O surgimento de fissuras, mesmo milimétricas, é um fenômeno tão frequente quanto indesejável na construção civil, porque pode reduzir a vida útil dos materiais e até comprometer parte ou toda a edificação. A engenheira civil Nicole Schwantes Cezario faz parte do conjunto de pesquisadores que procura uma solução para este problema. Formada no FAG (Centro Universitário Fundação Assis Gurgacz) de Cascavel (Oeste), desde a graduação ela foca neste objeto de estudo. No Mestrado, concluído em 2017, trabalhou com uma bactéria e, no Doutorado do Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil recém concluído, estudou a ação da bactéria Bacillus subtilis no fechamento de fissuras.
Graças à colaboração da Microbiologia da UEL (Universidade Estadual de Londrina), amostras isoladas da bactéria foram trazidas de cavernas da Amazônia, onde é naturalmente encontrada. Não apenas em ambientes como este, afinal na Holanda e na Bélgica os estudos estão mais avançados e a bactéria até já é comercializada. Naqueles países, a bactéria é usada em lajes e reservatórios, entre outros locais.
O que a bactéria faz, natural e involuntariamente, é criar cristais para melhorar as condições de seu próprio ambiente. Para isso, ela precisa de uma fonte de cálcio, ambiente alcalino e água. Praticamente, está descrito o material cimentício, que tem alto teor alcalino (12).
É esta propriedade, nestas condições, que tem mostrado como a bactéria é eficiente no fechamento de fissuras. Nicole demonstrou que uma fissura de 0,2 mm de largura foi fechada em 63 dias. Ela conta que fez testes com fissuras de até 0,4 mm, e que em outros países existem estudos de fissuras ainda maiores. Na variação dos três fatores, a pesquisa mostrou que a diminuição da umidade resulta numa autocicatrização menos eficiente. E se a quantidade de cálcio é reforçada, potencializa a ação do microrganismo.
Para a professora Berenice Martins Toralles, do Departamento de Construção Civil da UEL e
orientadora de Nicole, existem muitas outras vantagens em utilizar uma
bactéria.
“Existem produtos químicos, mas a bactéria, como material biológico, é mais recomendável, porque é uma substância não manipulada, é ambiental, sustentável, e não causa dano nenhum à saúde”, comenta. Outra vantagem é que a bactéria deixa o material cimentício menos poroso, ou seja, menos suscetível à infiltração de água.
De acordo com Cezario, a bactéria passou por um processo de secagem para ser transportada da Amazônia para Londrina. Para fins práticos como o manuseio e a comercialização, é interessante que esteja em pó. Mas a pesquisa avança para utilizar o microrganismo numa solução aquosa. “A pessoa pode então borrifar em cima da fissura e esperar a bactéria agir”.
Cimebio
Desde o final de 2019, a pesquisa tem contado com recursos do Programa Sinapse da Fundação Araucária, obtidos em edital, no valor de 40 mil reais. Com eles, testaram outra bactéria de caverna isolada, fizeram experiências laboratoriais, testes de validação, entre outras ações. Também conta com a assessoria da Aintec, onde está como incubada (Cimebio), e conseguiu mais recursos com o Programa Startup Match, também do governo estadual, para alocar pesquisadores, levando para o projeto um engenheiro e uma microbiologista, ambos mestres pela UEL.
A professora Toralles enfatiza a importância destes recursos, dos
programas de financiamento e do investimento do governo do Paraná em
pesquisa.
“É muito bom que o governo valorize e incentive outros pesquisadores a desenvolverem seus projetos”, diz.
Ela e Cezario também
destacam as parcerias do projeto, que envolveu outros Programas de
Pós-Graduação, alunos de graduação, vários
laboratórios da UEL e professores da Microbiologia.
“Os laboratórios são grandes parceiros”, afirma Toralles. “E sem os professores da Microbiologia estaríamos na estaca zero”, completa Cezario.
Veja abaixo as fotos da ação das bactérias nas rachaduras. Os dois quadros de cima mostram a mesma fissura sem a bactéria. Os de baixo representam a ação do micro-organismo após os 63 dias de aplicação.