Para quem pode cumprir o distanciamento social e passou a trabalhar em casa durante a pandemia, notou que houve mudança de hábitos. E em alguns casos, essas transformações causaram dores nas costas.
Divulgado em maio, o estudo "ConVid "" Pesquisa de Comportamento" mostrou que metade das pessoas com algum problema crônico de coluna relatou aumento da dor. Já entre as que não tinham problemas de coluna antes da pandemia, mais de 40% passaram a sentir dores. A pesquisa contou com 44.062 participantes e foi realizada pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), com a UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e a Unicamp (Universidade de Campinas).
Leandro Gregorut, ortopedista da Rede de Hospitais São Camilo, notou aumento de queixas de dores nas costas, nos ombros, nos cotovelos e nos joelhos.
Uma possível razão é a ausência de adaptação, em casa, do espaço de trabalho. O ortopedista orienta que a tela fique na altura dos olhos para evitar flexionar o pescoço, os cotovelos fiquem na altura dos teclados para não forçar ombros e coluna, e que a cadeira permita pés apoiados no chão. "Quando não há um sistema apropriado, as dores começam a aparecer."
A relação com familiares, o ambiente e o home office forçado também podem colaborar para o estresse.
Segundo Josimari Melo de Santana, fisioterapeuta e tesoureira da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor, além de afetar a produtividade, o estresse aumenta a tensão muscular, o que pode levar a espasmos e compressão de nervos. A tensão também pode ser gerada pela postura e falta de atividades físicas.
Segundo Santana, outra consequência da pandemia é a diminuição do movimento – o isolamento, ela explica, induz as pessoas a ficarem mais tempo paradas. "A posição sentada causa mais sobrecarga de peso sobre a coluna", diz. Por isso ela recomenda exercícios físicos regulares para se manter saudável e controlar a dor.
Os especialistas também orientam que o trabalhador faça intervalos a cada hora de expediente. "Isso ajuda a relaxar a musculatura e a evitar as dores no decorrer do dia", diz Gregorut.
Analgésico pode esconder a gravidade
Nem sempre as dores que surgem durante a pandemia são passageiras ou incomodam por pouco tempo. Segundo os especialistas, dor crônica é aquela que persiste por mais de três meses consecutivos.
A fisioterapeuta e tesoureira da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor, Josimari Melo de Santana, explica que, de forma geral, há vários fatores que agravam ou minimizam as dores, por isso os pacientes precisam ser acompanhados por diversos profissionais.
A fisioterapeuta conta que muitos pacientes procuram atendimento médico quando já atingiram a fase crônica do problema. No entanto, ela explica que, antes de a dor se tornar crônica, ela se manifesta de forma aguda e só depois acaba se prolongando.
Leandro Gregorut, ortopedista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, e Josimari Santana afirmam que a maneira mais comum de aliviar as dores é por meio de analgésicos. "Via de regra, ele [remédio] diminui o sintoma, mas não trata o problema que causa a dor", diz a fisioterapeuta.
Ela explica que, ao sentir dor por vários dias e tentar "mascarar" o sintoma com remédio, a pessoa pode agravar o problema.
Segundo a fisioterapeuta, pacientes com casos graves de dor na coluna podem ter a produtividade de trabalho ou estudo afetada, baixa energia e incapacidade de se mover. "O melhor remédio para diminui a chance de gravidade é se manter em movimento e fazer bastante atividade física", conclui Santana.