Oito em cada dez pessoas com deficiência (85,9%) acessariam conteúdos culturais com mais frequência se fosse mais fácil e acessível navegar por sites sobre o assunto. Isso é o que apontou uma pesquisa de opinião sobre o acesso à arte e à cultura no ambiente digital feita pelo CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil). A pesquisa foi apresentada nesta segunda-feira (14) no seminário online Encontros CCBB sobre Acessibilidade Digital.
"Temos 86% das pessoas dizendo que, se fosse mais fácil navegar, com os recursos que são necessários para essa pessoa poder interagir, com certeza ela consumiria mais. E leia-se, por consumir, o consumo de informação, de experiência, de produto”, disse Simone Freire, idealizadora do Movimento Web para Todos, durante o seminário.
A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, de 2005, tornou obrigatória a acessibilidade nos sites da internet do Brasil. Entre esses recursos que devem ser utilizados estão, por exemplo, a presença de janela com intérprete de Libras e audiodescrição. A Lei da Inclusão também estabelece que a pessoa com deficiência tem direito à cultura e que programas de televisão, cinema, teatro e outras atividades culturais e desportivas devem possuir formato acessível.
Leia mais:
PF fará reconstituição das explosões na praça dos Três Poderes e Câmara dos Deputados
PEC 6x1 ainda não foi debatida no núcleo do governo, afirma ministro
PEC que propõe fim da escala de trabalho 6x1 alcança número necessário de assinaturas, diz Hilton
Falta de Ozempic em farmácias leva pacientes à busca por alternativas
Mas, na prática, nem todo conteúdo cultural é acessível. E isso tem sido observado também quando se pensa na disponibilização de conteúdos culturais pela internet. Apesar de ser crescente o interesse da população com deficiência a conteúdos culturais na internet, muitos sites, aplicativos e portais ainda não são acessíveis. Ou não estão suficientemente acessíveis, atendendo a apenas uma parcela das pessoas com deficiência.
"Muitos sites, inclusive ligados à produção cultural, podem ser acessíveis, mas para uma determinada deficiência. Por exemplo, há sites com descrição de imagem. Mas não tem, por exemplo, intérprete de Libras fazendo a tradução. A verdade é que são raríssimos os sites de produção cultural que estão adequados”, disse Simone Freire.
"De fato, isso é uma realidade. Muitos poucos espaços culturais investem em acessibilidade na web, seja para seus sites, seus aplicativos ou suas redes sociais”, concordou Viviane Sarraf, especialista em museologia e acessibilidade cultural, fundadora da Museus Acessíveis e criadora da Rede de Informação de Acessibilidade em Museus (Rinam).
O jornalista Fernando Campos, do canal Na Visão do Cego, conhece essas dificuldades e destaca um problema: as plataformas de streaming. "Consumo muito pouco filmes e séries porque as plataformas de streaming também são inacessíveis. Algumas já contam com audiodescrição, mas ainda é um conteúdo limitado. Está melhorando, mas ainda precisa avançar bastante”, disse ele.
A pesquisa
A pesquisa online do CCBB foi feita com 256 pessoas de todo o país, com diversos tipos de deficiência, entre os dias 28 de abril e 1º de junho. Desse total de pessoas entrevistadas, 88,3% disseram que costumam acessar conteúdos culturais por meio virtual, principalmente utilizando celular (61,6%).
Para 27% dessas pessoas, a navegação e acessibilidade desses sites culturais são ruins. Outros 8,6% consideram a navegação e o acesso a esses conteúdos péssimos. Apenas 5,5% consideram ótima a navegação por sites de conteúdo cultural.
Os sites que essas pessoas consideram mais fáceis de navegar são os de notícias. Essa foi a resposta de metade dos entrevistados (51,2%). Em seguida aparecem os sites de educação (16,8%), as lojas virtuais (12,1%), sites de bancos (6,3%), sites governamentais (5,5%) e sites de serviços de saúde (0,8%). "Isso não quer dizer que os sites de notícias estão acessíveis. Não existe site de notícias acessível no país, que abarque a maior parte das deficiências. Mas ele é mais fácil de navegar porque tem basicamente texto e imagem e, eventualmente, vídeos. O acesso à informação é muito simples, muito básico. Mas eles não são navegáveis pelo teclado, não tem descrição de imagem, não tem intérpretes de libras. Mas eles são os menos piores a se navegar”, explicou Simone.
A pesquisa mostrou ainda que, durante a pandemia do novo coronavírus, 72% dos entrevistados usaram a internet com mais frequência em busca de conteúdos culturais.