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Uma pesquisa realizada durante três anos de ensino médio mostrou que os estudantes de tempo integral não apenas tiveram uma participação 16,5% maior no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) do que seus colegas de tempo regular, mas também tiveram notas mais altas. A diferença média chega até 29 pontos a mais na redação da prova.
O grupo de estudantes do ensino médio teve 5,8% mais matrículas no ensino superior. Se for considerado apenas o ingresso em instituições públicas, o aumento, na comparação com os alunos de horário parcial, foi de 7,7%.
É o que mostra um estudo dos pesquisadores Naercio Menezes Filho e Luciano Salomão, feito em parceria com o Instituto Natura. Foi analisada uma amostra a partir de mais de um milhão de estudantes mapeados no Censo Escolar que ingressaram no ensino médio em 2017 -14.344 deles na modalidade de tempo integral.
Os dados dos alunos foram acompanhados do primeiro ano, em 2017, ao terceiro ano, em 2019. Em seguida, a pesquisa pulou os anos iniciais da pandemia de Covid-19 e voltou a monitorá-los em 2022.
A comparação é feita sempre em relação aos estudantes de tempo parcial da amostra. As notas do Enem tiveram uma média de 10,25 pontos a mais em ciências humanas, 8,32 em linguagens, códigos e suas tecnologias, 6,12 em matemática e 29,21 na redação.
No período, alunos de ensino médio integral tiveram 5,2% mais matrículas de cotistas no ensino superior, sendo 7,7% a mais em instituições públicas. A pesquisa também relacionou os contingentes neste modelo de escola ao mercado de trabalho. Um aumento de 10% de matrículas em escolas de ensino médio integral levou a 3% de aumento nos empregos formais para o mesmo município.
Para David Saad, diretor-presidente do Instituto Natura para a América Latina, o estudo endossa evidências favoráveis à jornada estendida. "Esse é mais um dos estudos que comprovam o impacto positivo do integral, não só com indicadores educacionais, mas com indicadores socioeconômicos."
Para ele, o ensino integral dá mais tempo a professor e aluno para qualificarem suas tarefas e amplia a conexão dos educadores com os estudantes -considerando os profissionais que passam as 40 horas na mesma escola. Isso facilita, por exemplo, uma formação continuada mais próxima da realidade daquela escola.
Por outro lado, o modelo pedagógico, diz Saad, também tende a resultar numa formação melhor, concentrada no projeto de vida dos alunos. "Então tudo que existe na escola é para que o jovem possa sonhar, desenhar e, no futuro, executar seu projeto." Entre as medidas para isso, ele cita as tutorias, os clubes juvenis e a escolha de disciplinas eletivas.
"Se você tem uma escola com esse modelo, com todas as características estruturantes melhores, deveria esperar resultados melhores, tanto que no Ideb houve uma diferença de 0,3 pontos entre regulares e integrais de ensino médio. Nas mais maduras, com três anos ou mais, chegou a 0,4."
O estudo também indicou que pretos, pardos e indígenas chegaram a resultados melhores no Enem, na comparação com estudantes brancos em ciências humanas (9,79, ante 9,42) e na redação (32,72 e 20,5, respectivamente). As notas são mais baixas nos casos de linguagens (7,62 ante 7,78), e matemática (5,72 e 8,1). Cada grupo de estudantes desagregados por cor/raça do ensino integral foi comparado com seu correspondente no ensino parcial.
O impacto em empregos formais também é maior, com aumento de 4,5% nos postos de trabalho para pretos, pardos e indígenas, ante 1,5% para brancos e amarelos.
Segundo Saad, a implementação das escolas de ensino médio integral nos estados, especialmente em seus estágios iniciais, precisa considerar o local da unidade. "Se isso começa numa área predominantemente branca, o impacto pode ser negativo em relação à equidade racial, porque você oferece uma ferramenta mais poderosa de maneira desigual."
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