O Dia Mundial da Alfabetização, comemorado em 8 de setembro, foi criado em 1967 pela ONU por meio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) com o objetivo de reforçar a importância da alfabetização para o desenvolvimento social e econômico mundial. A leitura, hábito indispensável para a formação de crianças e adultos e um dos pilares do processo de alfabetização, pode cumprir um papel ainda mais fundamental durante o isolamento social, época em que os alunos estão longe do convívio escolar, conforme explica a professora do curso de pedagogia da Unopar do Piza, Josiane Rodrigues Barbosa Vioto.
Segundo a PNAD, divulgada pelo IBGE em junho de 2019, é considerado alfabetizado aquele que sabe ler, escrever e interpretar um bilhete simples. O conceito parece fácil de ser atingido, mas no Brasil, segundo os dados da pesquisa, essa é uma realidade distante para mais de 11,3 milhões de brasileiros considerados analfabetos ou analfabetos funcionais. Frente a realidade apresentada, percebe-se que "a educação é o melhor caminho para transformar esse triste índice. Para tanto, é imprescindível ao se falar em educação levar em consideração a leitura, que no atual contexto, tem um papel muito importante e contribuindo no desenvolvimento intelectual, pessoal e socioemocional das pessoas, independentemente da idade”, afirma.
Em relação às crianças que estão no processo de alfabetização, a pedagoga orienta que as famílias devem tornar o período da quarentena uma oportunidade para estabelecer trocas saudáveis no ambiente familiar, estimulando a leitura. "Além do conhecimento que adquirem na escola, a leitura quando incentivada dentro de casa, em horário alternativos e junto à família, apoia o aprendizado e o desenvolvimento de competências e habilidades muito importantes para a vida adulta e o mercado de trabalho, como interpretação, criatividade, empatia, tolerância, além de capacidade e senso crítico. Além disso, tem o poder de nos levar para outros lugares e nos tirar do tédio e da solidão, sentimentos que tendem a aumentar nesse período de isolamento”, explica.
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Josiane destaca que os contos infantis têm um papel fundamental também na construção do sujeito-leitor. "Eles são primordiais para ensinar às crianças futuras experiências que elas encontrarão durante seu crescimento intelectual. Não há processo de aprendizagem sem leitura, principalmente quando pretendemos desenvolver as competências intelectuais. Quando trabalhamos com contos infantis na escola, a priori, eles cumprem um papel didático, como é o caso das fábulas, cuja moral permeia a narrativa e os contos infantis também fazem com que as crianças entendam o mundo adulto que eles irão vivenciar mais tarde”, complementa. Outro ponto importante é que a leitura pode ser o portal para conhecer outros mundos, o que inclui também novas culturas e pontos de vistas diferentes.
A docente da Unopar do Piza reforça ainda que, para pais que são leitores assíduos, a tarefa de incentivar o hábito no público infantil pode ser mais fácil. "Sabemos que o período da quarentena mudou o comportamento social do mundo inteiro e exigiu uma nova reconfiguração do lar. No caso de pais que já praticam a atividade, o processo de usar a leitura como passatempo pode acontecer de forma mais natural, pois no ambiente doméstico existe esta partilha de experiência de livros e revistas e a criança começa a enxergar a leitura como algo agradável e com significados diversos. Contudo, no caso de pais que não exercitam esta prática, o desafio é maior. De qualquer forma, é importante ressaltar que este é um bom momento para iniciar esse costume ”, orienta.
O papel da tecnologia
Segundo a edição mais recente da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, desenvolvida pelo Instituto Pró-Livro em 2016, 26% das pessoas que já ouviram falar em livros digitais leram conteúdos nesse formato. Esse número cresce para 34% entre os considerados leitores e 38% entre os que dizem gostar muito de ler no formato online. Além disso, o encantamento das crianças com os equipamentos tecnológicos, que vem desde os primeiros meses de vida, acaba criando um novo perfil de consumidores do entretenimento e também de novos adeptos a leitura.
Para Josiane, a internet não deve ser vista como vilã e sim como uma aliada no incentivo à leitura. "Quando usada de forma adequada, respeitando as indicações de tempo para cada idade, o digital é um grande colaborador para o crescimento do consumo de livros, oferecendo novos formatos e possibilidades. Por meio do ambiente online, temos acesso a um acervo muito maior de obras, inclusive gratuitas. Nesse caso, a internet não anula o livro, eles caminham juntos! De forma rápida e natural, a tecnologia está despertando o interesse e formando novos leitores”, afirma.
A leitura virtual, inclusive, pode ser uma aliada para mudar o cenário de livros lidos pelos brasileiros. Segundo a mesma pesquisa do Instituto Pró-Livro, a média do brasileiro é de 2,54 livros por ano. O estudo considerou como leitor pessoas que leram ao menos um livro, inteiro ou em partes, nos 3 meses anteriores. No total, apenas 56% dos entrevistados foram considerados leitores.
Para a pedagoga, a leitura deve ser transformada em hábito . "Desde a barriga da mãe, a criança deve ter contato com a leitura, sendo incentivada constantemente. Após o nascimento, isso deve se perpetuar. Mesmo que a criança ainda não saiba ler, o simples ato de segurar um livro acaba gerando curiosidade. Criar uma rotina de leitura é um fator importante, que deve fazer parte do dia a dia das pessoas, sobretudo pelo prazer que proporciona”, completa.