A Secretaria de Estado da Educação no Paraná confirmou nesta quarta-feira (3) ter feito descontos nos salários de quase 20 mil professores e funcionários de escolas que participaram da greve realizada no início do mês passado. A pasta também determinou o afastamento de quatro diretores que aderiram à paralisação.
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A greve durou apenas três dias e terminou em confusão na Assembleia Legislativa, onde os educadores foram protestar contra projeto da gestão Ratinho Junior (PSD) que transfere a administração das escolas para empresas, uma das pautas da mobilização.
O secretário da Educação, Roni Miranda, diz que o governo estadual obteve uma liminar suspendendo a greve e que os servidores não podiam ter interrompido as atividades. "O sindicato estava ciente que descumpria ordem judicial e deveria ter primado pela questão salarial e da carreira dos professores. O sindicato que tem que responder agora aos professores como resolver isso", disse ele, em entrevista à reportagem nesta quarta-feira (3).
A APP-Sindicato, que representa os trabalhadores da educação, defende que a liminar, assinada em um sábado (1º de junho), apenas condicionava a realização da greve à apresentação de um plano para manutenção dos serviços, documento que, segundo a entidade, foi de fato entregue à Justiça Estadual ainda no domingo (2 de junho), daí o início das mobilizações, que começaram na segunda-feira, 3 de junho.
Presidente da APP-Sindicato, Walkiria Olegário Mazeto disse à reportagem nesta quarta que reivindica junto à secretaria a reposição dos dias parados com a devolução dos valores descontados. "Nossa luta continua sendo para que essa falta seja reconhecida como falta justificada, uma vez que a greve é legal", disse ela, ao acrescentar que o tema também está sendo debatido em reuniões de mediação promovidas pelo Tribunal de Justiça do Paraná.
"A falta lançada como está, como falta injustificada, para além dos descontos salariais, ela impacta no avanço na carreira", disse ela.
Em relação aos quatro diretores afastados temporariamente, dois foram à Justiça Estadual para tentar voltar aos cargos -um obteve liminar favorável.
O secretário afirma que os diretores terão direito à defesa dentro de um processo administrativo que é aberto de praxe em casos assim. Ao final desta etapa, os diretores podem ser afastados de forma definitiva, segundo ele.
"O afastamento tem a ver com abandono de trabalho. Um diretor, quando assume a gestão de uma escola, assina um termo de compromisso, de que sempre estará na escola. E eles se ausentaram da escola sem comunicar a chefia imediata", disse Roni.
SECRETARIA DEFENDE VÍDEO
O secretário também defendeu nesta quarta o vídeo enviado pela pasta em junho aos celulares dos pais dos alunos e no qual são feitos ataques à APP-Sindicato. O vídeo se refere às mobilizações dos professores como manifestações "partidárias e violentas" que colocariam "seu filho em risco".
"O objetivo do vídeo era para que os pais preservassem a integridade física dos seus filhos, que eles enviassem seus filhos para as escolas e permanecessem cientes sobre onde seus filhos estavam, se participando ou não de algum movimento", justificou Roni.
O secretário também disse à reportagem que o material só não tinha assinatura "por um equívoco". "No final do vídeo não tem assinatura. Não deveria ter acontecido. Mas ele foi disparado pelo número que a Seed [a Secretaria de Educação] frequentemente utiliza para comunicação com os pais", justificou Roni, ao negar que se tratava de uma peça propositalmente apócrifa.
O vídeo foi enviado para 4.076 remetentes via WhatsApp e 2.103.805 remetentes via SMS e, segundo a pasta, foi produzido pela própria equipe da secretaria, sem custo adicional. "Nenhuma empresa foi contratada para fazer o vídeo", disse o secretário.
O Ministério Público abriu uma investigação sobre o caso e parlamentares da bancada da oposição na Assembleia Legislativa querem que o secretário dê explicações em audiência na Casa.
Presidente da APP-Sindicato, Walkiria Olegário Mazeto disse que a entidade reagiu ao vídeo com "indignação e preocupação". "Num país polarizado politicamente, como vivemos, um conteúdo que criminaliza a luta dos movimentos pode construir na população um ódio a todo tipo de luta dos trabalhadores", afirmou ela.