Família

Seu 'bebê' cresceu: como escolher a melhor escola

01 jan 2010 às 18:30

Tirar os filhos da ''escolinha'', onde entraram ainda bebês, para colocá-los as ''escolonas'', quando a obrigatoriedade do ingresso no 1º ano do ensino fundamental - agora aos 6 anos - bate à porta, deixa famílias preocupadas e cheias de dúvidas. Deixá-los onde estão até completarem 5 anos ou deslocá-los um ano antes para que tenham tempo de se adaptar aos novos espaços, métodos e amigos? Será que estão maduros para enfrentar esse desafio?

Para quem pensa em antecipar a mudança, a decisão tem de ser rápida. Logo após as férias de julho, as escolas começam a fazer as pré-reservas de matrículas para o ano seguinte. Pela nova lei, alunos com 6 anos devem cursar o 1º ano do fundamental.


Um termômetro de que a antecipação tem ocorrido desde que a legislação mudou é a elevada procura pelas classes do infantil (de 3 a 5 anos) de alunos migrados de escolinhas um ano antes de ingressar no fundamental. ''A procura tem sido grande. Os pais nos dizem preferir que os filhos passem um ano se familiarizando com a nova escola'', diz a orientadora pedagógica Beatriz Gallian.


A especialista em educação infantil Neide Noffs, diretora da Faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica (PUC/SP), defende outra saída. Para ela, é importante a criança fechar o ciclo na escolinha em que está até completar os 5 anos para recomeçar outro. ''Não necessariamente ela terá dificuldades de adaptação nas escolas grandes porque em um ano a criança amadurece muito emocionalmente. Antecipar não vai garantir o processo de maturação'', afirma.


Para o professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo Rubens Barbosa de Camargo, o que os pais têm de pesar no ano que antecede a entrada do filho no sistema formal são as propostas pedagógicas oferecidas e se as ''escolonas'' adequaram seus espaços físicos. ''Esses estabelecimentos precisam oferecer mais locais onde elas possam continuar brincando já que a infância não se encerra aos 5 anos. Essa transição tem de ser gostosa para que continuem a gostar de escola.''


A dor da partida também ajuda no amadurecimento


As amizades travadas na primeira infância podem dificultar a decisão dos pais para a mudança de escola. Afinal, como ver as crianças terem de ''abandonar'' os coleguinhas? A psicopedagoga Maria Cecília Castro Gasparian, doutora pela PUC, diz que as decisões dos pais não podem se pautar exclusivamente pelas amizades dos filhos. ''A dor da partida também faz parte do crescimento e auxilia no amadurecimento'', diz.


''É natural aparecer nas crianças o desejo de ir para onde irão os amigos. Mas elas não têm condições emocionais de decidir isso. Elas têm, isso sim, uma capacidade de adaptação incrível, formam novos vínculos rapidamente, caso os amigos sigam outros caminhos'', diz Regina Teles, orientadora pedagógica. ''Quem vai garantir que eles continuem amigos na nova escola? Essa decisão, de responsabilidade, cabe aos adultos, aos pais. Se a escolha coincidir com o desejo da criança, ótimo'', completa.


Uma nova etapa

Carolina Baldo do Nascimento Rodrigues, de 10 anos, termina nos próximos meses o 4º ano do ensino fundamental e revela que se sente triste por ter de deixar a escolinha onde estuda desde os seis meses de idade, em período integral. Em 2010 ela terá de enfrentar uma mudança de rotina importante, já que vai ingressar no 5º ano em um colégio com infra-estrutura maior, onde não conhece ninguém.


Na Escola Mundo Encantado praticamente todos os rostos são familiares. A garota é chamada de Carol, as professoras e as diretoras conhecem os pais dela pelo nome, e os alunos se habituaram a reconhecer uma das proprietárias da escola como vovó Tetê.


Um fator que está ajudando a menina nesse período de enfrentamento é compartilhar com os colegas de turma a ansiedade de mudar de escola, já que o estabelecimento educa crianças somente até a 4 série. ''Eu queria ir para a mesma escola de minhas amigas'', conta Carolina. No entanto, ela está ciente de que a mudança terá de ser vivida sozinha. ''Ninguém dos meus colegas vai estudar na escola para onde estou indo, mas estou feliz porque sei que farei novos amigos'', conta.


Para Daniela Cristina do Nascimento Rodrigues, a mãe de Carolina, a preocupação com a mudança da filha tem a ver com o clima de conforto e confiança construído ao longo dos anos e depositado nas pessoas que atuam na Mundo Encantado. ''A escola conhece a família dos alunos, e os pais sempre ficam sabendo o que acontece com as crianças'', conta. ''Ela está lá desde o berçário. Meu outro filho também estuda na escola'', acrescenta.


Como Daniela é funcionária da Prefeitura, terá direito a descontos na mensalidade da nova escola da filha. A ansiedade gerada pela mudança de escola está atingindo as duas, pois a rotina de carga horária escolar também será modificada. De período integral, Carolina vai passar a estudar somente em meio turno. ''Estou conversando com ela sobre as mudanças, mas na verdade só vou saber qual será o resultado de tudo isso quando começar o ano letivo na nova escola'', conta.


Despedidas

Em sala de aula, os professores do 4º ano da Escola Mundo Encantado são orientados a trabalhar coletivamente o tema 'mudança para outro colégio'. As crianças são motivadas a pensar sobre o lado bom da transição. ''Dizemos a eles que conhecerão novos amigos, e que durante a vida toda vão encontrar novas pessoas'', explica Patrícia Silva Moraes, uma das sócias da escola. ''Aos poucos os alunos estão se acostumando com a ideia da mudança. De vez em quando eles nos dizem que vão embora, que no próximo ano não estarão mais aqui, que sentirão saudades'', conta a outra proprietária da escola Terezinha Diório da Silva.


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