O Brasil tem o título de campeão mundial de cesarianas realizadas por planos de saúde. Em 2008, as cesáreas representaram 85% dos partos feitos por meio dos convênios, segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). O porcentual é bem alto, considerando-se os 15% recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Esse alto índice registrado pelo setor de saúde suplementar acaba elevando o total de cesarianas realizadas no Brasil para 43%, considerando os setores público e privado. Se fosse levado em conta somente o percentual do sistema público de saúde, de 26%, o País estaria próximo ao que é recomendado pela OMS e aos níveis de países desenvolvidos, como Holanda (14%) e Estados Unidos (26%).
Epidemia entre as mulheres brancas, a cesárea alcançou até mesmo as índias, no Brasil. Embora o parto normal ainda seja predominante (87%) entre as índias, as cesarianas são cada vez mais frequentes, principalmente quando o nascimento ocorre num hospital. Nessa situação, corresponde a 22,1% dos nascimentos de índios nas Regiões Sul/Sudeste e 23,2% no Nordeste. No ano passado, de todos os partos realizados na rede pública, 34% foram por cesariana, neste grupo populacional.
Com um tempo de recuperação que varia de mulher para mulher, a cesariana dá um trabalho e tanto para o organismo. São muitas camadas de tecido para cicatrizar, do útero até a parede do abdômen. Essa cicatrização pode ocorrer muito bem, mas, em alguns casos, causa problemas. A cicatriz no útero vai ter efeito na próxima gravidez, quando pode ocorrer problemas como placenta prévia e deslocamento prematuro da placenta. "Existe também um outro tipo de problema que a mulher pode enfrentar. Ele não causa riscos, mas faz parte de uma questão estética e, diferentemente da cicatriz interna, tem solução", explica o cirurgião plástico Ruben Penteado, diretor do Centro de Medicina Integrada.
Depois do parto, a abertura feita pelo bisturi demora pelo menos quatro semanas para cicatrizar e um mês para se definir. "Na maioria das mulheres, a cicatriz fica imperceptível, no prazo de seis meses a um ano após o parto. Mas em algumas pacientes, dependendo da propensão do organismo, a cicatriz da cesárea pode inflamar e se tornar um quelóide ou uma cicatriz hipertrófica", explica o cirurgião plástico.
Na cesariana, o corte é feito em um local onde não há tensão muscular. Por esse motivo, a mulher só vai desenvolver o quelóide caso tenha disponibilidade genética ou algum outro fator que agrave a cicatriz. O quelóide é uma cicatrização exagerada e volumosa que pode acontecer em algumas partes do corpo como barriga, tórax, braços e lóbulos da orelha. Ruben Penteado explica que existem muitos estudos relacionados ao assunto. "As pesquisas começam a chegar à conclusão de que o quelóide pode ser um processo genético ou espontâneo. Já a cicatriz hipertrófica é apenas um engrossamento da cicatriz comum", explica o membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.
"O quelóide pode surgir espontaneamente ou após uma lesão tecidual decorrente de trauma ou infecção. Algumas vezes, um eventual fator desencadeante pode passar despercebido. É mais comumente observado na raça negra e nos orientais, embora também possa aparecer na raça branca", explica Penteado.
Como tratar o problema?
"A correção futura de uma cicatriz de cesariana muito raramente terá um impedimento clínico, mas é preciso aguardar alguns meses antes de indicar um tratamento cirúrgico, pois algumas cicatrizes hipertróficas são classificadas como queloideanas, mas com o tempo melhoram espontaneamente", conta o diretor do Centro de Medicina Integrada.
Uma outra opção para fazer a correção do problema estético é fazer a ressecção da cicatriz e, 48 horas depois, aplicar o processo de betaterapia, um tipo de radioterapia. "É importante ressaltar que não se deve corrigir qualquer cicatriz antes de seis meses de sua evolução, pois existe risco de ser desnecessário ou até piorar sua aparência nesta fase", destaca Ruben Penteado.
Outra possibilidade terapêutica para o incômodo é a infiltração de corticóide através de injeção, cremes ou fitas. Existem já alguns trabalhos que utilizam laser para retirar o quelóide. A massagem freqüente também pode trazer resultados. O número de mulheres que consegue acabar com a cicatriz da cesárea é de 60% a 70%, mas tudo depende da resposta do corpo ao tratamento, que pode não ser o retorno desejado, em 30% dos casos.
Cuidados extras
Depois da cirurgia, há cuidados a serem tomados com o local do problema. É importante não pegar sol, pois os raios solares estimulam a irritação da cicatriz. Também é preciso deixar o lugar da cirurgia em repouso, fazendo curativos com a fita micropore ou com silicone. Após quatro semanas, já é possível observar os resultados da cicatrização.
"Mesmo diante de todos os cuidados, é preciso esclarecer a paciente que uma cicatriz nunca desaparece, pois este é um fenômeno da natureza que caracteriza uma resposta a uma agressão no tecido da pele. Ocorre que algumas pessoas desenvolvem cicatrizes de tão boa qualidade que são pouco perceptíveis", conclui o cirurgião plástico.
Serviço:
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