Elba Ramalho, 69, estava na missa da igreja São João Batista, após comer um sanduíche vegano, quando soube que seu nome estava "no olho do furacão": a polícia havia interrompido uma festa com cerca de 700 convidados na casa que tem há mais de 20 anos em Trancoso, vilarejo na Bahia que virou sinônimo de turismo de luxo no Brasil.
À reportagem a cantora diz que vai processar as pessoas para quem alugou a propriedade entre 25 de dezembro e 4 de janeiro. A artista se hospeda no Club Med de Trancoso enquanto os convidados permanecem na casa.
Elba afirma que ficou chateada de ter sido associada ao festejo, que contraria liminar estadual proibindo comemorações no fim do ano em Porto Seguro, onde fica o distrito de Trancoso. "As coisas estão super delicadas porque realmente me tomaram de bode expiatório desta história."
"Estou exigindo agora que as pessoas que estão lá na casa façam vídeo e assumam a responsabilidade. Vou processar por danos morais porque estou sendo, vamos dizer assim, entrei no olho do furacão por conta deles. Estive na casa dois dias, fui levar máscara pros funcionários, cheguei a falar com um deles, por favor, 'vocês não podem fazer eventos'", diz Elba.
Depois, afirmou que não decidiu se o enquadramento judicial será esse. "Não quero tirar dinheiro de ninguém que não vai me acrescentar." Mas exigirá o patrimônio de volta por quebra de contrato.
Elba conta que todos os shows que faria na temporada foram cancelados após o decreto que proibiu aglomerações. "Aluguei a casa muito por necessidade, preciso pagar contas também. Minha profissão não retomou." Desde o começo da pandemia, tem feito lives.
"Não é possível que a coisa caia em cima de mim. Quando soube, a polícia já estava lá", diz a cantora, que narrou seu dia assim: foi ao salão de beleza fazer escova, à farmácia comprar remédio (está com "uma baita dor de coluna"), à missa e a um point novo que vende o lanche vegano.
A artista enviou uma gravação à reportagem com ela rezando na igrejinha local. "Este vídeo que lhe mandei foi feito graças a Deus por um fã que estava na igreja, que tinha somente 15 pessoas, no máximo. Ele próprio postou, fez até uma expressão bacana, que o mal não venceria, que ele é testemunha que eu estava na igreja."
Ela diz que já teve Covid-19 e que "está todo mundo se cuidando", mas que Trancoso de fato está "cheio em todos os lugares".
No sábado (26), um congestionamento de jatinhos no aeroporto particular de Trancoso serviu de símbolo para o fluxo intenso no vilarejo à beira-mar em meio a uma segunda onda de Covid-19 que mantém a UTI porto-segurense lotada desde 13 de dezembro.
A invasão de turistas em Trancoso já resultou na realização de cerca de 500 testes contra o coronavírus, de 23 a 28 de dezembro, administrados pelo laboratório Biofast, que montou um posto temporário para atendimento.
A estrutura foi montada no dia 22 de dezembro e deverá funcionar durante todo o verão, com previsão de atender até 5.000 pessoas, segundo a empresa.
O espaço oferece teste antígeno para detecção do vírus Sars-Cov-2 – cada um pelo valor de R$ 300 e com resultados disponíveis em 20 minutos. Em uma das unidades do laboratório em SP, o mesmo teste sai por R$ 194, com resultados em até quatro horas.
Alguns estabelecimentos do badalado destino turístico, inclusive, só concedem a entrada de clientes que apresentarem o resultado do exame.
Até terça (29), o estado da Bahia tinha cerca de 5,7 mil casos ativos da Covid-19 e a ocupação dos leitos públicos de UTI adulto chegou a 74%.
O governador Rui Costa (PT) usou suas redes sociais para comemorar decisão da Justiça de proibir festas de Réveillon que aconteceriam em Porto Seguro. "Aproveito para lembrar: independentemente da data e quantidade de pessoas, festas e shows estão proibidos nos 417 municípios baianos", escreveu na terça (29).