Há exatos 20 anos, o Disk MTV abria com "Californication", da banda californiana Red Hot Chili Peppers, na décima posição. Foi a primeira música anunciada por Sarah Oliveira, 41, na parada musical da antiga MTV Brasil (1990-2013), que marcou diversas gerações de apaixonados por música e cultura pop. "Eu lembro de tudo desse dia, da roupa que eu estava usando à felicidade interna que eu estava sentindo", contou a apresentadora à reportagem.
O convite para assumir o comando do programa havia vindo apenas uma semana antes, após ela entregar uma fita entrevistando bandas no festival Planeta Atlântida para a direção. A intenção dela, que já trabalhava no departamento de jornalismo do canal, era aparecer no vídeo fazendo reportagens. "Eles estavam fazendo testes escondidos porque a Sabrina [Parlatore, até então a grande estrela do canal] ia para a Band", disse. "Fiquei com o coração na boca. Eu sempre fui muito comunicadora, mas, sei lá, a gente tem uma inocência com 20 anos que te protege do erro e do medo."
O jeito "gente como a gente" acabou virando sua marca registrada e a identificação com o público jovem da emissora foi imediata. "Eu nunca fui cool [descolada]", avaliou. "Eu era a afetiva, a que abraçava e pegava." Sarah acabou sendo a VJ (como eram chamados os apresentadores da extinta emissora do Grupo Abril) que mais tempo permaneceu à frente do programa –quase cinco anos. "Eu só saí porque queria fazer algo que fosse fora do Disk", confessou. Ela continuou na emissora, onde também apresentou o Jornal da MTV e o Luau MTV.
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"Eu tenho muita história dessa época", afirmou. "A MTV era um caos e fez daquilo um negócio. Já fui chamada para intervir em briga do Chorão com João Gordo. Mas o que mais me marcou desse período foi ter ficado próxima da Cássia Eller (1962-2001). Ela fazia tudo sem precisar fazer nada, passava uma mensagem só estando ali, é algo super forte. A Rita Lee, que até hoje fala sim para tudo o que eu convido, também. Fora Arnaldo Antunes, Lenine, Caetano e Paula Lavigne, a Flora e o Gil... Tudo isso quem me trouxe foi a MTV."
Sem nenhum problema em ser lembrada até hoje por essa fase ("Mesmo na Globo eu era a Sarah da MTV"), ela avaliou o que faz as pessoas terem tantas saudades do espírito livre e transgressor do canal. "É a magia da memória afetiva que grita", contou. "Eu entrei na era de ouro da MTV. Tinha uma coisa de fazer uma televisão com verdade. Adoro o streaming porque também tem essa coisa despretensiosa. Eu continuo fazendo todos os meus projetos pautados nisso."
A celebração de 20 anos de carreira televisiva –ela ainda passou pelo Vídeo Show, na Globo, e emplacou projetos como Viva Voz, Na Trilha da Canção e Calada Noite no canal pago GNT– vai ser nesta sexta-feira (28), a partir das 17h, com uma live no Instagram, com a participação dos fãs e de convidados especiais (prometeram presença as também ex-VJs Marina Person e Didi Wagner e a cantora Pitty).
"A gente está nessa pandemia, é uma realidade muito dura, eu jamais ia me ligar nessa data", confessou Sarah. No entanto, diversos vídeos e fotos da época do programa começaram a pipocar na internet e fizeram a apresentadora se emocionar. "Eu chorei nesta madrugada", afirmou. "Surgiram vídeos que eu nunca tinha visto." "Olho pra trás e fico muito orgulhosa de seguir a minha premissa básica: de ser a mesma pessoa na frente das câmeras e detrás dela", comemorou. "Que bonito é poder mergulhar no universo do outro e me transformar. A gente está aqui para se conectar com o outro, senão a vida não tem sentido."