Empresas de bem-estar corporativo que conseguiram se adaptar rapidamente ao mundo digital experimentaram um crescimento acelerado na pandemia, em razão da adoção forçada e prolongada do home office.
Fundador da Yoga nas Empresas, o administrador Ricardo Carneiro, 40, sofreu um baque assim que a quarentena começou: muitos contratos foram suspensos e o faturamento caiu 60%.
Aos poucos, acordos foram retomados com a oferta de aulas de ioga online e novos foram conquistados. Hoje, o negócio já fatura 50% mais do que no período pré-pandemia.
"Os gestores perceberam que os colaboradores estão com nível de estresse alto, cuidando da casa, dos filhos e sem interação social. Sem falar nos infectados pela Covid, que precisam fazer exercícios respiratórios para recuperar a capacidade pulmonar", diz.
Há dois formatos de aula que podem ser contratados: o gravado e o ao vivo, com transmissão pelo Instagram. A rede Leroy Merlin, por exemplo, pediu à companhia uma agenda de lives semanais, aberta aos 10 mil funcionários.
"Pudemos alcançar não somente o colaborador, mas seus dependentes", conta Monique Lima, analista de benefícios da empresa.
Priorizar o mercado corporativo, segundo Ricardo, é vantajoso. Ele cobra R$ 280 pela sessão de 20 minutos e assina contratos mais longos, de até um ano. O preço é o mesmo para aulas remotas e presenciais –o formato online dispensa deslocamento até os clientes, mas requer investimento em tecnologia.
Fundada em 2019, a MindSelf, que oferece programas de meditação e mindfulness (atenção plena), também experimentou crescimento durante a pandemia.
Segundo os fundadores, Alexandre Ayres, 51, e Wagner Lima, 47, o número de contratos pulou de 5 para 20, e o faturamento chegou a R$ 1 milhão, um aumento de 400%.
A agilidade da migração para o digital, eles dizem, foi fundamental. Palestras sobre os benefícios da meditação, workshops para lideranças e sessões de diferentes técnicas meditativas passaram a ser transmitidas em lives.
A dupla também acaba de lançar um aplicativo com sessões guiadas de meditação, cujo acesso é permitido apenas aos funcionários das empresas clientes.
"É um hábito que melhora a concentração, estimula a criatividade, aprimora o processo de tomada de decisão e, consequentemente, gera reflexos nos resultados da empresa", diz Alexandre Ayres.
O grande desafio para negócios do ramo é falar a mesma língua do mercado corporativo, de acordo com a consultora de marketing do Sebrae-SP Caroline Minucci.
"Muitos deles quebraram porque não conseguiram se adequar ao universo online e continuaram apegados ao contato olho no olho. É um setor que exige objetividade e agilidade", afirma.