A pandemia do coronavírus fez com que muitos noivos tivessem que adaptar a cerimônia, reduzir a lista de convidados e incluir os novos protocolos de segurança para evitar adiar a união tão aguardada. As grandes festas de casamento foram substituídas pelos chamados home wedding (casamento em casa), miniwedding (cerimônia com até cem pessoas) e microwedding (com até 30 participantes).
Quem estiver pensando em reunir entes queridos, ainda que em esquema reduzido, deve ficar atento às regras de seu estado ou município. É preciso observar, por exemplo, restrições quanto ao número de convidados e até horário de cerimônia. O Brasil chegou a 448.291 óbitos e a 16.046.501 pessoas infectadas pelo Sars-CoV-2 desde o início da pandemia, no ano passado, neste sábado (22).
Um das celebrações mais restrita é a realizada em casa, como a realizada pela professora Franciane Carvalho de Lima, 29, e o programador Leandro de Lima, 25. Eles são testemunhas de Jeová e contam que a ideia partiu do ancião da igreja que frequentam, uma espécie de conselheiro.
No casamento, realizado em abril do ano passado, além dos noivos, eram os pais e uma avó da noiva. Os demais convidados assistiram à cerimônia de forma virtual, com transmissão ao vivo. "Foi tudo feito em casa. Decorei tudo, consegui o vestido, quem me maquiou foi a minha madrinha", explica, "minha mãe arrumou o meu cabelo. Então foi tudo feito dentro do meu quarto", diz Franciane .
Cristiane Soares, designer floral e dona da empresa Cris Soares Assessoria e Cerimonial, explica que essa forma de evento geralmente conta com os noivos, pais e padrinhos reunidos em casa. "Podem acontecer na sala ou no quintal da casa."
Na avaliação de Erika Del Bon, da Inesquecível Assessoria e Organização de Eventos, essa forma de casamento pode ser "uma tendência que venha para ficar. É um formato bem íntimo e aconchegante". Soares concorda: "Os casamentos em casa são incríveis, extremamente emocionantes. Nós transformamos o ambiente e fica muito legal."
Ao recordar seu casamento, que teve plateia virtual, Franciane afirma que "não me senti menos noiva porque o meu casamento não foi presencial." "Foi um momento único", continua, "consegui chamar mais pessoas do que chamaria no casamento presencial". "Não podemos ser egoístas com a vida das outras pessoas. Se há esses métodos online porque não usar".
Os cuidados básicos do cotidiano no novo normal, claro, continuam: máscaras e álcool em gel são itens obrigatórios e é preciso respeitar o distanciamento social. Outra forma de cerimônia que já existia e foi adaptada para os tempos de pandemia foi o miniwedding, que pode ter até cem convidados e são restritos a lugares abertos ou espaçosos -seguem os mesmo protocolos de segurança e não há pista de dança.
"Hoje os noivos querem realmente aderir a esta tendência. Alguns noivos estão aderindo ao teste rápido [de Covid] na entrada do casamento", diz Igor Besserra, dono da empresa Wedding Show Assessoria em Eventos. É importante lembrar, contudo, que diante da chance de resultados falsos negativos, testar os convidados pode dar uma falsa sensação de segurança.
A analista de benefícios Aline Marco, 27, optou por realizar esse tipo de cerimônia para seu casamento com o redator Felipe Marco, 26, realizado em 7 de novembro de 2020. "Acompanhava bastante pesquisas científicas sobre a pandemia e não víamos que seria uma coisa rápida", explica. Para ela, o maior desafio foi escolher os convidados, pois a família de seu marido é muito grande.
"Diminuímos os parentes de longe para que as pessoas não viessem a São Paulo no meio da pandemia", explicou a analista sobre a escolha dos convidados. Ela diz que o casamento para cerca de 60 pessoas aconteceu em um buffet que começaram a pagar antes mesmo de estourar a crise sanitária e que a maioria das meses foi disposta no quintal, ao ar livre. Os convidados foram separados em núcleos familiares e todos usaram máscaras.
Igor Besserra afirma que a setorização de mesas por família é uma estratégia usada para manter unidas as pessoas que convivem no dia a dia. Além disso, ele conta que outra restrição para este tipo de casamento durante a pandemia é que "não terá a dança em si, a balada".
"Independente do número de convidados, os protocolos são sempre seguidos, utilização de máscara, distanciamento social e álcool em gel", reforça Cristiane Soares, designer floral e dona da empresa Cris Soares Assessoria e Cerimonial, ao destacar também o modelo de cerimônia microwedding, que permite até 30 convidados, no máximo.
"Esses eventos micro contam com o casal, pais, padrinhos e os amigos ou familiares bem próximos. Podem acontecer em casa, mas geralmente acontecem em hotéis ou restaurantes", diz Soares. Ela afirma que a tendência acontece na Europa e "já vem desde 2017, meados de 2018".
