Nos anos 1980, Cyndi Lauper talvez fosse vista como um pouco diferente dos ícones femininos que povoavam o imaginário da cultura pop. Longe da sensualidade de Madonna, mas também não tão roqueira como Joan Jett e Pat Benatar, ela introduziu com seu primeiro e maior hit, "Girls Just Wanna Have Fun", "um novo tipo de modelo de feminilidade, um que celebrava a diferença e encorajava a ludicidade como auto-expressão", escreveu uma jornalista americana em 2013.
No ano passado, ela comemorou 40 anos desde o lançamento de seu primeiro álbum, "She's So Unusual" (apropriadamente, "ela é tão incomum"). Neste fim de semana, ela se apresenta no Rock in Rio pela primeira vez, com sua turnê de despedida programada para durar até fevereiro do próximo ano -mas que pode ser estendida, segundo a cantora, porque ela tem vontade de voltar ao Brasil ainda uma última vez.
Após explodir no início dos anos 1980, Lauper embarcou numa sequência de faixas de sucesso que a tornariam a primeira artista feminina com um álbum de estreia que atingiu o top 5 das paradas da Billboard com quatro faixas: além de "Girls Just Wanna Have Fun", "Time After Time", "She Bop" e "All Through the Night".
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O segundo álbum foi "True Colors", cuja faixa-título se tornou um hino de validação de identidade para a população LGBTQIA+. Mais tarde, a música nomearia a fundação que a cantora iniciou nos anos 2000 para auxiliar os sem-teto nos Estados Unidos, das quais 40% são pessoas LGBTQIA+.
A identidade teatral e megalomaníaca de Lauper enquanto artista fez com que a cantora se tornasse um ícone para a população queer rapidamente, e ela nunca fugiu da responsabilidade de estar nessa posição, se declarando sempre a favor dos direitos LGBTQIA+ e direitos reprodutivos, principalmente.
"Tive muitos problemas pelo que falei nos anos 1980, mas foram bons problemas", diz a cantora à Folha. "Eu sempre quis ter as mesmas liberdades que os homens. E se eu não estiver preocupada com minhas próprias liberdades, ninguém vai estar. Essa é a minha mensagem para as mulheres jovens."
Lauper tem constantemente elogiado as novas divas do pop por seus posicionamentos e trabalhos. Nesta semana, ela disse na televisão americana que adorou a "arte de performance" de Chappell Roan no VMA deste ano, e na própria premiação ficou responsável por entregar um prêmio a Sabrina Carpenter, a chamando de "compositora maravilhosa".
Sobre Olivia Rodrigo, que distribuiu contraceptivos e pílulas do dia seguinte de graça no começo de sua turnê, a veterana disse estar "muito orgulhosa." "O que ela fez é muito admirável", falou.
Lauper esteve no Brasil para se apresentar cinco vezes, e seu show no Rock in Rio, abrindo para Katy Perry no Palco Mundo, será sua sexta vez no país. As apresentações aconteceram em diferentes fases de sua carreira: em 1989, com seu pop oitentista contagiante; em 2008, após lançar o disco de dance music "Bring Ya to the Brink"; em 2011, divulgando seu álbum de blues "Memphis Blues".
"Lembrei de, nesta época, ficar nervosa pela diferença [entre os álbuns] e pensar: o que você está fazendo? Mas pesquisei a respeito e percebi que a percussão do Carnaval brasileiro é parecida com a do Carnaval de New Orleans", fala Lauper. "Liguei para um cara da minha gravadora e ele me apresentou à [percussionista] Lan Lahn, e ela era fantástica. Foi uma época muito mágica." Lan Lahn acabou participando de todos os oito shows da artista no país.
Na última década, a cantora tem se dedicado ao teatro musical -a peça "Kinky Boots", para qual compôs a música e as letras, ganhou prêmios Tony de melhor musical e melhor trilha sonora original. Mas ela se diz animada a voltar às arenas nos Estados Unidos e Europa a partir do fim do ano, e a se apresentar para um público tão grande quanto o do Rock in Rio.
"Eu sempre tive a impressão que o Brasil é um lugar especial para a música, para performar. Estou animada para tocar minha música e encorajar pessoas, principalmente jovens mulheres, a terem uma vida alegre", afirma.
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