Uma simples aula em espaço aberto para ensinar o gênero literário crônica para alunos do 7º e 8º ano virou a rotina da professora Cláudia Mendonça Portero e do Colégio Estadual Marechal Castelo Branco, em Primeiro de Maio, de pernas para o ar. O motivo foi a adoção de um livro, entre os mais de 20 selecionados como material de suporte, com textos do escritor gaúcho Luís Fernando Veríssimo, chamado “Sexo na Cabeça”.
O livro, lançado pela Editora Objetiva – braço didático da Companhia das Letras – consta como material de referência no livro fornecido pelo governo aos alunos. O gênero crônica é um estilo em que o autor conta histórias do dia a dia. Entretanto, ressalta Cláudia, apesar do nome do livro, em nenhuma crônica, Luís Fernando Veríssimo narra a conjunção carnal, propriamente dita.
Cláudia leciona no colégio há dois anos e, para ensinar aos alunos o gênero crônica, juntou onze livros da biblioteca da escola e levou, de casa outros nove. Marcou com os alunos, sob supervisão e aprovação da coordenadoria pedagógica, uma aula ao ar livre, na praça em frente a escola. “Quando chegamos, havia três mulheres, uma com uma criança de colo, e essas mulheres ficaram observando a minha aula e os livros que eu estava trabalhando, também. Voltamos para a sala e a aula deu muito certo, os alunos adoraram sair para estudar”, conta a professora.
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Entretanto, no dia 17 de março, seguinte à aula em espaço aberto, a professora chegou no local de trabalho e foi informada por colegas de trabalho, pela coordenadoria e pela direção de que circulava por um grupo de Whatsapp da cidade ataques à professora.
“Eu me deparei com um texto falando sobre minha pessoa, sobre meu trabalho e minha aula, falando inverdades e distorcendo fatos, sobre coisas que não faço em sala de aula, tampouco ensino”, diz Cláudia, indignada.
Vinda de Cambé há dois anos, ela afirma que não conhece a pessoa que passou a insuflar ataques por meio das redes sociais. “Eu não conheço essas pessoas. Eu as vi na praça, mas não conversei. A proposta [da aula] era somente [estudar] gênero textual e essa pessoa, pelo Whatsapp, disse que estava na praça, viu tudo o que ocorreu e passou a desqualificar minha imagem, a direção e a coordenação escolar, e a atacar minha pessoa”, conta.
A reportagem não teve acesso às mensagens.
Ainda de acordo com Cláudia, em uma reunião na escola, ela explicou à mulher a metodologia de ensino adotada, informou que eram mais de 20 livros ofertados para que cada um lesse um e, depois, elaborasse uma crônica. Também explicou que a metodologia do estudo direcionado estava dentro dos PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais, diretrizes elaboradas pelo governo federal para orientar a educação brasileira) e mostrou que Luís Fernando Veríssimo era um dos autores recomendados pelo livro didático.
Entretanto, além dos ataques pelo Whatsapp, uma mãe de aluno escreveu um texto na rede social Facebook, atacando a professora. Esta pessoa foi à escola e a direção e a coordenação explicaram o caso para a mãe. Mesmo assim, segundo Cláudia, a mãe desacatou a direção e manteve o texto desabonando a imagem da escola e seus funcionários.
A professora, que não esperava uma reação dessas partindo da comunidade, disse que teve todo o apoio da direção e da coordenadoria pedagógica após os ataques e adiantou que vai tomar as medidas judiciais cabíveis contra as pessoas que a atacam.
Procurada, a Seed (Secretaria Estadual de Educação) disse, por meio de nota, que “o referido livro faz parte da biblioteca escolar e se adequa à idade da turma”. Já a direção da escola não quis se manifestar.
A editora do livro também foi procurada, por e-mail, mas não havia enviado resposta até o rechamento da matéria.