Há dois pregões, o dólar está abaixo da barreira psicológica de R$ 5 que sustentou por pouco mais de um ano até então. Segundo analistas, porém, a cotação não deve se manter neste patamar por muito tempo, dado que o cenário ainda é de incertezas, que devem se ampliar com a aproximação das eleições de 2022.
Desta forma, há uma janela de oportunidade de compra da moeda americana para viagem, investimentos e envio ao exterior.
O dólar encerrou o pregão de quarta (23) em queda marginal de 0,04%, a R$ 4,9640. O dólar turismo está a R$ 5,130.
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Segundo o ministro da Economia, Paulo Guedes, a moeda deverá cair "bem mais".
Desde a máxima do ano, de R$ 5,79 em 9 de março, o dólar acumula queda de 14,3%. Em junho, o real é a segunda moeda no mundo que mais se valoriza ante o dólar, atrás apenas da rúpia de Seicheles, segundo dados da Bloomberg.
"O brasileiro deve aproveitar esse momento de baixa, de forma parcimoniosa, pois o dólar ainda pode continuar caindo este ano, mas ano que vem pode refletir as eleições", diz Alexandre Liuzzi, co-fundador da Remessa Online.
Ele diz que não se deve tentar acertar o momento certo de comprar dólar, já que a cotação é muito volátil. "Se a necessidade é urgente, faça a transação logo, mas o ideal é dividir operações de modo a diluir o risco cambial".
Segundo Liuzzi, o volume de remessas da empresa aumentou bastante com a recente queda do dólar. Houve um crescimento de 22,21% no total movimentando na terça (22), quando a moeda fechou abaixo de R$ 5 pela primeira vez em pouco mais de um ano, contra uma semana antes, e um crescimento de 62,17% na comparação com 28 dias atrás.
A queda é fruto, entre outros motivos, de um ciclo de alta de juros e de uma postura do Banco Central de maior compromisso no combate à inflação.
Na quarta, foi divulgada a ata da reunião de política monetária da autoridade, que, em meio à escalada persistente dos preços, considerou elevar ainda mais a taxa básica de juros na reunião da última quarta (16), mas decidiu manter o ritmo e anunciou alta de 0,75 ponto percentual, para 4,25% ao ano.
O documento também indicou que o BC deve levar a taxa básica até o nível considerado neutro, que não estimula nem contrai a economia. Nas reuniões passadas, a avaliação era que a atividade ainda precisava de estímulo e que esse ajuste seria parcial, ou seja, abaixo da taxa neutra.
Atualmente, a taxa de juros neutra gira em torno de 6,5%.
Economistas viram na ata um BC mais preocupado com a inflação e ampliaram suas projeção de taxa básica de juros (Selic) para o fim de 2021 para um patamar contracionista, que deve beneficiar ainda mais o real.
"O Copom usou a ata para ir além, indicando que estará pronto para acelerar ou intensificar a alta de juros ainda nesse ciclo, se preciso. Isso poderia ocorrer diante da disseminação mais ampla dessa alta de preços (especialmente conforme o setor de serviços retome a normalidade), e da desancoragem das expectativas para o ano que vem", diz Rachel Sá, chefe de economia da Rico.
O Credit Suisse elevou a 1 ponto percentual a expectativa de alta dos juros em agosto, ante 0,75 ponto do cenário anterior. O banco agora vê Selic de 7,25% ao fim de 2021 e de 2022.
O Bank of America também elevou a estimativa para 7%, de 6,50%, e o Banco Fibra aumentou de 6% para 6,5%, mas vislumbrando risco de o BC conduzir a Selic ao patamar contracionista ainda neste ano.
O Banco Fibra ainda fala em uma "janela de oportunidade" para o real de junho a agosto, após a qual o dólar ficaria em R$ 5,30 ao fim do ano.
O Société Générale também parece pouco convicto de que a queda do dólar continuará. Estrategistas do banco francês entraram com posição comprada em dólar quando a moeda tocou R$ 5,06 e miram os R$ 5,70.
Juros mais altos no Brasil tendem a beneficiar o real por estratégias de carry trade. Elas consistem na tomada de empréstimos em moeda de país de juro baixo (como o dólar) e compra de contratos futuros da divisa de juro
maior (como o real). O investidor, assim, ganha com a diferença de taxas.
Victor Beyrute, economista da Guide Investimentos, vê o dólar em torno de R$ 5 no momento, com a moeda terminando o ano entre R$ 5,10 e R$ 5,15, dado o risco eleitoral.
"Acredito que esses patamares mais baixos vieram para ficar por conta de uma melhora
de fundamentos. A gente viu a economia retomando o fôlego antes do esperado. O primeiro trimestre, que parecia ser perdido por conta da segunda onda, acabou sendo bem melhor do que o esperado", diz Beyrute.
Ele também vê uma recuperação mais forte da economia no segundo semestre com o avanço da vacinação no Brasil. "Temos previsões de mais de 5% para o PIB [Produto Interno Bruto] de 2021, enquanto no começo do ano estavam em torno de 3,5%".
De acordo com Beyrute, a crise hídrica, no entanto, pode impactar o cenário, fortalecendo a inflação e reduzindo a atividade econômica.
Outro ponto de atenção é a política econômica dos Estados Unidos, também ameaçada pela inflação. Por enquanto, o Fed (banco central americano) reforçou que irá manter o juro local próximo de zero e dar continuidade à injeção de liquidez no mercado, o que leva o dólar a perder força internacional.
A perspectiva de alta de juros nos EUA, por outro lado, foi antecipada para 2023, o que fortaleceria a divisa americana.
Além do carry trade, outro fator que tem beneficiado o real é a compra de ações brasileiras por estrangeiros, que acelerou neste ano. Até segunda (21), há uma entrada líquida de R$ 50 bilhões na Bolsa de Valores. Apenas em junho, são R$ 14,8 bilhões.
"Fundamentalmente, o dólar pode ficar abaixo de R$ 5, dada a balança comercial e fluxo de estrangeiro positivos. O problema são as incertezas em relação ao cenário fiscal e político do Brasil", afirma Jennie Li, estrategista da XP. O grupo vê o dólar a R$ 5,10 ao final deste ano e de 2022.
De acordo com Thomás Gibertoni, analista da Portofino Multi Family Office, o dólar não deve cair muito mais no curto prazo. "Grande parte da valorização do real já está nos preços e não há novo fato que faça com que a divisa brasileira ganhe maior força, [o dólar] deve continuar acima dos R$ 4,90 enquanto espera fatos novos."