Comemora-se neste domingo (5) o Dia Nacional da Língua Portuguesa, em celebração ao nascimento de Rui Barbosa, escritor, jornalista e político brasileiro, que foi membro da Academia Brasileira de Letras e atuante na educação pública. Vindo de uma família engajada na causa educacional, Barbosa foi reconhecido por articular no processo abolicionista e agir por mudanças sociais. Hoje, as docentes Edina Panichi e Viviane Alexandrino trabalham de forma similar, buscando democratizar os seus conhecimentos sobre a língua nacional sem deixar de reivindicar mais direitos à classe.
Vinte anos de dedicação
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Edina Panichi trabalhou como docente no curso de Letras da UEL (Universidade Estadual de Londrina) até 2003, ano em que se aposentou formalmente. A pós-doutora, então, rejeitou a opção que lhe fora oferecida de prestar um novo concurso para seguir em sala de aula e decidiu dedicar-se voluntariamente, ou seja, sem remuneração.
“A UEL não tinha, naquela época, um mecanismo que propiciasse esse tipo de vínculo e, então, criou a categoria Docente Sênior. Fui a primeira a me inserir nessa categoria e sou a mais antiga ainda em atuação”, explica.
Requisitada internacionalmente pelo seu alto grau de especialização, a professora ressalta que o seu prazer é ver o crescimento intelectual dos discentes.
“O meu pagamento é acompanhar o crescimento intelectual e o sucesso alcançado por meus alunos e orientandos, grande parte deles atuando no ensino superior não só na UEL, mas em outras universidades pelo Brasil afora”, expõe.
Devido ao seu comprometimento com a educação pública, Edina Panichi foi homenageada pela Câmara Municipal de Londrina, recebendo o título de Cidadã Honorária do município no último 5 de maio, Dia Internacional da Língua Portuguesa.
Cria de escola pública
Viviane Alexandrino, assim como Edina, também ministra aulas voluntariamente. Professora do ensino fundamental e médio há seis anos, ela atua há um ano como docente de Língua Portuguesa no cursinho comunitário pré-vestibular PPU (Passo a Passo para a Universidade), que é mantido pela Congregação dos Oblatos de São José.
Para ela, a ação voluntária é fruto da sua formação em escolas públicas e periféricas, que lhe gerou o desejo de retribuir todo o conhecimento que lhe foi transferido. Ela relembra que, enquanto estudava, também tinha que trabalhar e ressalta que o apoio de professores foi fundamental nessa época.
“Como sempre precisei trabalhar e estudar, isso me mostrou a necessidade de buscar alternativas de vida mais dignas e confortáveis. Isso eu encontrei na educação. Lembro-me de diversos professores me falando ‘você tem muito potencial’, ‘você fala bem’, ‘vai dar certo’. Alguns dispunham de tempo extra para me atender, motivar e conversar”, rememora.
Foi por meio desses incentivos que Viviane passou no vestibular, sendo a primeira da família a atingir tal feito. Hoje, ela presenteia alunos com a mesma intensidade que foi presenteada quando adolescente, na esperança de vê-los prosperar por meio da educação.
“Tento fazer a minha parte, ainda que o oceano seja gigantesco e, talvez, a marola que faço com as minhas aulas seja insignificante, creio que alguém será tocado, ajudado e provocado.”
Inspirações na profissão
Assim como inspiram alunos dia após dia em sala de aula, as professoras de Língua Portuguesa não deixaram de mencionar os nomes que as colocaram no rumo de suas jornadas de sucesso até aqui. Edina cita Sebastião Cherubim, professor falecido da UEL, que foi o responsável por indicar a ela a obra de Pedro Nava, autor que ditou toda a sua carreira acadêmica.
“Foi ele quem me indicou para o Departamento de Letras e, também, os livros que serviram como corpus de minhas pesquisas na Especialização, Mestrado, Doutorado e Pós-Doutorado. Busquei, assim, aprimorar-me até a última instância na construção da carreira.”
Viviane nomeia Márcio Porfírio, professor de Literatura do cursinho pré-vestibular que a auxiliou a ascender à universidade.
“Ele me fazia pensar fora da caixa. Foi por causa dele que li meu primeiro livro aos 17 anos e isso, realmente, mudou a minha vida. A partir dali, ler se tornou um hábito inegociável. Ver sentidos nas palavras e nos autores quase uma obsessão”, conclui.
Esperança na educação gratuita
Edina e Viviane são categóricas ao afirmar que a educação pública tem que ser valorizada, mas que ainda há muitos desafios a serem enfrentados. Para a voluntária do cursinho PPU, o fato de transformar indivíduos pode ser um dos motivos para a educação não receber o investimento que deveria.
“A educação é transformadora, talvez, por isso, não haja grandes movimentos significativos de mudança na estrutura educacional brasileira. A educação liberta do aprisionamento, dá consciência, senso crítico, oportuniza acessos. Sou fruto disso”, reflete Viviane.
Edina explana que a participação familiar é importante para combater a evasão escolar e o desinteresse dos alunos. Segundo ela, o país pode, sim, evoluir nessa questão, desde que haja a contribuição de todos.
“Uma maior participação das famílias no cotidiano escolar ajudaria a superar o desinteresse que os alunos vêm demonstrando pela escola. A conscientização da sociedade sobre a importância de um ensino de qualidade é um passo importante que pode ajudar a mudar a situação. Se cada um que puder colaborar fizer a sua parte, podemos reverter a situação”, propõe.
Viviane conclui esperançando um futuro em que professores não tenham que abrir mão dos recursos escassos que têm em prol do próximo. Para ela, por mais que tente ajudar a quem precise, é o Estado quem deveria dar a todos a plena condição de ter acesso a uma educação gratuita e de qualidade.
“A gente não tem que salvar uma profissão que todos os anos sofre algum tipo de mazela e é precarizada. Se eu faço isso, eu deixo de creditar a culpa ao governo e prejudico a minha saúde mental”, encerra.