Muito além de um dia de dar flores e celebrar as mulheres, 8 de março tem raízes históricas mais profundas e sérias, relembrando as mortes de mulheres operárias pelas condições insalubres de trabalho. A data é uma oportunidade para reivindicar igualdade de gênero e os direitos das mulheres.
Incêndio em fábrica têxtil
Há muita controvérsia quanto ao surgimento do Dia Internacional das Mulheres. Uma das vertentes que se acredita é que a celebração seria uma homenagem à morte de 130 operárias carbonizadas em um incêndio em uma fábrica têxtil de Nova York em 1911. Contudo, até hoje não se sabe se a história é verdadeira.
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Existe, no entanto, outra história que remonta a uma tragédia que de fato aconteceu naquela cidade, em março de 1911. O incêndio na fábrica da Triangle Shirtwaist foi um grande desastre industrial que causou a morte de 129 mulheres e 23 homens. A empresa empregava cerca de 600 trabalhadores, em sua grande maioria mulheres de 13 a 23 anos imigrantes que trabalhavam 14 horas por dia, costurando vestuário por modestos salários entre os 6 e os 10 dólares por semana. Não é preciso dizer que os direitos trabalhistas eram praticamente inexistentes.
As instalações eram propícias para que o fogo tomasse conta do lugar: têxteis inflamáveis guardados em toda a fábrica, pessoas fumando em qualquer lugar, iluminação a gás e despreparo para esse tipo de emergência. Na tarde de 25 de março, o incêndio tomou a fábrica, mas as operárias do nono andar não receberam o alerta. Com as duas únicas saídas trancadas para que os funcionários não pudessem sair de lá durante o longo expediente, a situação estava fadada à tragédia. Trabalhadores foram consumidos pelas chamas, enquanto outros se atiravam do prédio na esperança de salvação.
O episódio causou comoção nacional e 100 mil pessoas compareceram ao funeral. O terreno em que funcionava a Triangle Shirtwaist Company hoje é a Universidade de Nova York. Muitos acreditam que o desastre foi o estopim para a criação do Dia Internacional da Mulher.
Linha do tempo
Ainda em Nova York, mas em 1909, 15 mil mulheres marcharam pelas ruas da cidade pedindo melhores condições de trabalho. Vale ressaltar que, à época, as mulheres possuíam ainda menos direito de expressão e a marcha foi um ato de bravura.
Paralelamente na Europa, crescia um movimento semelhante. Foi em 1910 que, segundo a socióloga e professora Eva Blay, foi proposta a criação do Dia Internacional das Mulheres pela militante Clara Zetkin em meio ao II Congresso Internacional de Mulheres Socialistas, em Copenhague, na Dinamarca. Para os historiadores, essa é a versão mais aceita do surgimento da celebração.
A proposição era fruto tanto do movimento feminista que ascendia na época quanto das correntes revolucionarias que a militante estava engajada. Sem determinar uma data, Zetkin propunha uma jornada anual de manifestações pela igualdade de direitos entre homens e mulheres. O primeiro dia oficial da mulher seria celebrado, então, em 19 de março de 1911.
Em meio à miséria do fim iminente da primeira guerra mundial, em 1917, mulheres russas entram em greve e saem às ruas para protestar contra a fome que a guerra agravou. A data foi um divisor de águas e antecipa a revolução Bolchevique que derrubou o czarismo na Rússia.
De uma maneira natural e gradativa, 8 de março foi se tornando o símbolo principal de homenagem às mulheres. O Dia Internacional só foi oficializado em 1975, quando a ONU (Organização das Nações Unidas) declarou o ano Internacional das Mulheres, como forma de combate às desigualdades e discriminação de gênero em todo mundo.
*Sob supervisão de Larissa Ayumi Sato.