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Desinformação

Tecnologia pode promover o pior regime totalitário da história, diz Yuval Harari

Henrique Artuni - Folhapress
11 nov 2021 às 08:31

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Um dos primeiros best-sellers da história, o "Malleus Maleficarum", ou martelo das feiticeiras, publicado em 1487, foi um manual que impulsionou as perseguições da Inquisição. Longe de ser um tratado científico, este trabalho é classificado pelo professor israelense Yuval Noah Harari, hoje, como uma "teoria da conspiração" e como uma prova de que as fake news não são novidade.


De lá para cá, "Sapiens: Uma Breve História da Humanidade", no qual Harari esmiúça a evolução da espécie humana em uma linguagem acessível, vendeu mais de 35 milhões de cópias pelo mundo, ganhou versão em quadrinhos e completa dez anos em 2021. Ainda assim, a desinformação segue presente e trazendo malefícios.

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Mas fake news e propaganda já foram bem piores no passado, da Idade Média aos nazistas e comunistas, argumentou Harari em conferência do Fronteiras do Pensamento, nesta quarta-feira, entrevistado por Ronaldo Lemos, professor da Faculdade de Direito da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.

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"As big techs são uma ameaça [pela difusão de fake news], mas criar um novo meio de comunicação não nos traz mais verdade. A novidade é que, pela primeira vez na história, é possível seguir todo mundo todo tempo e saber mais das pessoas do que sabemos sobre nós mesmos", diz Harari, sobre esse que seria o maior sonho dos grandes autocratas da história.

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"Se [nossos dados pessoais] caírem nas mãos erradas, de um Stálin do século 21, teremos o pior regime totalitário da história", alerta o professor, que também escreveu "Homo Deus: Uma Breve História do Amanhã", em que tenta entender nossa espécie hoje e quais as possibilidades de futuro.


Enquanto o professor acredita que a humanidade tem a tecnologia para fazer da Covid-19 a última pandemia da história, não há sabedoria política para isso. Sua avaliação é de que esta crise sanitária foi "como assistir a um acidente de trem em 'slow motion'". "Ninguém tomou as rédeas, parece que foi um desastre descontrolado."

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Segundo ele, a falta de cooperação e de um plano global para combater o vírus só alerta para os perigos ainda maiores, como o aquecimento global. "A Covid-19 não pode nos destruir, ela é terrível, mas a humanidade sobreviverá. Com as mudanças climáticas não será assim. Elas vão destruir a civilização humana, e o perigo é o mesmo se deixarmos a inteligência artificial sair do controle", afirma.


O professor, que leciona no departamento de história da Universidade Hebraica de Jerusalém, acredita que o próximo evento catastrófico global vai envolver um enorme ataque cibernético que derrube grande parte da infraestrutura digital do mundo. "E pode ser bem pior do que o vírus, pois a Covid-19 nos permitiu recuar para o mundo digital. Se a internet cair por uma semana, ou mesmo um mês, seria um caos completo", aponta. "Espero que os governantes estejam se preparando melhor para isso do que eles se prepararam para a pandemia."

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Em paralelo, Harari vê o fenômeno dos metaversos –isto é, universos virtuais, que estão sendo cotados como o futuro da internet– como um caminho natural da humanidade, imitando o que religiões teriam feito nos últimos séculos. Caminhamos ainda, segundo ele, para um ponto de virada, onde poderemos usar a tecnologia para mudar nossos corpos, criar novas entidades e mesmo seres completamente inorgânicos. "É algo que nem dá para imaginar, até nossa imaginação é orgânica", diz.


Se o assunto parece muito afastado da realidade, basta notar como o conceito de animismo –que entende que mesmo objetos inanimados possuem algum tipo de espírito– se expandiu recentemente para vários dispositivos ao nosso redor. Afinal, inteligências artificias já são capazes de coletar dados para conhecer até mesmo a emoção das pessoas.


"Podemos chegar a um ponto em que esses aparelhos, desde uma televisão até uma geladeira, nos entendam melhor que nossos familiares", conta, lembrando que nós mesmos pagamos pelas tecnologias que nos vigiam sem interrupção e aos poucos também vão tomando o lugar dos humanos no mercado de trabalho.


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