Levando em consideração que o monitoramento das águas é uma atividade necessária para identificar a qualidade do esgotamento sanitário, professores da PUCPR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná) conduziram pesquisa para desenvolver modelos que pudessem estimar e prever as variáveis de monitoramento exigidas pela legislação nacional. O estudo foi realizado em duas bacias hidrográficas da Grande Curitiba e será apresentado às autoridades como uma alternativa para otimizar os programas de inspeção das águas.
O monitoramento da qualidade das águas é regulamentado no Brasil pela Resolução número 357 do Conama (Conselho Nacional de Meio Ambiente), que determina que o monitoramento das águas deve ser bimestral e dispõe os parâmetros que devem ser monitorados. Os pesquisadores dizem, contudo, que são poucas as cidades brasileiras que têm condições financeiras e técnicas para atender integralmente à resolução.
"Os custos de mão de obra especializada, equipamentos e materiais de laboratório são um desafio significativo para países em desenvolvimento, onde o financiamento é limitado. O monitoramento das águas é uma atividade de grande abrangência e que envolve diferentes disciplinas, como saúde pública, controle da poluição hídrica, monitoramento de águas de abastecimento e balneabilidade, gestão e planejamento urbano, entre outras”, diz Fabio Teodoro de Souza, docente do PPGTU (Programa de Pós-Graduação em Gestão Urbana) da PUCPR e um dos pesquisadores à frente do trabalho.
Leia mais:
Enem 2024: Londrinenses '50+' buscam vagas na universidade
Alunos da rede municipal terão atendimento oftalmológico gratuito neste sábado
Educação anuncia abertura de novo PSS com mais de mil vagas disponíveis no PR
Cientistas desenvolvem 1ª caneta de adrenalina brasileira para crises de alergia graves
O estudo abordou uma análise dos dados de 11 anos de monitoramento da qualidade das águas em duas bacias hidrográficas da RMC (Região Metropolitana de Curitiba): a do Rio Piraquara, um dos principais mananciais de abastecimento do Saic (Sistema Integrado de Abastecimento de Curitiba e RMC), e a do Rio Palmital, antigo manancial do Saic que sofreu deterioração da qualidade das águas e teve seu uso para o abastecimento público inviabilizado.
Enquanto a primeira se encontra em condições naturais com elevada qualidade das águas na APA (Área de Proteção Ambiental) do Piraquara, a segunda representa as condições típicas dos rios urbanos brasileiros, com altos níveis de poluição hídrica.
Resultados – Segundo Souza, a abordagem utilizada na pesquisa foi inédita, inclusive internacionalmente, pelo fato de lançar mão de técnicas de mineração de dados para fazer a análise crítica – que deve ser feita periodicamente – dos programas de monitoramento das águas.
"As 10 variáveis alvo do modelo preditivo são aquelas que precisam ser medidas em laboratório e exigem equipamentos específicos com custos significativos, referentes aos materiais utilizados e mão de obra especializada. Nas quatro estações de monitoramento estudadas, duas em cada bacia, conseguimos estimar nove e seis variáveis na bacia urbanizada e sete variáveis cada estação da bacia não-urbanizada. Todos os modelos apresentaram confiança maior que 90%”, explica Souza.
Os modelos desenvolvidos permitem, a partir de variáveis de medição no próprio local de coleta, estimar e, em alguns casos, até prever as variáveis de laboratório. Ainda que o estudo esteja centrado em uma região específica, a abordagem metodológica utilizada é promissora e pode revolucionar o monitoramento da qualidade das águas em todo o Brasil, com diminuição da frequência das análises de qualidade das águas de laboratório.
Futuro – A pesquisa foi publicada na Urban Water Journal, revista científica referência na área e da editora Taylor & Francis, uma das quatro maiores do mundo. Clique aqui para acessar a publicação.
O estudo será enviado ao IAP (Instituto Ambiental do Paraná) como alternativa metodológica para otimizar os programas de monitoramento das águas, bem como para outros programas estaduais ambientais no país. O artigo também será enviado a instituições relacionadas ao fenômeno estudado, como companhias de águas e esgoto.
O desejo principal dos pesquisadores é estreitar o diálogo entre academia e sociedade, sendo que a intenção é fazer com que a produção do conhecimento possa ser utilizada pelas autoridades públicas em benefício da saúde coletiva e ao bem estar da população.