A data de 15 de junho é o Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa. Foi instituída pelo ONU (Organização das Nações Unidas) e pela Rede Internacional de Prevenção à Violência à Pessoa Idosa em 2006. É um assunto importante a ser abordado neste momento já que, em razão da pandemia, do isolamento social e, em muitos casos, maior convivência dos indivíduos dentro de casa, houve aumento das denúncias de violência contra a pessoa idosa em muitas cidades, comenta Lindsey Nakakogue, geriatra, professora de Medicina da PUCPR (Pontifícia Universidade Católica) e Médica do Ambulatório de Alzheimer da Policlínica Municipal de Londrina.
"Conversar sobre o tema é uma forma de conscientização porque leva à tona um assunto importante muitas vezes banalizado. A definição mais universal adotada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) sobre violência a pessoa idosa é: 'prática de ações ou omissões cometidas uma ou mais vezes que prejudicam a integridade física e emocional da pessoa idosa, impedem seu desempenho social e quebram sua expectativa em relação às pessoas que a cercam, sobretudo filhos, cônjuges, parentes, cuidadores e comunidade'", explica a médica.
"Em outras palavras, a violência não é somente a ação de maus tratos, mas também negligência. Configuram-se situações de abandono, exploração financeira ou material, comunicação verbal ofensiva, falta de estrutura para um idoso ir e vir e até mesmo a violência auto infligida (tentativa ou ato de suicídio) para escapar de tais situações", diz.
"Sabemos que os tipos de violência que mais ocorrem são de abandono e negligência. E que nos casos de maus tratos geralmente são os próprios filhos os agressores. Muitos idosos passam anos sofrendo violência por serem dependentes financeiramente dos agressores e também por medo de represália. Eles são os mais vulneráveis, mais dependentes", aponta.
Estima-se uma população de 12 mil idosos em situação de vulnerabilidade em Londrina, seja por morarem sozinhos ou estão em situação de pobreza. O grupo corresponde a 20% dos 60 mil idosos que vivem no município.
A especialista aponta caminhos para reverter a situação. "A prevenção, a meu ver, começa na escola e na família, quando a criança é ensinada a respeitar o próximo. Na escola seria muito bom que as crianças aprendessem o que eu só aprendi na faculdade: como se dá o envelhecimento do corpo humano. Assim, seria mais fácil a convivência intergeracional. Conhecer o processo de envelhecimento, saber que é algo natural e que se tudo der certo vai acontecer a todos nós, leva a empatia", afirma.
"Além da escola e da família, a Unidade Básica de Saúde (posto de saúde) é outra estrutura importante na prevenção à violência porque consegue chegar até a casa de cada idoso, com seus agentes comunitários e equipe de saúde que avaliam se há risco de violência e em conjunto com o Centro de Referência Especializado de Assistência Social identifica problemas e, se for o caso, notifica ao Conselho Municipal do Idoso", pontua.
"Uma outra forma de prevenção é aquela que evita a recorrência. Acontece por exemplo quando o profissional de saúde que está no pronto atendimento, além de suturar um ferimento ou atender um trauma em um idoso, coleta informações sobre como aconteceram as lesões e notifica o serviço social da instituição para verificação. E assim ocorre também em ambulatórios como o de Alzheimer da Policlínica onde trabalho. Uma vez que se observa algum risco de violência, logo acionamos o serviço social, realizamos uma reunião familiar para esclarecer os fatos e notificamos os casos confirmados de violência".
A doutora alerta: "Cabe à sociedade também estar atenta. Você pode sim ser um vigilante na sua rua, ajudar um vizinho idoso. Denuncie se houver suspeita de violência de forma anônima através do Disque 100 ou pelos telefones CREAS 4: 3378-0405 e Conselho Municipal do Idoso 3375-0283".