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Confira a crítica

Em 'Um Lugar Silencioso', o silêncio é que mais fala

Mateus Reginato - Redação Bonde
06 abr 2018 às 17:14

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- Reprodução//IMDB
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Gritos fazem parte do imaginário popular quando falamos em filmes de terror. A maioria das produções do gênero aproveita a potência dos pulmões humanos para prestigiar a plateia com gritos. Na contramão, "Um Lugar Silencioso" mostra que qualquer barulho pode ser fatal, o que colabora para a tensão constante durante todo o longa.

A história se passa em um futuro pós-apocalíptico não muito distante, no qual a Terra foi habitada por seres hostis e com audição extremamente aguçada. Nesse cenário, a família Abbott, composta por pai (John Krasinski), mãe (Emily Blunt), filho (Noah Jupe) e filha (Millicent Simmonds), vive em silêncio absoluto em uma fazenda com milharal.

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Logo na cena inicial, o diretor e um dos protagonistas do filme, John Krasinski, define o perfil do longa. Somos jogados em meio à ação, sem espaço para didatismos. Uma ótima saída aos bem conhecidos filmes pós-apocalípticos. A família Abbott já está habituada à tensão diária. Andam descalços, nas pontas dos pés, comunicando-se por linguagem de sinais – até pelo fato de a personagem de Millicent ser surda, assim como a atriz.

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E é dessa forma, pela composição das cenas, que todo o cenário é estabelecido. Ao fundo, manchetes de jornais contam histórias, um quadro com anotações nos ensina sobre as criaturas, um movimento da câmera revela a gravidez da mãe. Essa agilidade justifica os 90 minutos do filme. Não há espaço para sobras, cada detalhe diz alguma coisa – principalmente o silêncio.

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Os dois primeiros atos do filme se passam quase inteiramente em meio a sussurros e a gestos dos personagens, com poucos sons. O roteiro, assinado por Bryan Woods e Scott Beck, com revisão de Krasinski, trabalha muito bem com poucas falas. Entre sussurros, gestos e detalhes cenográficos, as relações familiares são estabelecidas. O filho frágil, a filha teimosa e explosiva, a mãe protetora e o pai, "líder" do grupo.


A química entre os atores é evidente, principalmente os dois adultos, já que Krasinski e Emily Blunt são casados na vida real. Aliás, a atriz é o grande destaque, participante de cenas cruciais do filme sem o comum exagero em atuações de filmes de terror e suspense.

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A fotografia, assinada por Charlotte Bruus Christensen, também é um dos pontos de destaque do longa. Várias vezes o movimento da câmera revela elementos que serão importante em um futuro próximo. A imagem pouco saturada e com tons de amarelo, principalmente nas folhas e árvores, intensifica o clima já conhecido de um mundo pós-apocalíptico.


O design de som merece um capítulo à parte. O silêncio é o que mais fala durante o filme. É interessante notar que toda a sonografia é pautada no personagem que estamos acompanhando. Quando a filha está em foco, contemplamos o silêncio. É assim que, ainda no prólogo, descobrimos sua surdez. A câmera alterna do pai – com sons - para a filha – em silêncio.

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Essa perspectiva do som é bem notada durante uma cena em que os adultos dançam. A personagem de Blunt tira o fone de ouvido e o coloca em Krasinski. À medida em que o fone se aproxima dele, o volume da música vai aumentando. Acontece algo parecido com a filha surda. Até parte do segundo ato, são comuns ruídos abafados e sem qualquer identificação quando ela está em foco. Só mais tarde percebemos a causa: o mau funcionamento de seu aparelho auditivo.


Reprodução//IMDB
Reprodução//IMDB


O silêncio extrapola os perigos e adentra no drama familiar, no qual o não dito também se torna um problema, quando a não verbalização de sentimentos, por exemplo, afasta pessoas.

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O clima de tensão é constante. Desde o prólogo – digerido como um soco no estômago – até os atos finais. O cotidiano se torna absurdamente angustiante, qualquer ruído pode chamar a atenção dos seres que agora habitam a Terra. A simples ideia de um parto nesse cenário é tensa por si só, por exemplo.


Krasinski não resiste e apela, em algumas ocasiões, para clichês. Alguns dos sustos e situações do filme são previsíveis, mas nada que comprometa a experiência como um todo.

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O terceiro ato vem como uma bomba. Os níveis de tensão são elevados à máxima potência, com direito a referências a "Jurassic Park", de Spielberg, e a "Sinais", de Shyamalan – principalmente com o milharal. Também podemos lembrar de "Alien", de Ridley Scott, e a continuação "Aliens", de James Cameron, ainda mais no visual das criaturas.


Com "Um Lugar Silencioso", John Krasinski consegue unir uma premissa simples e originalidade, fazendo jus à recente leva de ótimos filmes de terror, com "Corra", "Corrente do Mal", "A Bruxa" e "Ao Cair da Noite". O diretor consegue aliar uma pegada artística, principalmente nos dois primeiros atos, com um final explosivo e emocionante.

Em Londrina, "Um Lugar Silencioso" é exibido no Shopping Boulevard, no Catuaí Londrina Shopping, no Shopping Royal, no Londrina Norte Shopping e no Aurora Shopping. Confira a programação completa aqui.


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