Erika Del Bon, da Inesquecível Assessoria e Organização de Eventos, complementa e explica que é um evento "bem compacto e com número bem reduzido de pessoas, entre 10 a 20 ou até 30 dependendo." Ela diz que nesses eventos "há muito mais conexão e intenção positiva de todos envolvidos, pois são as pessoas do convívio mais próximo do casal."
A psicóloga Bruna Assalim, 30, conta que ela e seu marido, o gerente Caique da Silva Queiroz, 29, se casaram no civil e, depois, optaram por realizar um microwedding -eles ofereceram um almoço para os nove convidados.
"Casamos no dia 13 de junho de 2020, e convidamos menos pessoas, por conta da pandemia. Fizemos um almoço com as pessoas que estavam presentes no dia e apenas isso", relembra a psicóloga. "Eu adorei, economizamos, ninguém ficou doente", diz Assalim.
Ideia semelhante teve a analista de marketing Ianka Saori Takara Uehara, 24, que se casou com Alessandro Uehara, 32, no início deste mês. Eles se casaram no civil e depois serviram um almoço em casa, com convidados mais próximos.
"Fiz questão de caprichar na decoração, no bolo e nas lembrancinhas para os convidados", conta. Ela diz que a lista de convidados se reduziu aos pais, padrinhos, irmãos e amigos muito próximos -para quem não pôde chamar, ela entregou lembrancinhas.
"Entendemos que apesar da pandemia, não podíamos deixar esse momento passar em branco. Fzemos, mas com uma quantidade bem menor de convidados, com aperto no coração", diz. "Faça, sim [seu casamento], mas mais reduzido, com consciência, respeito e consideração", aconselha Ianka.
Também tem se difundido o chamado elopement wedding, um casamento a dois, onde apenas o cerimonialista, os noivos e alguns profissionais, como o fotógrafo, estão presentes. A jogadora de futebol Cristiane Rozeira e a sua esposa, a advogada Ana Paula Garcia, realizam esse modelo de casamento.
"Tem uma mistura de 'destination' com elopement'. O casal vai para algum lugar, que faça muito sentido para eles, mas só o casal e, geralmente, um celebrante para fazer a cerimônia de casamento. Então eles se casam sozinhos", explica a especialista e designer Cristiane Soares.
A própria expressão já explica o conceito do evento. "Elope" significa fugir, em inglês, e "wedding" quer dizer casamento. "É uma coisa muito forte na Europa e na América do Norte. O Brasil se adequou mais a isso no começo da pandemia, mas aqui o pessoal é muito resistente para o elopement", completa Soares.
Apesar de todas as tendências que surgiram, os especialistas Cristiane Soares e Igor Besserra afirmam que a maioria dos eventos foi adiada. "Tenho noivas que estão adiando o casamento pela quarta ou quinta vez, porque idealizaram o evento presencial", diz a designer.
Já Besserra afirma que remarcou casamentos que seriam feitos em 2020 para os anos de 2022, 2023 e até mesmo 2024. Esse é o caso de Tamires Bet, 27, que optou por não realizar o casamento durante a pandemia. Ela conta que já havia adiado o evento duas vezes, já que iria acontecer inicialmente em 2019.
"Nossa família tem muitas pessoas do grupo de risco. No começo da pandemia não sabíamos nem o que era ou como seria esse vírus", comenta sobre a decisão do adiamento da cerimônia com o noivo, o engenheiro Renan Magyar Costa, 28.
"Sempre sonhei em me casar em igreja e tudo mais. Renan queria mais a festa", afirma Bet, que optou por morar com o noivo antes da cerimônia e não quis se casar no cartório. "Eu pensava: 'legal, vou casar, mas a minha avó não vai estar presente e não vai ter gente da minha família. Se for para casar por casar eu não quero'. Por isso optamos perder o dinheiro no cartório."
Para o futuro, Tamires Bet afirma que vai fazer a cerimônia, mesmo tendo que começar a organizar praticamente tudo de novo. "Agora, um ano depois, conseguimos ver que tem um norte, tem a vacina que está chegando", diz. "Não desista. Nem que seja uma reunião um pouco mais simples, mas não abra mão."
Cristiane Soares, designer floral e dona da empresa Cris Soares Assessoria e Cerimonial, comenta que vê muitas noivas que "nasceram para casar". "Se for para cancelar ou fazer de qualquer outra forma não vai ter sentido para elas, porque tem que ter o evento tradicional."
"Remarquem, porque tudo isso vai passar e está passando. Os eventos vão voltar, e eu tenho certeza que quando forem retomados vão ser ainda mais significativos, bonitos e emocionantes. Não deixem de sonhar, continuem sonhando! Adiem, mas não cancelem. Nem seus sonhos, nem seus casamentos", acrescenta Soares.