Pesquisar

Canais

Serviços

Publicidade
Publicidade
Publicidade
Prejuízo maior em classes baixas

Crianças da pré-escola podem ter perdido até 6 meses de aprendizagem com a pandemia

Isabela Palhares e e Patrícia Pasquini - Folhapress
07 out 2021 às 11:21

Compartilhar notícia

- Reprodução/Pixabay
siga o Bonde no Google News!
Publicidade
Publicidade

A interrupção das aulas durante a pandemia pode ter causado uma perda de aprendizagem de até seis meses em crianças de quatro e cinco anos. O cálculo foi feito por pesquisadores que observaram os alunos antes e durante a crise sanitária gerada pelo coronavírus.


O maior prejuízo de aprendizagem foi verificado em crianças de famílias com maior vulnerabilidade social, em que o acompanhamento das aulas a distância foi mais difícil ou não ocorreu.

Cadastre-se em nossa newsletter

Publicidade
Publicidade


A principal preocupação é que, se não corrigidos os déficits, eles se perpetuem por toda a trajetória escolar.

Leia mais:

Imagem de destaque
Saiba mais

Inep divulga gabarito oficial do Enem

Imagem de destaque
Sessenta formandos

Apucarana promove formatura de curso de formação em Libras

Imagem de destaque
12,8% não tem graduação

Um em 3 professores de escolas públicas não tem formação adequada

Imagem de destaque
Confira

Paranaprevidência publica edital de concurso para nível técnico e superior

O estudo, no entanto, indica que as perdas são reversíveis se houver diagnóstico individual dos atrasos e esforço para a recuperação das habilidades.

Publicidade


Os pesquisadores calcularam as perdas no desenvolvimento de habilidades matemáticas, de linguagem, físicas e motoras durante a suspensão das aulas presenciais em 2020. Crianças de famílias com maior nível socioeconômico tiveram prejuízos equivalentes a quatro meses de aprendizagem. Já as de nível socioeconômico mais baixo, perderam seis meses.


O impacto da suspensão das aulas em crianças pequenas há meses é alertado por educadores. Com menor domínio e autonomia para usar as tecnologias, essa faixa etária foi uma das que tiveram maior dificuldade para acompanhar as aulas remotas. Os prejuízos mais acentuados para as mais pobres, sem acesso à internet e com menor apoio de adultos, também já eram uma preocupação manifestada.

Publicidade


Para entender o efeito da pandemia e do isolamento social no aprendizado das crianças de diferentes grupos sociais, pesquisadores da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) fizeram uma ampla comparação entre um grupo de alunos que cursou o segundo ano da pré-escola em 2019 e outro que estava na mesma etapa em 2020.


O resultado é um dos primeiros estudos documentados no país sobre o impacto na educação infantil.

Publicidade

Para chegar às conclusões, eles aplicaram testes individuais em 671 crianças de 21 escolas do Rio. Elas participaram dos testes em dois momentos, que permitiram medir o desenvolvimento ao longo dos respectivos anos letivos.


Além das informações sobre o desenvolvimento infantil, questionários contextuais foram respondidos pelos responsáveis e professores.

Publicidade


Os testes sugerem que as crianças que vivenciaram o segundo ano da pré-escola em 2020 aprenderam apenas 66% em linguagem e 64% em matemática na comparação com o aprendizado dos alunos em 2019.


Por exemplo, em 2019, 76,7% das crianças ao final do segundo ano da pré-escola eram capazes de identificar onde a escrita começa em um livro e ler/identificar palavras simples, como "casa" ou "bola". Em 2020, em contraste, apenas 59,7% tinham desenvolvido essas habilidades.

Publicidade


Em 2019, 60% das crianças foram capazes de identificar 18 letras do alfabeto. Em 2020, apenas 45% fizeram o mesmo.


Em matemática, antes, 60% dos alunos conseguiam identificar números de dois dígitos. O percentual caiu para 50% ao fim de 2020.

