Os filmes e séries com pegada adolescente, sobre crushes e primeiros amores, parecem estar chegando aos montes aos serviços de streaming. A Netflix, por exemplo, já estreou esse ano continuações de grandes sucessos de sua aba de comédias romântica jovens, "A Barraca do Beijo 2" e "Para Todos os Garotos: P.S. Ainda Amo Você".
Mas chegou, recentemente, à plataforma vizinha Amazon Prime Video, um filme que pode enganar. No primeiro momento, o novo lançamento pode parecer mais um romance adolescente, mas, no fundo, ele pega a contramão do subgênero e acelera em direção a um caminho muito mais sombrio e complexo.
"A Química que Há Entre Nós" estreou no serviço nesta sexta-feira (21) e é uma adaptação do livro homônimo, escrito pela australiana Krystal Sutherland. Na trama, Austin Abrams vive Henry, o editor-chefe do jornal de sua escola. Ele tem como assistente a misteriosa Grace, papel de Lili Reinhart, por quem logo se apaixona.
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A personagem, no entanto, tem dificuldade de se conectar com os colegas, por causa de um acidente de carro que mudou completamente a sua vida. E, à medida em que Henry se aproxima dela, sua vida pacata e feliz é sugada para um emaranhado de sentimentos confusos e incertezas.
"O livro tem uma dissonância muito interessante, porque por um lado ele é muito sombrio e explora temas relacionados a trauma, luto, perda e decepções amorosas, e eu me relacionei com isso. Por outro lado, ele é agridoce, porque tem uma mensagem de esperança", diz o diretor Richard Tanne.
"Existem dois mundos nessa trama: o brilhante e alegre subúrbio onde Henry vive, com seus privilégios e uma boa família, e esse submundo sombrio, mais adulto, cheio de dor e perda no qual Grace existe. Henry não conhece esse mundo e, quando se apaixona por ela, não imagina que vai ser levado para esse lugar."
O cineasta não tem uma relação de proximidade com tramas adolescentes, universo do qual vieram os protagonistas do filme -Abrams de "Cidade de Papel" e Reinhart da série "Riverdale". Mas ele logo se interessou por aquela história ao notar semelhanças entre ela e suas experiências reais da época de escola.
"Minha própria experiência no ensino médio foi, de certa forma, moldada por aspectos sombrios da minha vida -e eu queria contar uma história sobre jovens por esse prisma", afirma ele, que batalhou para que o estúdio concordasse com uma classificação indicativa mais alta que a de outros dramas adolescentes.
Tanne também era editor-chefe do jornal da sua escola e, nesse mesmo período, sofreu de um coração partido. Outro tema que molda a jornada da dupla protagonista de "A Química que Há Entre Nós" é o passado trágico de Grace, que, de acordo com o cineasta, o fez lembrar de um acidente automobilístico muito semelhante no qual se envolveu na juventude -"eu pude encaixar algumas coisas pessoais nas rachaduras da trama".
Mas o romance de Henry e Grace nem sempre foi assim. O livro de Sutherland, adaptado para o cinema pelo próprio Tanne, trata dos mesmos temas, claro, mas de uma maneira não tão séria.
"O livro tem esse lado divertido, meio abobalhado, e eu gosto disso, mas não era o que eu queria fazer. Eu queria destacar a dinâmica dos protagonistas e essa montanha-russa de emoções deles. E eu acabei encontrando várias maneiras de fazer isso de forma visual", afirma.
Para Tanne, apesar do distanciamento em relação ao universo adolescente, a enxurrada de histórias do gênero que tem abastecido os streamings é algo positivo. Especialmente em termos de orçamento, já que, segundo o diretor, "A Química que Há Entre Nós" recebeu um investimento maior do que teria em estúdios tradicionais de Hollywood.
"Eu diria que o streaming é um caminho para muita coisa que não tem uma base de fãs já sólida, o potencial de ter uma ou chances de gerar sequências. Os streamings estão se tornando o marco zero para uma nova leva de filmes independentes, de orçamento médio. O fato é que há um novo lar para esse tipo de narrativa", diz.