Os profissionais da Geografia e da Geologia têm muito a comemorar nesse final de semana, quando se celebra o Dia do Geógrafo (29 de maio) e o Dia do Geólogo (30 de maio). Há muitas contribuições desses profissionais para alguns avanços recentes nas áreas da saúde, da inteligência de dados e da preservação do meio ambiente. Para homenageá-los, o Crea-PR (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná) fez um levantamento de algumas inovações recentes promovidas por esses profissionais.
Geologia médica - Você já deve ter ouvido falar sobre as propriedades curativas de determinados tipos de argilas, ou ainda sobre o poder medicinal de águas – que são conhecidas por diversos termos, como águas termais, minerais, sulfurosas... O termo SPA (salute per aqua) vem também desse conhecimento de que o uso de águas com propriedades químicas pode ser muito benéfico para a saúde. Da mesma forma, há solos com minerais pesados que podem ser nocivos.
A percepção da relação entre o solo e a incidência de doenças - ou estados de bem-estar e cura – é o objeto de estudo de uma área do conhecimento conhecida como Geologia Médica. "A Geologia Médica – que se utiliza da Geoquímica – é um área muito recente da Geologia e vem se expandindo muito. Essa vertente da Geologia está associada às ciências da saúde para ajudar as pessoas a entenderem quando algumas doenças podem ter sido provocadas pela falta ou pelo excesso de algum elemento químico presente na água, nas rochas, ou no solo da região onde vivem”, explica o conselheiro do Crea-PR, Geólogo Abdel Hach. A perspectiva é de que o uso crescente desses dados possa melhorar a condição de vida de comunidades inteiras ao evitar moradias em locais que apresentarem condições geoquímicas desfavoráveis para a saúde das pessoas.
Leia mais:
2024 é o ano mais quente da história da humanidade, calcula observatório Copernicus
Governo poderá decidir futuro de colégios que não registrarem quórum mínimo em votação
Após reforma e ampliação, Londrina entrega Escola Municipal na Zona Norte
Estudante de Rolândia vai jantar com Lula e representar o Paraná em evento nos EUA
Lei de proteção de dados - As Geociências são o principal caminho para se entender modelos complexos da sociedade – seja na economia, na saúde, no desenvolvimento das cidades. A frase é do Geógrafo Jorge Campelo, questionado pelo Crea-PR sobre os principais avanços recentes da Geografia.
Se há dados que precisam de interpretação para indicar padrões ou referências, há de haver um Geógrafo para ler, correlacionar e mapear esses dados, construindo indicadores. O fato é que vivemos em uma sociedade com a maior disponibilidade de dados da história. E essa abundância de informações parece ser exponencial. Somos estimulados a compartilhar nossos dados pessoais sempre que interagimos virtualmente, com a justificativa de que quanto maior a precisão em relação a nossos dados pessoais, maiores – e mais surpreendentes - serão as chances de acerto das sugestões on-line.
Mas, para evitar que sejamos presas fáceis de projetos menos bem-intencionados, foi criada a LGPD (lei geral de proteção de dados), Lei Federal nº 13.709, em vigor desde setembro de 2020. As penalidades pelo descumprimento da lei podem chegar a multas de até R$ 50 milhões. "A localização é um dado sensível e um elemento de estudo e de trabalho da Geografia. E também um dado de privacidade e protegido pela LGPD. Mas são raros os aplicativos que não usam – e não tornam pública - sua localização. O Facebook, por exemplo, se você não mudar suas configurações, vai ter acesso permanente a essa informação pelo GPS do seu celular”, explica Campelo.
"Há pontos positivos em compartilharmos alguns dados, mas é preciso ter limites. E essa lei poderá nos auxiliar na criação desses parâmetros”, alerta. Se você é pessoa jurídica e está solicitando dados para seus clientes, precisa informar a finalidade e ter o consentimento do titular para usá-lo. A ANPD (Agência Nacional de Proteção de Dados) poderá aplicar sanções para o descumprimento da LGPD a partir de 1º de agosto.
Dia Internacional da Geodiversidade - Essa é uma data que ainda não existe – mas está prestes a ser criada. O tema da Geodiversidade é considerado tão relevante para a sustentabilidade do planeta que, em abril de 2021, 70 países foram signatários da proposta de comemorar a data apresentada à ONU (Organização das Nações Unidas).
Ligada a uma nova área das Geociências, a Geodiversidade tem como ponto de partida a Geoconservação, que consiste em fazer a gestão dos diversos elementos da Geologia, como rochas, minerais, fósseis, formas de relevo - e os processos que os originam e modificam - e principalmente aqueles que têm valor excepcional, denominados de geossítios - lugares de interesse geológico que ajudam a explicar a formação da Terra.
A Geoconservação já tem um protagonismo na Europa desde a década de 1990 e no Brasil vem ganhando força. No Paraná, há riqueza e diversidade nas formações geológicas – como as Cataratas do Iguaçu, Vila Velha, os Aquíferos Karst e Guarani, e a Bacia Sedimentar de Curitiba, com fósseis de animais vertebrados com 40 milhões de anos.
A essência dessa área da Geologia é cuidar para que esse patrimônio natural geológico seja conservado, por meio de programas e estratégias. "Do ponto de vista da Geologia, podemos dizer que as discussões no Brasil estão alinhadas com os principais temas discutidos no mundo. Estamos atualizados em tecnologia e contribuindo para a evolução dessas questões”, explica o conselheiro do Crea-PR Abdel Hach, que integra o grupo de pesquisadores independentes de paleoclimatologia junto ao Unep-ONU (United Nations Environment Programme).
O Dia Internacional da Geodiversidade deve ser ratificado em novembro na Assembleia Geral da ONU e deverá ser comemorado pela primeira vez no dia 6 de outubro de 2022.
Plataforma paranaense de inteligência de dados - Quem trabalha com pesquisa de dados sabe sobre a dificuldade em encontrar informações uniformes de fontes confiáveis. Nem sempre o acesso é simples e nem sempre a informação é a mais atualizada. Essas são algumas questões que poderão ser resolvidas até meados de 2022, com o lançamento do GeoPR, uma plataforma paranaense inteligente de dados.
O trabalho coordenado pela Núcleo de Inteligência Geográfica e da Informação, do IAT (Instituto Água e Terra), teve início em janeiro de 2021 e deverá ser concluído em junho de 2022. "O projeto consiste no desenvolvimento de uma plataforma inteligente de dados, onde será implantada a infraestrutura de dados espaciais do meio ambiente do Paraná e o portal para disponibilização das informações, denominado Hub-AT”, explica a gerente do projeto, Geógrafa Sonia Burmester do Amaral.
Além de organizar as informações já disponíveis, o GeoPR terá espaço para receber dados novos de outras secretarias de Estado e terá capacidade para ser uma infraestrutura que irá centralizar os dados espaciais do Paraná. "A facilidade em encontrar esses dados em um mesmo lugar é um ganho imenso para todos os usuários e para diferentes fins – para quem licencia, para universidades, para outorgas, para fiscalização e para todos os públicos que trabalham com essas informações. Acredito que também teremos melhoras na qualidade da entrega, com olhares diferentes. E a intenção é termos essa referência, onde todos que necessitam destes tipos de dados em suas análises e trabalhos possam encontrar no mesmo lugar (a GeoPR) e assim termos discussões que se darão sobre as mesmas fontes de informação”, avalia a gerente.
A previsão de lançamento do GeoPR é junho de 2022.
Atualmente, o Crea-PR tem 407 Geógrafos e 1.047 Geólogos registrados em todo o Paraná.