Julie faz um esforço titânico para criar seus dois filhos na distante periferia de Paris, enquanto mantém seu emprego em um hotel de luxo no centro da cidade.
No momento em que ela consegue uma entrevista para o trabalho que desejava há muito tempo, uma greve geral irrompe, paralisa todos os transportes públicos e coloca em risco o delicado (precário?) equilíbrio que a personagem havia construído.
Começa então uma corrida louca contra o tempo, e Julie não pode se dar ao luxo de vacilar. A partir desta trama, o diretor Éric Gravel entrega um filme de tirar o fôlego sobre uma mãe asfixiada pela alienação da roda viva entre o subúrbio e o centro da capital.
“Se você não quer mais limpar a m... dos ricos, não há lugar para você aqui”. Na hotelaria chique parisiense, quando um hóspede vai embora e deixa o quarto em estado lastimável, isto é chamado de “Bobby Sands”, referência a lendário preso do IRA que morreu em prisão irlandesa após greve de fome e de higiene. Mas para Julie, a protagonista do emocionante “Contratempos”, que tem que usar uma mangueira de alta pressão para limpar o banheiro destruído por um famoso cantor pop britânico, este é o menor de seus problemas em uma vida cotidiana que está rapidamente se transformando em pesadelo.
Esta mãe divorciada é apenas uma mulher comum entre muitas outras nos arredores de Paris, fazendo piruetas como trapezista sem rede de segurança entre sua vida profissional e a administração de sua casa (uma vizinha idosa para cuidar do casal de filhos, uma geladeira para abastecer, roupas para passar, crianças que precisam de um pouco de tempo, atenção e amor, a decisão de levar uma vida em um pequeno e distante bairro, etc).
Ela sobrevive entre contas, créditos, pensão alimentícia (que nunca aparece) e cheque especial, e é engolida pelo cansativo ritmo pendular de tentar chegar ao trabalho em Paris todos os dias, refém do bom funcionamento do transporte publico.
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