Os estudantes que concluíram o 2º ano do ensino médio em 2020, quando ocorreu a suspensão das aulas presenciais por causa da pandemia de Covid-19, podem ter chegado à próxima série com proficiência menor em matemática e português.
Com esforço para melhorar o ensino ofertado no 2º semestre de 2021, até 40% dessa perda de aprendizado pode ser recuperada.
O diagnóstico é do estudo "Perda de Aprendizagem na Pandemia", feito pelo Instituto Unibanco e pelo Insper. Os dados foram apresentados nesta terça (1º).
Sem ações para mitigar os prejuízos educacionais sofridos por essa geração durante a pandemia, o estudo calcula que os jovens poderão ter perda de renda de R$ 430 mil ao longo da vida.
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Considerando os 35 milhões de alunos do ensino fundamental e médio do país, a perda de remuneração desses estudantes pode levar a um impacto de R$ 1,5 trilhão na economia do país.
O estudo estimou o quanto os estudantes deixaram de aprender em 2020, quando a pandemia interrompeu o ano letivo nas escolas brasileiras. Na maioria das redes públicas do país, as aulas continuam ainda apenas a distância.
Diante da ausência de avaliações em larga escala para identificar o déficit, o estudo estimou a perda de aprendizagem em três cenários: com alta adesão ao ensino remoto, com baixa adesão e sem nenhuma estratégia a distância.
Para as simulações, o economista Ricardo Paes de Barros, pesquisador do Insper, se baseou em estudo anterior que já havia calculado o "impacto do absenteísmo" na educação. Esse indicador identificou que, para cada dia de aula perdido, o estudante não só deixa de aprender o conteúdo daquele dia mas sofre também uma perda adicional equivalente a 1,55 dia de aula.
Por referência, foi considerado que um aluno brasileiro tipicamente aprende ao longo de todo o ensino médio 20 pontos a mais em português e 15 em matemática, em média, em relação à sua pontuação no ensino fundamental no Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica).
Assim, após um ano regular, sem interrupção anormal das aulas presenciais, os alunos chegariam ao 3º ano do ensino médio, em média, com proficiência de 269 pontos em português.
Com a interrupção das aulas presenciais com a pandemia, o primeiro cenário calcula que os alunos perderiam 3 pontos da proficiência esperada se tivessem recebido boas condições para se engajarem no ensino remoto, chegando a 266 pontos. Sem ações de apoio para um bom acompanhamento, a perda seria de 9 pontos (260).
Caso nenhuma estratégia de ensino fosse garantida a esses alunos durante todo o ano, a perda seria de 12 pontos e eles chegariam a uma proficiência de 257. Ou seja, saberiam menos do que um ano antes, quando começaram o 2º ano do ensino médio, e tinham uma proficiência de 260.
"O ensino presencial é vital, mas não podemos ficar de braços atados enquanto isso. O ensino remoto é importante não apenas para o jovem manter o vínculo mas para evitar perdas e para que o aluno consiga avançar no aprendizado", diz Barros.
Para o economista, em locais do país onde ainda não seja seguro retomar as atividades presenciais, intervenções para melhorar a oferta do ensino remoto podem reduzir os prejuízos.
Levantamento do jornal Folha de S.Paulo mostrou que 14 estados e o Distrito Federal ainda não retomaram as aulas presenciais nas escolas públicas. Os governadores tentam firmar um pacto nacional, com o compromisso de vacinar todos os profissionais da educação até julho, para a reabertura dos colégios em todo o país em agosto.
Ainda que haja o esforço pela vacinação do grupo, o avanço do número de casos e novas variantes de Covid-19 são vistos como entrave para a retomada das aulas.
"É claro que a educação não pode atropelar a saúde. Se não for seguro, não deve haver o retorno. O que não podemos é achar que estamos de mãos atadas e só enfrentar o problema educacional ao fim da pandemia. É preciso agir agora. O ensino remoto, se bem pensado, evita perdas."
Para Ricardo Henriques, superintendente-executivo do Instituto Unibanco, as perdas provocadas pela pandemia são enormes, mas é possível reduzi-las se houve o empenho para colocar ações em prática no segundo semestre letivo de 2021, como a adoção do ensino híbrido e melhorando a eficácia das aulas remotas.
"Mesmo que as escolas reabram, provavelmente, os alunos não poderão voltar a frequentá-la 100% como antes. Vamos precisar de estratégias para garantir o ensino desses jovens em casa. Precisamos buscar a melhor forma de ensinar e identificar o que é mais importante para que ele aprenda", afirma.