Publicidade


"Em 2019, antes da pandemia, estávamos fazendo um acompanhamento longitudinal de alunos da educação infantil para entender o impacto de fatores escolares e extraescolares no desenvolvimento da criança. Com a interrupção prolongada das aulas presenciais em 2020, a gente teve a oportunidade de estimar o impacto da pandemia na aprendizagem", diz Tiago Bartholo, pesquisador do Lapope (Laboratório de Pesquisa em Oportunidades Educacionais) e um dos coordenadores do estudo.


A pesquisa procurou identificar também o impacto na aptidão física e na habilidade motora das crianças. Para isso, foi aplicado o TSL (Teste de Sentar e Levantar), que mede a capacidade de as crianças realizarem esses movimentos com o menor número possível de apoios e sem apresentar desequilíbrio.


Nesse teste são medidos quatro componentes não-aeróbicos de aptidão física: força, equilíbrio, composição corporal (relação de massa muscular e gordura) e flexibilidade.


Na análise de 2019, com uma rotina escolar regular, as crianças melhoravam ao longo do ano, ou seja, com o passar do tempo, mais alunos conseguiam executar os movimentos com poucos apoios. Em 2020, porém, os pesquisadores identificaram que o desenvolvimento foi prejudicado. Houve um aumento de 14% de crianças que passaram a não conseguir mais sentar ou levantar sem apoio ou sem se desequilibrar.


"Pelo questionário respondido pelas famílias, fica evidente que houve uma grande mudança na rotina das crianças durante a pandemia e isso afetou o desenvolvimento físico. Elas passaram mais tempo na frente de telas e diminuíram as atividades físicas e o tempo que passam ao ar livre", diz Mariane Koslinski, coordenadora da pesquisa.


Pelas respostas dos pais, os estudiosos identificaram que as crianças dormiram menos que o recomendado e passaram tempo demais com tablets, celulares, TVs e outras telas.


Só 4% dos pais responderam que os filhos só ficavam até uma hora na frente de telas -o que é recomendado pela OMS para essa faixa etária. Apenas 10% das crianças dormiram mais de dez horas por dia, outra recomendação para essa idade.


"A pandemia tirou das crianças não apenas a rotina que tinham na escola, mas alterou também hábitos de saúde, que mantinham em casa. Por isso, é importante um esforço para recuperarmos essas perdas", diz Koslinski.


Os pesquisadores destacam ainda que as estimativas calcularam apenas as perdas de aprendizagem com a interrupção das aulas em 2020. Considerando que a maioria das escolas não funcionou regularmente todos os meses de 2021, os prejuízos acumulados devem ser ainda maiores.


Ariel, 5, está no pré da Escola Maternal e Infantil A Hebraica, em Pinheiros, na zona oeste da capital paulista. Em 2020, suas aulas foram mantidas de forma online até outubro, conta a mãe, a nutricionista Vanessa Dorfman Presch, 40.


De outubro a dezembro, o menino passou a frequentar a escola quatro vezes na semana, mas permanecia apenas por uma hora por dia. Já de fevereiro a junho de 2021, a carga horária nos quatro dias presenciais subiu. Vai das 7h40 às 12h15. Nesse meses, a aula online ocorreu somente uma vez na semana. O ensino totalmente presencial foi retomado em agosto.


"A aula online para o Ariel representou uma importância somente social, para ver os amigos. Pouco queria fazer a parte de conteúdo, até porque a aula online tinha cerca de meia hora. Percebi um regresso na aprendizagem", conta Presch.


Em casa, os pais começaram a estimular Ariel. "Ele tem uma irmã de 12 anos. Via as letras e queria entender. Perguntou como escrevia o nome, o que ele aprendeu em alguns meses. Depois, passou a escrever o nome dos familiares", lembra.


Presch e o marido acreditam que o aprendizado será recuperado, mas não de imediato. Eles optaram que o filho frequentasse novamente o infantil 2, como é chamado o nível dele na instituição. A decisão, contam, foi tomada para que o garoto acompanhe com tranquilidade futuramente o ensino fundamental.

Publicidade

Últimas notícias

Publicidade
LONDRINA Previsão do Tempo