A 90ª edição do Oscar foi realizada na noite de domingo (4). Marcada por uma maior diversidade, principalmente entre os apresentadores, a cerimônia teve discursos políticos, mas não tantos quanto o imaginado. Logo no monólogo de abertura, o comediante e mestre de cerimônias deste ano, Jimmy Kimmel, deu o tom do evento. Piadas sutis e contidas, um humor muitas vezes neutro e sem tocar tanto na ferida escancarada pelas denúncias de assédio contra o produtor Harvey Weinstein e contra muitos outros atores, diretores, produtores...
"O Oscar é o homem mais respeitado de Hollywood. Vejam, as mãos sempre estão onde podem ser vistas, nunca é mal criado e não tem pênis. É, literalmente, um estatuto de limitações. É o tipo de homem que precisamos agora mesmo nesta cidade", disse o apresentador, arrancando risos da plateia.
O movimento "Time's Up", grupo criado para combater os crimes sexuais e lutar pela igualdade entre homens e mulheres em Hollywood, fez barulho nas principais premiações da temporada. Por isso, eram esperados grandes discursos e manifestações durante o principal evento do cinema americano, mas não foi bem assim. Ainda no tapete vermelho, as roupas pretas – utilizadas em forma de protesto – tiveram menos adeptas do que em outros eventos.
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A atriz Frances McDormand, ao receber o Oscar de Melhor Atriz, foi uma das poucas a fazer um discurso mais enfático e sério, pedindo para que todas as mulheres indicadas se levantassem para, em seguida, lembrar que não são só os homens que têm projetos a serem financiados.
POUCAS SURPRESAS
Como já era esperado, "A Forma da Água" foi o grande vencedor do Oscar 2018. Indicado em 13 categorias, o longa levou quatro prêmios, incluindo Melhor Filme e Melhor Diretor, para Guillermo del Toro.
Del Toro se tornou o terceiro mexicano a vencer como Melhor Diretor - todos receberam a estatueta nos últimos cinco anos. Alfonso Cuáron em 2013, por "Gravidade"; Alejandro Iñárritu em 2015, por "Birdman", e em 2016, por "O Regresso"; e agora Guillermo. Juntos, os cineastas são conhecidos em Hollywood como "los tres amigos".
Em seu discurso, o diretor falou sobre a importância de se "apagar as fronteiras", dizendo que "muros só vão piorar as coisas", em referência à proposta do presidente americano, Donald Trump, de construir um muro entre os Estados Unidos e o México.
Além de del Toro, o México teve uma presença importante na cerimônia. "Viva – A Vida é uma Festa", vencedor na categoria Melhor Animação, aborda a cultura mexicana. Ao receber o prêmio, os produtores do filme falaram sobre representatividade e sobre o país. O prêmio de Melhor Canção Original também foi para a animação, pela música "Remember Me". Em seu discurso, a compositora Kristen Anderson-Lopez chamou atenção para o fato de a categoria ser uma das únicas a ter mulheres representando quase 50% das indicações.
Nas outras categorias, também poucas surpresas. Além de Frances na categoria de Melhor Atriz, por "Três Anúncios Para um Crime", Gary Oldman levou o de Melhor Ator, por "O Destino de uma Nação", também já esperado. Nos coadjuvantes, também venceram os favoritos. Allison Janey, por "Eu, Tonya", e Sam Rockwell, por "Três Anúncios Para um Crime".
O cineasta Jordan Peele se tornou o primeiro negro a ganhar o Oscar de Melhor Roteiro Original, por "Corra!", favorito na categoria.
Em Melhor Roteiro Adaptado, James Ivory se tornou a pessoa mais velha a vencer um Oscar, aos 89 anos, pelo filme "Me Chame Pelo Seu Nome". O longa foi o único dos indicados à categoria a concorrer ao prêmio de Melhor Filme.
Uma das únicas surpresas da noite ficou por conta de "Icarus", vencedor na categoria de Melhor Documentário. O longa "Visages, Villages", da cineasta Agnès Varda, que aos 89 anos é a pessoa mais velha já indicada ao Oscar, era o grande favorito ao prêmio.
Até Kobe Bryant levou um Oscar para casa. O ex-jogador de basquete, junto ao animador Glen Keane, venceu o prêmio na categoria de Melhor Curta-Metragem de Animação, por "Dear Basketball". Bryant é roteirista e narrador do filme.
"UMA MULHER FANTÁSTICA"
O longa chileno "Uma Mulher Fantástica" se tornou o primeiro filme estrelado por uma pessoa transexual a vencer um Oscar. A produção, estrelada pela atriz Daniela Vega, levou a estatueta de Melhor Filme Estrangeiro, confirmando o favoritismo. Este foi o segundo Oscar do Chile, que já havia vencido em 2016, na categoria de Melhor Curta-Metragem.
A atriz também foi a primeira trans a subir ao palco como apresentadora na história da cerimônia. Daniela Vega anunciou o cantor Sufjan Stevens, que interpretou a música "Mistery of Love".
"AND THE OSCAR GOES TO..."
Depois da gafe do ano passado, quando houve uma confusão com os envelopes e a estatueta de Melhor Filme foi entregue ao filme errado, a Academia encarregou novamente Warren Beatty e Faye Dunaway de entregar o principal prêmio da noite. Os dois foram responsáveis por anunciar o vencedor no ano passado, quando aconteceu o erro. Mas, dessa vez, deu tudo certo. Nos envelopes, era possível ler em letras garrafais a categoria a qual ele se referia, para evitar erros.
Ao começo da cerimônia, Jimmy Kimmel anunciou um concurso: o vencedor que fizesse o menor discurso, ganharia um jet ski de presente. E foi assim que Mark Bridges, que ganhou a estatueta por Melhor Figurino, por "A Trama Fantasma", levou também um jet ski para casa.