo se pode dizer sobre "Rock and Roll", que traz um riff clássico do gênero, inspirado em Chuck Berry. Já a empolgante bateria de John Bonham, que abre a música, é quase um decalque de "Keep A-Knockin'", de Little Richard.


Ian Stewart, o "sexto stone", que tocou piano em diversos clássicos dessa banda, estava "alugado" junto com o estúdio móvel e participa castigando as teclas em "Rock and Roll".


Uma segunda participação especial é a da cantora Sandy Dennis, da banda folk Fairport Convention. Ela e Plant fazem um dueto na delicada "The Battle of Evermore", inspirada num livro sobre as guerras de independência escocesa do século 14 que Plant estava lendo.


"Black Dog" e "Rock and Roll" saíram em compactos na ocasião, mas o que a Atlantic Records queria mesmo para o single era "Stairway to Heaven", a quarta canção do disco, que fecha o lado A.


Robert Plant, Jimmy Page, John Paul Jones e John Bonham nos anos 1970 Divulgação ** Plant depois contou em entrevistas que a banda não aceitou por duas razões. Primeiro porque queriam que a canção fosse ouvida no contexto do álbum. Segundo porque se os épicos oito minutos e dois segundos saíssem em compacto, provavelmente com metade de cada lado, o próximo passo seria uma versão condensada para facilitar que tocasse nas rádios.


Essa possibilidade horrorizava, com razão, a dupla. "Stairway to Heaven" é uma canção construída em três partes distintas, que não se repetem como numa música normal. Aqui, o primeiro movimento evolui para o segundo e depois ao terceiro, cada qual mais rápido, mais barulhento e mais empolgante que o anterior. Mexer nessa arquitetura seria um desastre anunciado.


Impressionados com as palavras que Plant escreveu -que não traz uma história, mas um mosaico de observações sobre a vida-, pela primeira vez o Led imprimiu a letra de uma música, no encarte de papel interno. "Desta vez, tínhamos o que dizer", disse Plant em uma famosa declaração. "Quando li as duas primeiras linhas que havia escrito, quase caí da cadeira", disse o cantor.


Segundo um biógrafo da banda, "Stairway to Heaven" foi a música mais pedida nas rádios americanas durante a década de 1970. A parte inicial da canção foi inspirada em "Taurus", faixa de 1968, da banda americana Spirit, com quem o Led Zeppelin excursionou nos anos 1960. Em 2016, uma ação contra os ingleses chegou a uma corte nos Estados Unidos, mas não teve sucesso.


O lado B de "Led Zeppelin IV" não acompanha a excelência do lado A. "Misty Mountain Hop" é uma canção esquisita e sem direção, enquanto "Four Sticks" não passa de um rock ordinário. "Going to California", no entanto, é uma das mais belas baladas que o Led Zeppelin já gravou. Inspirada por Joni Mitchell, de quem Plant era fã, traz um dedilhado envolvente e ensolarado.


O disco fecha com um cover de 1929, "When the Levee Breaks", de Memphis Minnie e Kansas Joe McCoy, que fala de uma enchente do estado americano do Mississippi em 1927. A banda retrabalhou a música -e teve a pachorra de assinar a composição ao lados dos veteranos. É um rock demolidor, com uma gaita assassina e maravilhosa, tocada por Plant, e que encerra de forma valente esse álbum tão especial.


"Led Zeppelin IV" vendeu 37 milhões de cópias no mundo desde 1971 e provavelmente vai continuar sendo ouvido pelos próximos 50 anos. Nada mal para um enorme zepelim que parecia ser mais pesado que o ar.

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