O fechamento prolongado das escolas na América Latina e Caribe pode levar a região a ter um salto no número de crianças que terminam os anos iniciais do ensino fundamental sem conseguir ler e compreender um texto simples, aponta relatório do Banco Mundial.
A região é uma das que mais preocupa a organização, já que pode ter um dos maiores aumentos absolutos de pobreza de aprendizagem do mundo. O indicador é medido pelo número de crianças de 10 anos com dificuldades severas de leitura.
Antes da pandemia, estima-se que a situação alcançava 51% dos alunos da região. O relatório, publicado nesta quarta (17), diz que os efeitos da pandemia já podem ter elevado esse número para 62,5%, o equivalente a deixar mais 7,6 milhões de crianças desses países nessa condição.
O Banco Mundial diz que, sem ações imediatas para mitigar os prejuízos educacionais, as consequências serão graves e duradouras, inclusive para a economia da região.
As perdas de aprendizagem e produtividade da geração afetada pela suspensão das aulas presenciais podem levar a um declínio no potencial de ganhos agregados de US$ 1,7 trilhão para a região.
Segundo o relatório, a situação é particularmente preocupante na região porque os países já enfrentavam uma crise de aprendizagem anterior à pandemia e têm a maior desigualdade no acesso à educação de qualidade no mundo.
O Banco Mundial diz reconhecer os esforços dos países para manter as atividades letivas de forma remota, no entanto, alerta que as limitações do modelo prejudicam especialmente as crianças mais pobres.
Por isso, diz que os os governos precisam de maneira urgente se preparar para a reabertura segura e efetiva de suas escolas em nível nacional, com os recursos e ferramentas necessários para assegurar a retomada das atividades presenciais.
"Apesar de muitos países da região terem iniciado esta etapa de recuperação, a prontidão e a implementação ainda são um problema", diz o documento. A organização diz que é preciso investimento na estrutura das escolas e valorização dos professores para que a sociedade sinta segurança no retorno.
"Um dia de escola aberta não compensa um dia de escola fechada. A perda que tivemos com esse período vai ser muito danosa, por isso, é preciso um plano forte de recuperação", diz Ildo Lautharte, economista do Banco Mundial.
No Brasil, apesar de esforços locais para a reabertura das escolas, o agravamento crítico da pandemia levou a um novo fechamento das unidades. Estados como São Paulo, Ceará, Pernambuco, Amazonas decidiram por mais uma suspensão de atividades presenciais até que haja redução no número de contaminações.
A situação brasileira é uma das que mais preocupa a organização, já que é o país da região com o mais grave cenário da pandemia e o que tinha apresentado melhorias educacionais mais consistentes nos últimos anos.
"Um dos principais temores é que o Brasil perca em um ano o que levou 10 anos para conquistar [de avanços educacionais]", diz Lautharte.
Segundo o Banco Mundial, até o fim de 2020 os países da região ficaram, em média, 159 dias sem aulas presenciais.
Monitoramento mundial da Unesco mostra que nesta quarta (17) apenas 29 países do mundo continuam com o fechamento total das escolas - oito deles (Belize, Bolívia, El Salvador, Honduras, México, Panamá, República Dominicana e Venezuela) na América Latina e Caribe.
Além do aumento de crianças em situação de pobreza de aprendizagem, o relatório do Banco Mundial estimou também as perdas de ensino pelas pontuações do principal exame educacional do mundo, o Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, na sigla em inglês), que avalia o conhecimento de estudantes de 15 anos.
Antes da pandemia, 55% dos estudantes chegavam a essa idade sem alcançar o nível mínimo de proficiência na prova, ou seja, sem ter conhecimentos e habilidades considerados básicos para a faixa etária.
Com o fechamento das escolas por 10 meses (período equivalente a um ano letivo), a organização calcula que a situação possa alcançar 71% dos estudantes. Se a suspensão se prolongar por 13 meses, o número pode chegar a 77%.
Sem esse conhecimento mínimo, o jovem tem dificuldade, por exemplo, para seguir instruções de um manual ou identificar a ideia principal em um texto.
Segundo a organização, as perdas educacionais devem ser mais significativas entre os alunos mais pobres, já que tiveram maior dificuldade para continuar estudando no período. O relatório calcula que a desigualdade de aprendizagem entre os estudantes mais ricos e mais pobres pode alcançar uma diferença de quase 3 anos letivos.