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Malafaia estreia no setor educacional com Faculdade Vitória em Cristo

24 fev 2022 às 15:44

Do lado de dentro, jovens lotam a igreja para escutar palestras do vereador Nikolas Ferreira (PRTB-MG) e da deputada estadual Ana Caroline Campagnolo (PSL-SC), duas coqueluches do conservadorismo nacional que pintam universidades, sobretudo as públicas, como máquinas de transformar estudantes em groupies de Karl Marx.


Lá fora, um estande anuncia a estreia da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, do pastor Silas Malafaia, no setor educacional: a FVC (Faculdade Vitória em Cristo), que abriu em janeiro um processo seletivo para preencher 500 vagas em teologia, sua primeira graduação.


Divulgado no Imersão Amplitude, evento para promover o engajamento político entre a garotada evangélica, o curso foi credenciado pelo MEC (Ministério da Educação) em dezembro, na modalidade ensino a distância –só as provas serão presenciais, no fim de cada um dos seis períodos previstos.


Ao longo de três anos, os alunos terão, além de aulas sobre fundamentos bíblicos básicos, disciplinas como psicologia e empreendedorismo.


Diz Malafaia que a juventude não pode "ficar só comendo na mão de professor esquerdopata na faculdade, na escola em que eles estão". Daí dar o primeiro passo no setor, que não deve ser o último. "Então, isso [abrir o polo de educação] era um sonho. Estamos engatinhando nessa área. Meu sonho é fazer escolas de excelência pra criança."


Colégios de ponta custam, hoje, "uns três, quatro, cinco pau", calcula o pastor. "Quero fazer escolas desse nível pra pagar 200 pratas, pra igreja subsidiar. Escola top, pro moleque que entrar sair falando inglês sem precisar fazer cursinho", diz o pastor que criou "ojeriza" pelo idioma" após uma péssima experiência com uma professora que o ensinava quando era estudante.


Foco na faculdade, por ora: a mensalidade para aprender teologia é de R$ 399, mas há descontos generosos para membros da igreja de Malafaia. Pastores da casa recebem o maior abatimento: 60% do valor. O processo seletivo teve cerca de quatro candidatos por vaga.


Malafaia conta que o plano não é criar um núcleo universitário com o selo Vitória em Cristo, mas a oferta de graduações deve se estender nos próximos anos.


"Nossos sonhos são grandes porque nosso Deus é grande", afirma o pastor Isaías Júnior, diretor-geral da FVC. Coronel do Exército, hoje na reserva, por décadas ele deu aula em colégios militares. Também já formulou questões para o banco nacional de onde saem as perguntas para provas como a do Enem.


"Pretendemos lançar cursos de graduação e pós-graduação em diversas áreas: pedagogia, administração, licenciaturas, psicologia, direito, enfim, todas as áreas do conhecimento."


A FVC é, sim, de Deus, segundo Isaías. "Somos uma instituição confessional, evangélica e pentecostal, ligada à Assembleia de Deus Vitória em Cristo. Essa é nossa marca e nosso diferencial."


Com um adendo: "Isso, porém, não significa que nosso currículo seja hermético. Seguimos as diretrizes do MEC e propomos uma abordagem dialógica em relação às diversas correntes filosóficas e teológicas".


Mestres ou doutores, os professores são todos cristãos, mas vêm de igrejas diversas, como a Batista e a Maranata. As mantenedoras da faculdade são a Associação Vitória em Cristo e a Assembleia de Deus Vitória em Cristo. Ou seja, dízimos e ofertas ajudam a pagar tudo.


Algumas das primeiras universidades americanas, como Harvard, Yale e Princeton, foram fundadas por protestantes.


No Brasil, a incursão de religiosos no ramo vem de longa data, vide instituições já de renome, como a católica PUC (Pontifícia Universidade Católica), a presbiteriana Mackenzie e a Universidade Metodista de São Paulo. Já instituições pentecostais, que representam o maior filão evangélico do país, têm menos tradição no ensino superior.


Pastor e doutor em Ciências da Religião, Kenner Terra lembra o pioneirismo do Ibad (Instituto Bíblico das Assembleias de Deus), fundado em 1958 por um casal de missionários que organizava aulas para oito alunos numa casa alugada. Só em 2016 conseguiu o status de faculdade no MEC, com a Fabad.


O pastor José Wellington Bezerra da Costa, por anos presidente da Convenção-Geral das Assembleias de Deus no Brasil, conseguiu em 2005 credenciar sua Faculdade Evangélica de Tecnologia, Ciências e Biotecnologia. Há quatro graduações hoje listadas no ministério: teologia, direito, administração e pedagogia.


Em 2018, o Republicanos, costela partidária da Igreja Universal do Reino de Deus, anunciou a Faculdade Republicana. Em 2021, montou duas turmas presenciais (ciência política e gestão pública) e uma penca de cursos remotos, de marketing a educação física.


Para o pastor Clemir Fernandes, codiretor-executivo do Instituto de Estudos da Religião, ao abrir seu próprio nicho educacional "Malafaia deve estar buscando diversificar suas ações como empresário da religião, porque é um mercado crescente".


"As igrejas dele se expandiram e também precisam formar 'mão de obra' no estilo próprio", afirma.
Malafaia prefere citar um provérbio bíblico (22:6) para justificar o interesse de religiosos pela educação. "É o sábio Salomão que disse: ensina a criança no caminho em que deve andar para que quando envelhecer, sabe, quando ficar velha, quando chegar na idade da maturidade maior, ela não tenha problemas".


Em seguida, o pastor volta à carga contra seus inimigos de hábito. "Não vem de comunistas nem de socialistas o interesse primeiro em educação. Veio da cultura cristã."

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