Após indicar livros progressistas em uma celebração religiosa e em suas redes sociais, o padre Júlio Lancellotti, 72, virou alvo de montagens e mensagens agressivas nos últimos dias. Nesta segunda-feira (31), ele relatou ter sido "bombardeado" pelas redes sociais, ligações no celular e recados no Whatsapp por jovens católicos que fariam parte de uma milícia.
"Manipulam e invadem em nome de um deus cruel e opressor", disse. "Hoje o dia foi denso e tenso".
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Entre os livros indicados estão "O Deus das vítimas", de Edevilson de Godoy, sobre a presença divina nos marginalizados; "Teologia e os LGBT+", de Luís Corrêa Lima, que reflete sobre a realidade dessa população na perspectiva da teologia; e "Deus e o mundo que virá", uma conversa do papa Francisco com o vaticanista italiano Domenico Agasso, repórter do jornal La Stampa e coordenador do site Vatican Insider, sobre a pandemia.
Em um dos ataques, uma montagem troca a capa do livro "Teologia e os LGBT+" por um catecismo anticomunista. "Católicos falsificarem imagem e produzirem fakes por ódio é lamentável. Além de crime", o padre afirmou.
Ao indicar o livro que aborda a questão LGBT+, o religioso mandou um recado para os "homofóbicos de plantão": "Nossas palavras podem salvar vidas ou podem destruí-las".
O padre é conhecido pelo trabalho que realiza junto à população de rua e já protagonizou cenas como a de quebrar a marretadas pedras colocadas pela prefeitura em um viaduto na zona leste de São Paulo como medida para evitar moradores de rua.
Na semana passada, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) postou em uma rede social uma foto com Lancellotti e escreveu: "Estou disposto a viajar o país para levantar a cabeça do nosso povo e dizer: esse país e nosso. Esse país não é o país do ódio".
Ao falar sobre o episódio, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) questionou a integridade de Lancellotti. "Colocam o Lula com um padre pensando que fosse um padre realmente sério, responsável", disse.
OUTROS ATAQUES
Em 2019, o padre Ticão, líder comunitário na zona leste de São Paulo, virou alvo de ataques por meio de mensagens de ódio e ameaças de morte após a realização da 36ª Semana da Juventude, na Paróquia São Francisco de Assis, em Ermelino Matarazzo.
O evento incluiu rodas de conversa sobre cannabis medicinal e palestra sobre gênero, direitos sexuais, direitos reprodutivos e religião, com a participação da organização Católicas pelo Direito de Decidir.
Na ocasião, um ato realizado em frente à paróquia colocou, em lados opostos, defensores e pessoas que reivindicavam a expulsão do padre da Igreja Católica. Com terços nas mãos, os manifestantes que não apoiavam as ideias defendidas por Ticão rezaram e gritaram palavras de ordem como "Viva a Santa Igreja" e "Salve Roma".
Já os apoiadores de Ticão reuniram-se com representantes de OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), ABI (Associação Brasileira de Imprensa), além de políticos da região, para chamar a atenção da comunidade de Ermelino Matarazzo para as ameaças direcionadas ao padre e aos funcionários da paróquia.
Ticão morreu em janeiro deste ano, aos 68 anos.