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'Os meninos são a cura do machismo'

Livro explora maneiras de criar meninos feministas

Patrícia Campos Mello - Folhapress
29 nov 2021 às 11:27

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- Pixabay
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Quando a ativista feminista Nana Queiroz descobriu que estava grávida de um menino, quatro anos atrás, ela se sentiu incomodada. Sempre tinha imaginado que seria mãe de uma menina, com quem compartilharia a luta pelos direitos das mulheres. "Será que meu filho está destinado a ser um opressor?", ela se perguntou, na época.

Atormentada por essa ideia, Queiroz resolveu escrever o livro "Os meninos são a cura do machismo" (Ed. Record, 136 págs, R$ 44,90), que explora maneiras de se criar meninos feministas, e se baseia em uma pesquisa qualitativa com 600 homens sobre masculinidade e sexualidade.

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"Ninguém nasce machista. Se hoje uma pessoa é machista, é porque ela foi criada machista pelos pais ou pela sociedade", diz a escritora, uma das fundadoras da revista feminista AzMina.

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Segundo Queiroz, a criação dos meninos é violenta, e a iniciação sexual é um exemplo. Sua pesquisa mostra que, na média, os homens são expostos a pornografia aos 11 anos, e muitos deles são forçados a ter relações sexuais pela primeira vez em prostíbulos, levados pelos homens mais velhos da família.

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"Muitos confessam que não queriam e que a experiência foi traumática. Um menino de 12, 13 anos, coagido a transar com uma mulher de 30, isso é estupro de menor, é um crime que a gente normalizou", afirma.

Segundo a autora, isso explica, em parte, o comportamento violento masculino. "Essa criança vai entrar na vida adulta com uma noção clara sobre respeito, consentimento e o que deve ser o sexo? Não. A gente molda os meninos na violência e espera que eles não sejam violentos quando crescerem, não faz o menor sentido."

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Na obra, Queiroz questiona como os pais podem criar meninos de outra forma. "A educação feminista não se baseia em proibições, em proibir que os meninos brinquem de carrinho, proibir que eles façam 'coisas de menino'", afirma a escritora, que tenta aplicar esse aprendizado na criação de Jorge, o filho que estava na sua barriga, e hoje tem 3 anos.

"Uma educação feminista é dar para o meu filho a oportunidade de não ser como um menino 'deveria ser', e permitir que ele seja quem ele é, o Jorge". Ela espera que, ao criar os filhos homens em um ambiente de aceitação da individualidade, eles tenham mais possibilidades de serem homens menos violentos.

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A pesquisa feita para o livro mostra que, muitas vezes, os homens não estão confortáveis com o comportamento estereotípico que se espera deles. Homem não chora e não precisa de terapia? Oito em cada dez homens ouvidos para o livro disseram já ter sentido a necessidade de se consultar com um profissional de saúde mental ou já receberam essa recomendação de outros –mas, destes, só seis buscaram ajuda.

No grupo dos homens com mais de 45 anos, sete em cada dez nunca cuidaram da saúde mental –é uma geração para a qual a máxima do homem autossuficiente era mais forte, explica a autora. "E são também os homens dessa geração os que mais se perderam das lágrimas: 32% não tinham uma única pessoa no mundo com quem se sentiriam confortáveis para chorar."

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O clichê de que homens são insaciáveis na vida sexual tampouco se confirma. A pesquisa mostra que 66% dos homens gostariam de fazer sexo, no máximo, duas vezes por semana. A maioria, 45%, gostaria de transar uma ou duas vezes por semana. Queiroz entrevistou pouco mais de 600 homens, sendo 76,3% heterossexuais, 13,6% homossexuais, 8,1% bissexuais e 2% de outras categorias.

Entre os entrevistados, 26,4% tinham de 18 a 25 anos; 36,2%, de 26 a 35 anos; 17,9%, de 36 a 45 anos -ou seja, a grande maioria está em faixa etária de pico biológico de atividade sexual. Os questionários foram respondidos online ou presencialmente, mas de forma privada pelos homens, para que se sentissem mais à vontade.

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Outro achado interessante foi de que só 20% dos homens disseram nunca ter tido dificuldades de desempenho sexual, como ejaculação precoce ou disfunção erétil.

Entre os motivos para essas "falhas", foram mencionados consumo excessivo de pornografia, álcool, 

nervosismo ou o fato de, simplesmente, não estarem com vontade de ter relações sexuais naquele momento, mas não se sentirem livres para dizer não.

"É preciso falar mais sobre quem é o seu filho, e não sobre como são os meninos", diz a escritora. E se lembrar de que não existe cérebro "de menino" e "de menina", mas, sim, sociedades que insistem em preconceitos de gênero, afirma.

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