Jovens interessados em obter informações corretas sobre educação e métodos contraceptivos contam agora com o suporte da campanha #ProntosParaEssaConversa, lançada pelo Compasso (Laboratório de Comunicação Publicitária Aplicada à Saúde e à Sociedade), projeto de extensão da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). A campanha pode ser acessada no site (acesse aqui) e está circulando pela internet, nas mídias sociais, informou à reportagem o professor Sandro Torres, da ECO (Escola de Comunicação) da UFRJ, responsável pelo projeto.
O objetivo é informar e conscientizar os jovens sobre temas relacionados à gestação na adolescência, por meio de um diálogo simples e confiável. A campanha é realizada sem custo pelos alunos da UFRJ, em parceria com a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e a prefeitura de Niterói.
Segundo Torres, foi feito um trabalho preliminar de pesquisa e entrevistas com especialistas de diversas áreas, incluindo análise de artigos e conteúdos científicos, para montagem de um banco de informações, que foram traduzidas para uma linguagem acessível a jovens de 15 a 19 anos de idade, que é o público-alvo da campanha. A equipe do projeto percebeu que a falta de informação, bem como a propagação de conteúdos desinformativos, isto é, que induzem ao erro ou confundem o receptor, contribuem para os altos índices de gestação na adolescência.
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"A campanha é baseada em personagens que habitam as mídias digitais e que assumem papeis que traduzem o conhecimento para uma linguagem palatável ao público", disse Torres. A meta é evitar a gestação precoce e indesejada que, na linguagem da juventude, significa "deu ruim”. "Durante todo o processo de criação da campanha, passamos por várias etapas. Uma delas foi uma pesquisa com jovens de 15 a 19 anos na qual 98% dos entrevistados indicaram que sentem falta das orientações de educação sobre métodos contraceptivos, tanto na escola quanto em casa, na família. Alegam também que a principal fonte de informação deles está entre amigos e na internet, o que é um absurdo”, disse o responsável pelo projeto.
Impacto - Torres ressaltou que os números também são assustadores. De acordo com a Opas (Organização Pan-Americana de Saúde), a cada mil adolescentes na faixa etária entre 15 e 19 anos no mundo, 44 são mães, enquanto no Brasil, a cada mil jovens 59 têm a primeira gestação na adolescência, resultado muito acima da média global. "Isso tem um impacto sério no desenvolvimento da vida social da população, porque esse jovem que teve a gestação precoce, que foi mãe ou pai precoce, vai ter dificuldade para completar seus estudos e, consequentemente, para ter sucesso na carreira. É um problema que acaba assombrando o sujeito e mexe com a vida dele.”
Sandro Torres destacou que a política de combate e prevenção à gestação na adolescência "é uma política, inclusive, de combate à pobreza”. Citou dados das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia, segundo os quais de quatro mães adolescentes, três são pretas, pobres e periféricas. "Atravessado nessa questão tem um problema de ordem socioeconômica”, apontou o professor. O compromisso do Compasso, como todo projeto de extensão, é pegar o que tem de melhor na pesquisa da universidade e levar para a sociedade, completou.
O projeto é finalista em uma premiação de produção acadêmica laboratorial, durante congresso que vai ocorrer em agosto próximo. Para o coordenador do Laces (Laboratório de Comunicação e Saúde) da Fiocruz, Wilson Borges, a parceria com o Compasso/UFRJ tem dois aspectos que considera cruciais. "O primeiro é que a propaganda é tratada enquanto narrativa, enquanto linguagem. Isso a recoloca em um novo lugar de discussão. E, segundo, a proposta de diálogo com a sociedade é majoritariamente produzida pelos alunos, o que dá um diferencial muito significativo para essas práticas que a gente tem visto”.
Vivências - Carolina Freitas teve a gestação da primeira filha, Sofia, aos 16 anos, no segundo ano do ensino médio e agora, aos 18 anos, está na segunda gestação. Sarah, sua segunda filha, vai nascer neste mês. Ela morava com a avó na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro, e se mudou para Saquarema, na Região dos Lagos, onde conheceu seu namorado e hoje marido, Lucas, pai de suas duas crianças. Atualmente, ele trabalha como chaveiro e ela é dona de casa.
Carolina lembrou que conseguiu concluir o segundo ano do ensino médio, mesmo gestante, porque entrou no nono mês de gestação em novembro. Para fazer o terceiro ano, ela passou a estudar à noite e deixava Sofia, recém-nascida, com a mãe. Assim, ela conseguiu obter o certificado de conclusão do ensino médio. "Mas não consegui fazer a faculdade ainda, por conta da pandemia e porque eu fiquei grávida de novo”.
Paulo Victor Rodrigues, 22 anos, sempre desejou ser pai, mas não aos 19 anos, quando nasceu Alice, hoje com 3 anos. "Foi bem complicado. Tive que adiar alguns planos, tive que ter responsabilidade que, com certeza, eu não teria. Deixei de fazer a faculdade e perdi uma oportunidade profissional. Se minha filha tivesse chegado agora, eu teria essa experiência tranquilo”. Paulo Victor considera muito importante que os jovens sejam informados e orientados sobre o que deve ou não ser feito e sobre as formas de prevenção. A mãe da criança não está mais com Paulo Victor. Os dois têm a guarda dividida da filha, que fica uma semana com cada um. Ele mora com a avó e seu sonho é se tornar jogador de futebol profissional. Atualmente, ele trabalha como professor em uma escolinha de futebol e quer começar a faculdade, que teve que adiar devido à paternidade precoce.
Larissa da Veiga teve a primeira gestação aos 18 anos da filha Helena, que está hoje com 2 meses. Teve também que adiar o sonho de cursar a faculdade de engenharia, mas pretende começar ainda este ano. Ela defendeu que o assunto de educação sobre contracepção não seja tabu entre as famílias, como ocorria no passado. "Minha mãe teve uma reticência muito grande de falar comigo sobre isso. Eu fui saber mais para a frente, só”.
Ela enfatizou a necessidade de os jovens serem mais bem orientados e informados sobre a necessidade de usarem preservativos e de tomar anticoncepcionais, para se cuidarem e se tratarem. Disse que "as coisas começam a mudar agora, porque nós, jovens, estamos levantando essas pautas e também os adultos mais velhos estão analisando que é necessário agir assim, para as pessoas não passarem por experiências ruins”.
Larissa mora no bairro do Lins, zona norte do Rio, com o marido Nathan. Ela trabalha como auxiliar administrativa em uma confeitaria e ele como assistente administrativo em um hospital.
Apoio - O professor Sandro Torres observou que, além da parceria com o Laces, da Fiocruz, a campanha tem apoio de laboratórios de outras instituições, como a Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e a UFF (Universidade Federal Fluminense).