O termo cancelamento está em alta nas discussões em redes sociais, não somente com referência ao Big Brother. Mas o que, afinal, é isso? A socióloga Lina Ferreira explica que o termo pode ser entendido como uma reação coletiva ao posicionamento ou à ação de uma determinada pessoa, marca ou estabelecimento, a partir de um conjunto de concepções morais compartilhados por um grupo.
Este comportamento, entretanto, não é propriamente uma novidade. "Podemos traçar um paralelo com umas das formas mais extremas e violentas que conhecemos desse tipo de reação: o linchamento. Faço esse paralelo porque, de certo modo, este é o espírito que move os cancelamentos”, indica.
A socióloga estabelece, entretanto, algumas particularidades da prática nas redes sociais. "Além da ferramenta, eu diria que há outro elemento que caracteriza o cancelamento: os temas acionados pelo coletivo reativo”, aponta. Ferreira observa que a prática tem sido aplicada nas plataformas da internet, em geral, para defender as questões conhecidas como pautas identitárias.
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O método, porém, segundo Ferreira, não convida ao diálogo sobre essas questões e é pouco democrático. "Ainda que o ambiente virtual seja palco para boa parte do desenvolvimento do cancelamento, tanto a motivação, quanto algumas consequências, podem extrapolar a virtualidade”, explica, citando os relatos de ameaças físicas ao ‘cancelado’ e à sua família ou pessoas próximas. "Por isso, é importante discutirmos sobre o quão justas são as formas de punição promovidas pelo cancelamento”, afirma.
Para o psicólogo clínico Sylvio Schreiner, o cancelamento pode ser entendido de diferentes maneiras. "Eu não vejo como valores absolutos. Cada caso é um caso e tem que ser avaliado de forma diferente. Tem pessoas que falam bobagem mesmo e elas precisam, vamos dizer assim, ser canceladas”, diz.
Schreiner cita como exemplo o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que teve sua conta no Twitter banida após utilizar a plataforma para convidar seus apoiadores a invadirem o Capitólio, sede do Congresso norte-americano. "Aquilo que é falado, pode ter repercussões como influências negativas, incitar violência, incitar preconceito, levar à ignorância e estabelecer a ignorância. Então, de fato, é perigoso quando qualquer um pode falar o que quiser, parecendo que é uma autoridade no assunto”, aponta.
Quando não se trata de casos extremos, o psicólogo indica que a prática pode se tornar nociva. "Quando o cancelamento é mais um ataque do que propriamente um convite à reflexão, aí é perigoso. Porque nós podemos acabar fazendo a mesma coisa que essas pessoas que falam bobagem”, explica.
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(Parte 1): BBB 21 escancara disfunções ocultas que demandam soluções urgentes
(Parte 2): Em meio às lutas anti-opressão, militantes também incorrem em erros
(Parte 4): Desprezo e afastamento, o cancelamento ‘à moda antiga’
*Sob supervisão de Fernanda Circhia e Luís Fernando Wiltemburg