Captar a dor humana é algo que apenas o silêncio pode alcançar. No entanto, de acordo com a psicóloga Daniela Generoso, essa dor pode fugir das percepções humanas, principalmente quando uma criança é abusada. A sociedade de um modo geral precisa estar atenta, já que as crianças são extremamente vulneráveis a qualquer tentativa de maldade humana.
A psicóloga, que também é presidente da ONG (Organização Não Governamental) É Possível Sonhar, é importante ressaltar que as crianças sofrem como o adulto no conceito de dor. O que muda é a forma que percebemos isso. Há alguns indicadores psicológicos muito comuns, quando uma criança é violentada, inclusive as menores de três anos de idade.
As principais características, aponta Daniela, são os transtornos alimentares, a irritabilidade, as alterações no nível de atividade junto com condutas agressivas ou regressivas, uma compreensão precoce da sexualidade e atividades sexuais inadequadas. Além disso, há ainda a mentira como artifício frequente. A psicóloga afirma que há casos em que a criança mostra crueldade contra os outros e contra os animais, além de sentimentos profundos de tristeza e de desesperança.
Daniela afirma que algumas vítimas ainda desenvolvem transtorno de atenção, síndrome da acomodação e da vitimização. Algumas podem chegar a realizar jogos sexuais persistentes e inadequados com crianças da mesma idade, como também a insistente desconfiança das figuras significativas, mau relacionamento com seus pais e dificuldades em fazer amizades.
Esses sintomas isolados podem caracterizar muitas outras questões. Porém, para análise correta, a psicóloga pondera que é necessário correlacionar a observação clínica, os dados coletados em anamnese pelos pais, os testes psicológicos e a escuta ativa. "Na abordagem existencial humanista, não olhamos para criança como diagnóstico e, sim, como um ser que precisa ser visto e a sua alma tocada", diz Daniela.
Na opinião da especialista, a criança que é abusada seja por tortura psicológica, física ou sexual, tem sua infância roubada e sua alma dilacerada aos poucos. A profissional aponta que, entretanto, na maioria das vezes, elas conseguem se refazer de forma mais rápida que um adulto. Porém, quando crescem, acabam remoendo sua dor e seu algoz por diversas vezes pela lembrança de sua mágoa.
"É fundamental protegê-las de possíveis predadores. Pais precisam saber quem se aproxima de seus filhos, por onde andam. Esse cuidado é importantíssimo, pois a dor do abuso perdura por anos e anos e alguns, quando chegam na adolescência ou na fase adulta, chegam até a desenvolver pensamentos suicidas", aconselha a psicóloga.
Em todo caso de dúvida, se uma criança foi abusada ou não, procure um profissional de psicologia infantil ou converse com pediatra, porque através de testes psicológicos e a observação clínica é possível identificar.