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Saiba como o novo ensino médio vai impactar o Enem

11 out 2023 às 12:00

O Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) deverá mudar nos próximos anos acompanhando as alterações nos currículos do ensino médio do Brasil. A mudança, no entanto, ainda deve demorar. Conforme o ministro da Educação, Camilo Santana, um novo modelo poderá começar a ser aplicado somente a partir de 2025, depois de ser amplamente discutido. A Agência Brasil conversou com estudantes e especialistas sobre o que esperar do futuro do Enem. 


No momento, o Enem é composto por provas de linguagens, ciências humanas, matemática e ciências da natureza que somam 180 questões objetivas de múltipla escolha, além de uma prova de redação. O exame é aplicado em dois domingos. Teoricamente, deveria cobrar o que os estudantes aprenderam ao longo da trajetória escolar. 


Em 2017, entretanto, o país aprovou o novo ensino médio, que começou a ser implementado nas escolas públicas e particulares no ano passado. A previsão era que o Enem também mudasse em 2024 para se adequar ao novo ensino. Pelo novo modelo, parte das aulas é comum a todos os estudantes do país, direcionada pela chamada BNCC (Base Nacional Comum Curricular). Na outra parte da formação, os próprios alunos podem escolher um itinerário para aprofundar o aprendizado. As opções permitem ênfase nas áreas de linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas e ensino técnico. A oferta de itinerários depende da capacidade das redes de ensino e das escolas brasileiras. 


Um parecer aprovado pelo CNE (Conselho Nacional de Educação) em 2022 sugeria que o novo Enem tivesse duas etapas, uma tendo como referência a BNCC e, outra, que poderia ser escolhida pelo estudante segundo a área vinculada ao curso superior que pretende cursar. O governo anterior chegou a anunciar a nova proposta, mas não saiu do papel. 


Críticas 


O novo ensino médio sofreu uma série de críticas e, atualmente, está sendo rediscutido no âmbito do governo federal. Assim, o cronograma de mudanças no Enem foi suspenso. As provas, que deveriam mudar já em 2024, agora terão também as mudanças adiadas. 


“De certa forma estão sendo feitos ajustes, não há como fazer um novo exame sem que o ensino médio esteja sendo implementado de forma clara”, afirma o professor emérito da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) Chico Soares. Soares é ex-presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), que é responsável pelo Enem e é ex-membro do CNE (Conselho Nacional de Educação), em que foi um dos relatores da BNCC.


Soares pontua que as mudanças no Enem ainda devem demorar, porque, mesmo depois que o novo modelo para o ensino médio for definido, ainda será preciso readequar as provas. “Vamos mudar o tipo de expectativa de aprendizagem”, comenta. O Inep precisará, então, elaborar e testar novas questões antes de aplicá-las.


Para o ministro da Educação, o Enem deverá começar a ser reformulado a partir do ano que vem, para que as mudanças passem a valer a partir de 2025. As discussões devem ocorrer dentro dos debates do PNE (Plano Nacional de Educação), que estabelece metas para a educação a cada dez anos. Para Soares, a previsão é otimista. Ele estima que uma nova prova deve ser aplicada ainda mais tarde, a partir de 2026. 


Preocupação 


Para os estudantes, a situação gera muita preocupação, conforme a presidenta da Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas), Jade Beatriz. “Nos preocupa muito, porque o modelo de ensino mudou. Objetivamente, o ensino médio teve uma mudança muito brusca, uma redução da carga horária básica, que é muito importante e é o que cai no Enem. Tivemos uma redução e a gente acaba não vendo tudo no ensino médio e é o que será cobrado no Enem. Isso nos prejudica muito”, destaca.  


De acordo com ela, o ensino médio anterior ao novo modelo não era o ideal, mas a redução da formação básica de forma abrupta acirrou a desigualdade entre escolas públicas e particulares, uma vez que cada rede de ensino oferta a formação de acordo com a própria capacidade. 


A estudante aponta que, embora o cronograma do novo ensino médio preveja a implementação gradual ano a ano, todas as séries do ensino médio estão sendo impactadas, inclusive quem atualmente cursa o 3º ano e vai prestar o Enem para buscar uma vaga no ensino superior. “Não tem as matérias que serão cobradas, então, na visão do estudante da escola pública, vou fazer uma prova que sei que não vou passar. Todas as séries estão sendo impactadas. E é surreal, porque serão três gerações, contando a partir de hoje, que serão atingidas por isso. O novo ensino médio nos aproxima do subemprego”. 


Enem 2023 


O Enem 2023 será nos dias 5 e 12 de novembro. Segundo o Inep, mais de 3,9 milhões de pessoas estão inscritas. Do total, 1,4 milhão, o equivalente a 35,6%, concluem o ensino médio este ano. Outros 1,8 milhão (48,2%) já concluíram o ensino médio em anos anteriores e os demais 16,2% dos inscritos ainda não concluíram o ensino médio e farão a prova apenas para testar os conhecimentos, os chamados treineiros.  


O Enem é a principal porta de entrada para a educação superior no Brasil. É utilizado para o ingresso em instituições públicas por meio do Sisu (Sistema de Seleção Unificada) e para obtenção de bolsas de estudo em instituições privadas pelo Prouni (Programa Universidade para Todos). Também é usado para obter financiamento pelo Fies (Fundo de Financiamento Estudantil). 


Além disso, os resultados do Enem também podem ser aproveitados nos processos seletivos de instituições estrangeiras que possuem convênio com o Inep para aceitar as notas do exame. 


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