O que um millennial pode fazer pela memória da cidade? Caio Felipe de Souza desenha para quem quiser entender. Com seus lápis inspirados, o artista de 26 anos, graduado em Artes Visuais pela Universidade Estadual de Londrina, reproduz as fachadas das edificações de madeira que marcam a paisagem dos bairros mais antigos.
A maior parte da coleção, retratos 15 x 21 em papel A4, gramatura 180, foi feita na Vila Nova, onde o artista vive e nasceu. Outros bairros imediatamente ao norte da antiga linha férrea também foram cenários, como Vila Casoni, Vila Recreio e Jardim do Sol.
Para evitar interferências no seu campo de visão, Souza trabalha em horário alternativo. Prefere o fim da madrugada e o início da manhã, quando tira seus apetrechos da mochila (“meu ateliê ambulante”, brinca) e do outro lado da rua se ajeita na calçada e começa a transferir as formas da casa para o papel. No silêncio da rua deserta, o talento flui e a base da obra fica pronta em pouco mais de uma hora de observação. Quando é necessário, uma foto ajuda na conclusão, feita em ambiente caseiro.
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Mas o processo começa antes, nas andanças pela cidade em busca de consumidores para os produtos de outra habilidade, um catálogo com dez tipos de brigadeiro, que ele mesmo faz e vende em lojas e bares.
“Valorizo muito a memória. O período mais feliz da minha vida, a infância, eu passei numa casa de madeira. Logo depois ela foi demolida e deixou muitas saudades”, explica Caio. “Percebi que este apagamento acontecia em muitos pontos da cidade e, como artista, tive a ideia de tentar imortalizar em desenhos outras construções semelhantes que ainda estão em pé. Tiro do efêmero o que merece ser eterno”.
Além do valor afetivo, os olhos do desenhista enxergam a riqueza cultural dos detalhes, que revelam a influência de muitos povos nas técnicas construtivas e a mistura de hábitos e costumes das primeiras décadas da colonização.
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