Mas, mesmo com a perspectiva de volta de eventos sociais e do trabalho presencial, pequenos empresários apostam que o estilo "comfy" deve se manter no pós-pandemia.
O crescimento foi impulsionado por lançamentos, desde abril do ano passado, de produtos como o kit com blusa e short feito em malha de linho, um tecido macio, pensado para quem quer se sentir bem em casa sem ter que vestir pijama, afirma Gabriella Falzetta Rizzo, 31, sócia da marca ao lado de duas irmãs.
As empreendedoras também criaram conjuntos de moletom, que em maio do ano passado estavam disponíveis em cinco cores. Em abril de 2021, já eram 24 tonalidades em dois novos modelos. A paleta diversificada é uma característica da marca que atendeu uma demanda de clientes, diz Gabriela.
"Antes da pandemia, parecia que você tinha de optar por conforto ou beleza. A pessoa até usava um sapato desconfortável por algumas horas, porque achava que tudo bem. Depois de ficar em casa, consumidores aprenderam que essas duas coisas conseguem andar juntas", afirma.
As próprias irmãs fazem os pilotos das peças e as testam -modelos que incomodam durante o movimento, por exemplo, são reformulados. Agora, com a proximidade do verão, a marca está lançando biquínis feitos de neoprene texturizado, que também priorizam o conforto.
"Somos uma marca de sportwear e acreditamos que esse movimento de peças que podem ser usadas para treinar, ir ao trabalho e montar um look para sair será cada vez mais forte", afirma
Gabriela.
Coordenadora da pós-graduação em Negócios e Marketing de Luxo na ESPM, Katherine Sresnewsky diz que produtos de "comfort wear" estão mais criativos e ganharam novas modelagens e cores.
Mas, com a chegada de mais empresas a esse segmento, ela lembra que empreendedores terão de criar estratégias para se diferenciar. "Todo mundo está indo para o 'comfort wear', o desafio é pensar nesse ecossistema. Você vai vender o básico com conforto. Mas o que você agrega com a marca? Qual é seu propósito?", diz Sresnewsky, que também é dona da consultoria N.evsky.
Em março de 2020 a empresária Veronica Pereira, 29, lançou a Bass com quatro peças vendidas só em lojas físicas de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul. O conceito, desenvolvido no semestre anterior, foi pensando para atender uma mulher que prioriza o bem-estar e precisa de peças versáteis para o dia a dia, mas quer estar arrumada, diz Veronica.
O alinhamento com as necessidades trazidas pela pandemia, diz a empresária, garantiu um bom desempenho de vendas -a marca dobrou de faturamento de 2020 para 2021 e, com isso, ganhou um ecommerce no fim de janeiro.
"Há uma revisão da noção de elegância e de ideais de beleza. Trazemos isso com tecido de qualidade, sem usar babados ou brilhos. E com uma modelagem mais ampla, que consegue se adaptar a diferentes corpos", diz a empresária.
Na retomada, Veronica acredita que as clientes devem levar as roupas confortáveis para o escritório e outras situações, além de momentos de lazer e finais de semana.
Para Anny Tonet, coordenadora nacional do setor de moda no Sebrae, a pandemia trouxe uma quebra de padrão e mudou a mentalidade do consumidor, que percebeu que consegue manter sua imagem pessoal vestindo coisas básicas e confortáveis. "Estar em um escritório ou coworking não muda esse comportamento, porque ele consegue encontrar no conforto uma forma de se expressar."
"Há uma revisão da noção de elegância e de ideais de beleza. Trazemos isso com tecido de qualidade, sem usar babados ou brilhos. E com uma modelagem mais ampla, que consegue se adaptar a diferentes corpos", diz a empresária.
Segundo ela, esse movimento vai ao encontro de pautas discutidas dentro do universo da moda antes da pandemia, como o debate sobre padrões de beleza, diversidade e consumo sustentável -sem a necessidade do lançamento incessante de coleções.
Com a quarentena, a marca de sapatos feitos à mão A Mafalda, em São Paulo, ampliou as opções de peças confortáveis, com materiais mais macios, aberturas na parte traseira para facilitar o uso e praticamente sem saltos, explica Maria Fernanda Sodré, dona.
"Sempre tivemos modelos mais despojados, um chinelo arrumado para sair ou uma sandália baixinha em cor dourada. Mas às vezes o cliente tinha mais dificuldade em aceitar isso. Agora, é uma necessidade", diz Maria Fernanda.
A empresária conta que o último mês de dezembro foi o melhor da história da marca, aberta em 2008, e que este semestre já supera em vendas o mesmo período de 2019.
Para o futuro, ela espera um comportamento mesclado da clientela, com um público que não vai voltar aos hábitos anteriores e outras consumidoras que já estão pedindo mais opções de salto. "Essa moda confortável vai durar para algumas pessoas. Mas existem outras que só estão esperando uma oportunidade para sair de casa e usar algo novo."