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Professor da UEL analisa situação do Rio Grande do Sul

10 mai 2024 às 13:39
O desastre climático e social que há dias castiga a população do Rio Grande do Sul já traz perdas incomensuráveis, tanto do ponto de vista social e econômico quanto humano, segundo avaliação dos governos Federal e do Estado.


Milhares de pessoas estão desabrigadas, mais de uma centena de mortos, fazendas destruídas, criações de animais ilhadas ou completamente mortas, aeroportos alagados, cidades inteiras fora do mapa e submersas pela água. O resultado de um cenário de caos completamente previsível e que não pode mais ser negado.


Essa é a avaliação do professor Marcos Robalinho Lima, do CCB (Departamento de Ecologia) da UEL (Universidade Estadual de Londrina) e integrante do NAPI (Novo Arranjo de Pesquisa e Inovação) Emergência Climática. O NAPI, um dos 11 com participação da UEL, avalia cenários e possibilidades e sugere soluções envolvendo sustentabilidade ambiental, para serem adotadas levando em consideração os 17 ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável). O arranjo de pesquisa é uma iniciativa da FA (Fundação Araucária) que reúne pesquisadores da UEL, UEM, Unicentro, Unespar, Unioeste, UEPG, UFPR, UTFPR e PUC-PR. A coordenação do NAPI é do professor Halley Caixeta de Oliveira, do BAV/CCB (Departamento de Biologia Animal e Vegetal).


Com atuação em cinco eixos temáticos, que vão do diagnóstico das mudanças globais e dos impactos das mudanças climáticas na biodiversidade à adaptabilidade e resiliência humana frente às intempéries climáticas, com foco no estado do Paraná, o NAPI conta, segundo dados da plataforma online iAraucária, com 48 pesquisadores, seis deles da UEL, que também tem três estudantes bolsistas da Fundação Araucária envolvidos.


“Impactos das mudanças climáticas na biodiversidade e nas bases ecológicas do território paranaense”. Nesse eixo, destaca o pesquisador, a equipe estuda a biodiversidade no Paraná, além dos chamados modelos de distribuição de espécies e, também, modelos de distribuição agrícola. “Avaliamos se determinado local é melhor ou não para a produção de soja, ou de milho, por exemplo, levando em consideração as questões climáticas e um prognóstico que considere variações climáticas nos próximos anos”, considerou Robalinho.


Outras linhas de atuação dentro do eixo também são a avaliação do surgimento de espécies invasoras no estado, o que varia de acordo com as mudanças climáticas evidenciadas. Há quem estude a viabilidade da permanência de árvores nativas do estado, como a araucária, em regiões que hoje em dia estão mais quentes, como a região Norte e Norte Pioneiro, e também quem acompanhe de perto o aumento das pragas urbanas, como escorpiões, que passaram a circular muito mais pelas cidades devido ao aumento da temperatura.



INEGÁVEL E INADIÁVEL 


As reações de perplexidade frente à crise climática global e aos episódios recorrentes de enchentes, alagamentos, chuvas torrenciais, tornados e toda a sorte de problemas ambientais já não podem ser mais negados, na avaliação do pesquisador. “Se olharmos bem, já é a terceira enchente de grande fluxo, sendo a última a maior de todas, que acomete o Rio Grande do Sul em um ano. Tivemos problemas recentes na Bahia com enchentes, no litoral de São Paulo também. Não é mais possível nem aceitável dizer que não sabemos do que vai acontecer”, frisou o pesquisador.


E o alerta já vem sendo dado há anos, não só por ambientalistas, mas, também, por pesquisadores de todas as áreas. O NAPI Emergência Climática agrupa desde geógrafos até profissionais da Educação, engenheiros e biólogos na esperança de encontrar, na pesquisa nas universidades, formas viáveis de enfrentar uma situação que, diz Robalinho, ainda pode ser revertida, ainda que ao custo de muitas vidas humanas.


“Os governos trabalham com médias de aumento de temperatura. Se dissermos que aceitamos aumentarmos em dois graus a temperatura da Terra, isso trará custos humanos, em vidas humanas. Podemos ter cidades e países submersos” disse o professor.


Outra saída, urgente, é construir uma estrutura fixa para suportar as catástrofes climáticas, que, segundo o professor, tendem a se tornar cada vez mais frequentes e destruidoras. “O Japão tem uma estrutura urbana para lidar com terremotos. Devemos pensar em algo parecido, com nossas peculiaridades, para salvaguardar vidas. O Estado deve ter equipes prontas para lidar com isso quando o desastre vem, porque é tudo muito rápido”.


Uma das preocupações do grupo é avaliar se as recentes legislações empregadas pelo Brasil dão conta dos desafios atuais. “Temos, por exemplo, um Código Florestal que foi aprovado há alguns anos (em 2012), que limita o percentual de mata nativa em determinado local, não só por uma questão de preservação da biodiversidade. Temos que avaliar se toda essa legislação é suficiente”, considerou. Do mesmo modo, é preciso que os governos enrijeçam a fiscalização contra atividades predatórias, ponderou Robalinho. “Não há como o lucro se sobrepor à vida dos outros.”


O projeto também prevê ações de conscientização e letramento sobre a questão climática no estado. O NAPI Emergência Climática tem três anos de duração, com investimento do Governo do Estado, via Fundação Araucária, de R$ 3,2 milhões, entre os quais R$ 2,1 milhões para o pagamento de bolsas estudantis.


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