O sentimento de bem-estar do brasileiro, medido pelo "índice de infelicidade" -soma das taxas de inflação e de desemprego- atingiu no primeiro trimestre deste ano o pior patamar em cinco anos.
Nos três primeiros meses deste ano, quando o país passava pela segunda onda da pandemia do novo coronavírus, o índice atingiu 19,83%, mesmo nível desde o terceiro trimestre de 2016, quando o Brasil enfrentava uma recessão.
O levantamento, feito pelo economista Daniel Duque, do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas), também aponta que o Brasil aparece na segunda pior posição do ranking de infelicidade, atrás apenas da Turquia, com 26,28% (quanto mais alto, pior).
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O PIB (Produto Interno Bruto) tem crescido, mas houve uma grande perda de empregos na pandemia que ainda não foi recuperada, e isso está relativamente distante de acontecer, avalia Duque. "Já a inflação, em que pese estar ainda longe dos dois dígitos, também está bem distante da meta no momento."
Há quase um consenso entre os economistas que o resultado do PIB (Produto Interno Bruto), de crescimento de 1,2% no primeiro trimestre, foi mais forte do que o esperado, dadas as dificuldades de recuperação da economia em meio ao avanço da pandemia de Covid-19 no país.
O avanço da economia no primeiro trimestre zerou as perdas registradas com a pandemia, voltando ao patamar do quarto trimestre de 2019, mas ainda está 3,1% abaixo do ponto mais alto da atividade econômica do país, alcançado no primeiro trimestre de 2014, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e a recuperação ainda não é percebida pela maior parte da população.
A taxa de desemprego no país atingiu 14,7% no primeiro trimestre, recorde na série histórica do IBGE, iniciada em 2012. No caso dos preços, a pressão da energia elétrica fez a inflação acelerar em maio, pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor - Amplo), e o indicador subiu 0,83%. No acumulado de 12 meses, a alta foi de 8,06% (acima do teto, de 5,25% para este ano).
Duque complementa que a alta nos preços das commodities (os produtos básicos dos quais o Brasil depende em suas exportações) e a falta de apreciação cambial têm levado a um aumento significativo nos preços dos alimentos.
Além do país, o ranking de infelicidade inclui os membros da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Entre os 38 listados, as melhores posições ficaram com Japão (2,44%), Suíça (4,41%) e Eslovênia (4,77%).
Na medida do índice de infelicidade, pesam contra os brasileiros tanto os indicadores de desemprego e de inflação. No caso da inflação, o Brasil ficou na quinta posição entre os piores, atrás de Argentina, Turquia, Rússia e Arábia Saudita.
Quando se observam os dados de desemprego, o desempenho do país é ainda mais preocupante, ficando em segundo lugar com a maior taxa de desocupação, atrás apenas da Espanha.
Índice de "infelicidade" por país, pelos dados do trimestre em %
1º TURQUIA 26,3%
2º BRASIL 19,8%
3º ESPANHA 16,1%
4º COLÔMBIA 15,6%
5º GRÉCIA* 14,1%
6º CHILE 13,4%
7º ISLÂNDIA 11,6%
8º ITÁLIA 11,0%
9º SUÉCIA 10,7%
10º CANADÁ 9,8%
11º FINLÂNDIA 9,0%
12º FRANÇA 8,7%
13º MÉXICO 8,4%
14º ESLOVÁQUIA 8,3%
15º ESTADOS UNIDOS 8,1%
16º LUXEMBURGO 7,9%
17º LITUÂNIA 7,7%
18º LETÔNIA 7,6%
19º HUNGRIA 7,6%
20º ESTÔNIA 7,6%
21º PORTUGAL 7,2%
22º AUSTRÁLIA 7,1%
23º ÁUSTRIA 7,0%
24º NORUEGA* 6,8%
25º DINAMARCA 6,7%
26º NOVA ZELÂNDIA 6,2%
27º BÉLGICA 6,0%
28º ALEMANHA 5,9%
29º POLÔNIA 5,8%
30º REINO UNIDO 5,7%
31º IRLANDA 5,6%
32º COREIA DO SUL 5,5%
33º REPÚBLICA TCHECA 5,4%
34º HOLANDA 5,3%
35º ISRAEL 5,0%
36º ESLOVÊNIA 4,8%
37º SUÍÇA* 4,4%
38º JAPÃO 2,4%