O Ministério da Economia divulgou nesta segunda-feira (18) que fechou um acordo com a multinacional Amazon para oferecer aos usuários de serviços públicos "mais um canal de acesso a informações do governo federal".
Em seu perfil no Twitter, Salim Matar, secretário de Desestatização, Desinvestimento e Mercados da pasta, afirmou que agora "é possível perguntar à Alexa como tirar carteiras digitais ou acesso ao auxílio emergencial".
A publicação foi rapidamente ironizada e criticada por internautas no Twitter.
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Alexa é o sistema de inteligência artificial da Amazon. Ele pode ser usado de duas formas: por meio de um aplicativo gratuito baixado no celular ou por meio dos dispositivos Echo, pequenas caixas de som que recebem os comandos de usuários: tocam músicas, leem histórias, lembram de compromissos marcados na agenda, entre outros.
O aplicativo em smartphones tem cerca de 10 milhões de downloads na Play Store, loja de aplicativos do Android, que é o sistema operacional mais utilizado por usuários de baixa renda. Parte desses downloads vem de pessoas que já possuem o alto-falante em casa.
O dispositivo mais barato disponível no site da Amazon custa R$ 249 no Brasil. O auxílio emergencial do governo é de R$ 600 e, segundo projeção da IFI (Instituição Fiscal Independente), do Senado, 80 milhões de pessoas podem solicitar o recurso.
Em comunicado, o governo federal diz que "por meio do equipamento Alexa, dispositivo de voz baseado em nuvem, agora é possível saber, por exemplo, como tirar as carteiras digitais de trabalho e de trânsito, ou obter informações sobre o auxílio emergencial e sobre prevenção contra o novo coronavírus".
Reportagem da Folha deste domingo mostrou que, das classes D e E, 85% acessam a internet exclusivamente por meio do celular. Grande parcela usa a internet por meio de planos pré-pagos, que têm limite de dados.
O aplicativo da Alexa no celular exige mais memória do que outros apps populares, como WhastsApp, Instagram e Twitter. O tamanho do app da Alexa é de 263 MB, contra 10,13 MB, 38 MB e 89 MB dos outros aplicativos, respectivamente.
"Melhorar acesso à informação sobre serviços públicos, a princípio, é fazer páginas web com informação completa, acessível, para diferentes tipos de pessoas; uma página web com acessibilidade é muito mais eficiente do que ter que baixar apps. Isso, mais ainda, se considerarmos que temos uma brecha digital no país", diz Joana Varon, fundadora da organização Coding Rights.
As pessoas mais pobres têm acesso a internet por meio de um celular com menos memória, ela ressalta, o que torna a ideia de baixar apps e rodar sistemas de inteligência artificial excludentes. "Para prover auxílio emergencial justamente às pessoas mais vulneráveis o governo fez o quê? Dois apps", diz.
As empresas internacionais de tecnologia têm firmado parcerias com órgãos públicos durante a pandemia do coronavírus.
A cooperação entre governo e a Amazon permitirá que a Alexa responda a perguntas como: "Alexa, existe um aplicativo do governo sobre coronavírus?"; "Alexa, como posso me inscrever no Cadastro Único?"; "Alexa, como solicitar o seguro desemprego?"; e "Alexa, como posso me inscrever no auxílio do coronavírus?".
Luis Felipe Monteiro, secretário de Governo Digital, do Ministério da Economia, afirma que a estratégia é "colocar o governo na palma da mão de todo brasileiro" e digitalizar todos os serviços públicos até 2022.
"Vamos pecar pelo excesso, de todas os assistentes, apps de mensagens", afirmou.
A pasta, segundo ele, conversa com todos os fornecedores e a ideia é atingir diferentes públicos, sendo a Amazon apenas a primeira empresa parceira a ser anunciada. "É uma estratégia de abrangência, de cobrir todas as plataformas."
O sistema de inteligência da Amazon responderá com informações baseadas no portal gov.br para orientar os cidadãos.