Gravações encontradas em equipamentos eletrônicos do padre celebridade Robson de Oliveira, que costumava reunir multidões em suas missas pelo Brasil, apontam o religioso tramando a morte de um membro da Afipe (Associação Filhos do Pai Eterno), localizada em Trindade (GO).
"Se você pudesse matar ele para mim, eu achava uma benção. Acaba com esse cara, bicho. Isso aí só vai atrapalhar nossa vida. Para mim, até hoje, foi um atraso", disse o sacerdote em conversa com um advogado.
O desafeto do religioso, segundo as investigações do Ministério Público de Goiás, seria Anderson Fernandes, envolvido em esquemas de pagamento de suborno. As gravações de reuniões, feitas pelo próprio padre, foram apreendidas em agosto do ano passado na operação Vendilhões, desencadeada pela promotoria.
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As mensagens foram divulgadas neste domingo pelo programa Fantástico, da Rede Globo. A defesa do religioso sustenta que o padre sofre de extorsão e perseguição por meio de montagens e adulterações de mensagens.
As gravações foram periciadas a pedido do Ministério Público de Goiás. Houve comprovação técnica de que a voz era do padre Robson. Em nota enviada ao Fantástico, Anderson Fernandes disse que o padre, ao mencionar que queria matá-lo, estava fazendo uma brincadeira.
O material apreendido também revelou indícios de pagamento de suborno a alguns desembargadores do Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO) por meio da compra de sentenças.
Em nota, a presidência do TJ-GO comunicou que não se pode presumir o acontecimento de irregularidades no julgamento de processos a partir de conversa mantida entre advogado e cliente.
Há também indícios de que o padre contava com a ajuda de autoridades da Polícia Civil de Trindade. A delegada Renata Vieira da Silva, titular no município, foi afastada das funções na sexta-feira (19) por suspeita de favorecimento ao religioso. Ela nega as acusações.
Em outubro do ano passado, a 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Goiás decidiu arquivar investigação criminal contra o padre Robson de Oliveira, suspeito de desviar R$ 120 milhões de doações de fiéis. A decisão provocou uma série de críticas nas redes sociais que foram consideradas "manifestações hostis e caluniosas" pela associação de magistrados.
Em dezembro do ano passado, a Justiça autorizou a retomada das investigações. Em seguida, o Ministério Público denunciou o religioso e outras 17 pessoas. Logo depois, uma decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça) ratificou a paralisação do processo. O Ministério Público recorreu da decisão.
Padre Robson era investigado pelos crimes de organização criminosa, lavagem de capitais e apropriação indébita, na Operação Vendilhões. O padre é o principal nome que atrai milhares ao Santuário Basílica do Divino Pai Eterno, em Trindade (GO).
O novo templo em construção teve a obra iniciada em 2012, deve consumir R$ 1,4 bilhão e ainda não foi concluído. Após a operação, o padre foi afastado da presidência da Associação dos Filhos do Pai Eterno (Afipe), da qual é fundador e que intermediava o uso do dinheiro dos fiéis.
Ele também perdeu o título de reitor do santuário e havia sido proibido de participar de programas de TV, rádio ou internet, por decisão da Congregação do Santíssimo Redentor de Goiás.
O padre Robson de Oliveira nasceu e foi criado em Trindade, onde entrou para o seminário aos 14 anos. Ele também morou na Irlanda e em Roma, onde fez mestrado em Teologia Moral na Universidade do Vaticano.
Voltou ao Brasil em 2003 e assumiu a reitoria do então Santuário do Divino Pai Eterno, fundando a Afipe no ano seguinte. Hoje com o título de basílica concedido pelo Papa Bento 16, a unidade tem cerca de 2.500 lugares e aguarda a construção de outra sede com capacidade para mais 6.000 pessoas –erguida com doações de fiéis.
A Afipe também tem uma rádio e o canal de televisão TV Pai Eterno, fundada em 2019. São 24h de programação religiosa disponíveis em sinal aberto para cerca de 1.800 cidades ou por meio de antena parabólica no Brasil e no exterior.