A tendência mundial de aumento da expectativa de vida, que se firmou ao longo do século 20, desacelerou consideravelmente nas últimas décadas, e é quase impossível que a maioria das pessoas passe a viver até os cem anos de idade sem que aconteça alguma revolução biomédica. A conclusão vem de um estudo assinado por cientistas dos EUA, que examinaram dados sobre os oito países com as populações mais longevas do mundo.
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Segundo a análise, que acaba de sair na revista especializada Nature Aging, os avanços no aumento da longevidade sofreram uma desaceleração considerável dos anos 1990 até 2019. (O período de 2020 não foi incluído por causa da pandemia de Covid-19, que achatou a expectativa de vida em alguns anos no planeta todo em sua fase mais aguda.)
Enquanto no século passado chegou a haver um aumento de três anos de expectativa de vida ao nascer a cada década, uma taxa parecida só se manteve em um único país da lista de campeões de longevidade nesse período, a Coreia do Sul (em segunda posição na lista), bem como na região chinesa de Hong Kong, que é analisada separadamente em relação ao resto da China. Nos demais países, a melhora já está abaixo de dois anos por década, com tendência a diminuir ainda mais.
Hong Kong, com efeito, é a atual líder mundial em longevidade, com expectativa de vida ao nascer de 85,5 anos. Entre países propriamente ditos o "pódio" é formado pelo Japão, pela Coreia do Sul e pela Suíça. Entre os moradores de Hong Kong, a probabilidade de sobreviver até os cem anos de idade é de 12,8% para mulheres e de 4,4% para homens.
A questão é que, segundo a equipe liderada pelo gerontologista Stuart Jay Olshansky, da Universidade de Illinois em Chicago, aumentar consideravelmente essa expectativa de vida máxima envolveria mudanças drásticas na maneira como a maioria das pessoas atravessa a velhice.
Isso tem a ver com as transformações em diferentes fases do ciclo de vida que, em conjunto, corresponderam ao aumento geral da longevidade média humana ao longo do último século. A mudança mais importante e mais antiga está ligada à diminuição drástica da mortalidade infantil, graças a melhoras na higiene e na alimentação e ao uso de antibióticos e vacinas, entre outros fatores.
Mudanças no estilo de vida e na prevenção diminuíram a mortalidade na meia-idade, enquanto avanços na tecnologia médica e no acesso à saúde, entre outros fatores, podem ter sido mais decisivos na sobrevivência a problemas de saúde durante a velhice.
É nesse último aspecto que é preciso intervir para que ocorra uma mudança significativa nos números dos países mais longevos. Olshansky e sua equipe fizeram vários cálculos sobre essa possibilidade. Para se alcançar uma expectativa de vida média ao nascer de 110 anos, por exemplo -consideravelmente menos do que a idade máxima de cerca de 120 anos alcançados pelos indivíduos recordistas atuais- cerca de 70% das mulheres teriam de completar um século de vida.
Mesmo se as taxas de mortalidade humanas fossem zeradas entre 0 e 50 anos de idade, a expectativa média de vida ao nascer seria de "apenas" 90 anos para mulheres e de 85 anos para homens caso a mortalidade não diminuísse também após os 50 anos. E, num país como o Japão, um aumento de expectativa de vida de apenas um ano -de 88 anos para 89 anos entre as mulheres- precisaria de uma redução da mortalidade de 20%, em todas as idades e por todas as causas, para acontecer.
De acordo com os pesquisadores, os dados e cálculos indicam que, ao menos nos países com a expectativa de vida mais elevada do mundo hoje, teríamos alcançado uma espécie de "teto" biológico. É claro que, em países como o Brasil (expectativa de vida ao nascer de 76,5 anos), haveria ainda bastante espaço para avanços.
Eles afirmam que não se pode descartar avanços biomédicos que ajudem a empurrar para cima esse limite, mas que eles ainda não parecem estar no horizonte.